Lua de Sangue

12 1 0
                                    


  Todos os tieflings, Succubus e as outras espécies desconhecidas para mim se reuniram do lado de fora do bordel, eu e Keno ficamos por ultimo, a porta estava bloqueada por muitos demônios amontoados para chegar logo ao lado e fora. Comecei a ir em direção a porta achando que era isso que Keno desejava, mas ao contrário disso ele me puxou pelo braço até  o canto mais distante do salão.

  — Você não devia ter feito aquilo. — Ele estava com raiva — Tem ideia da vergonha que eu passei?

  — Eu só queria me certificar de que você estava bem! — Agora quem estava com raiva era eu, não conseguia aceitar que ele ficasse bravo por eu querer ajudá-lo — Eu não fiz nada de errado!

  — Não grite comigo! De onde tirou aquele poder? Eu não a ensinei aquilo!

  — Poder? Do que você está falando? Eu só me abaixei para ver se estava bem e quase apanhei, se não fosse por outro demônio ter tirado ele de cima de mim eu teria apanhado no seu lugar !

  — Depois falamos sobre isso — Ele soltou meu braço — Preciso ir antes que perca a hora.

  Seguimos pela porta até o lado de fora e paramos ao redor de um poço que se encontrava no meio da vila, ao que parecia nenhum deles tinha medo de ser visto pelas pessoas da vila. Paramos todos amontoados para o ritual da lua, quando a nuvem que a cobria se desfez no céu revelando uma lua cheia e em um tom forte de vermelho todos deram as mãos formando uma grande rede emaranhada de braços. Keno havia se afastado de mim e eu já não o via mais, ao meu lado esquerdo estáva o poço e a minha direita um Tiefling da altura de Keno, cabelos loiros longos e vestia uma grande capa negra, ele olhou para mim e sorriu.

  — Você não vai conseguir ver aí em baixo — Ele soltou a mão da Tiefling ao seu lado e pousou as duas em minha cintura   — Segure nos meus ombros — Eu o fiz e então ele me levantou até que meus pés tocassem a beira do poço e então segurou em minha mão — As asas não ajudam muito quando não há espaço suficiente para bate-las, não é?

  — Sim... Obrigada — Ele sorriu.

  — De sua outra mão para ela —  Ele apontou para uma succubus sentada na beira do poço pouco a frente e eu obedeci.

  —  Dirigit virtutem, O admirabile luna, suos tutandos a morte liberat  — disseram todos ao mesmo tempo e repetiram várias vezes . Olhei em volta, todos estavam de olhos fechados e com o rosto voltado para cima, então resolvi tentar repetir a frase que todos diziam.

  — Dirigit virtutem, O admirabile luna, sous tutandos a morte liberat — Disse com todos os outros e no mesmo instante me arrependi.

  Ao terminar as palavras me vi em um lugar diferente,totalmente escuro como uma noite sem luar, eu estava em minha forma real, sem chifres , asas ou rabo. Vaguei no vazio escuro por um longo tempo até que algo acontecesse, de repente um demônio enorme apareceu, devia ter cerca de nove metros de altura, era diferente de todos que eu já havia visto , os olhos completamente negros, a pele de um branco acinzentado, garras enormes e dois pares de chifres, um saindo da lateral da cabeça e o outro curto saía do meio da testa.Ele usava apenas uma calça preta revelando grandes músculos e um peito cheio de cicatrizes, ele se curvou em minha direção e me segurou com uma das mãos, ela cobria meu corpo todo deixando apenas minhas pernas, braços e cabeça de fora, ele me ergueu para perto do rosto, eu me debati tentando escapar mas foi em vão .

  — Não tenha medo minha filha, sua hora está chegando, logo será uma de nós. — Depois de dizer isso ele me soltou no ar, mas desmaiei antes de tocar o chão.

 Acordei já dentro da carruagem, apoiada na parede de madeira, Keno dormia profundamente. Eu não entendia o que havia acontecido, quem era aquele demônio? Por que me chamara de filha? Aquilo realmente acontecera ou fora apenas resultado da bebida? De uma forma ou de outra aquilo me assustava.

  Fiquei ali sentada ouvindo os roncos altos de Keno e pensando naquela terrível noite. Aquele devia ser o pior lugar do mundo, mas mesmo entre todos os demônios existiam os generosos como o tiefling de cabelos loiros, mas mesmo assim era horrível e eu não podia entender como Keno gostava. 

  A frase dita pelo demônio gigante ecoava em minha mente, o que ele queria dizer com "uma de nós"? Será que era isso que acontecia aos aprendizes de Keno? Todos se tornavam demônios? Se fosse isso eu teria que fugir, não sabia como nem para onde ir, mas qualquer coisa seria melhor.

  De repente o ronco parou.

  — Você está bem? — Perguntou Keno ainda sonolento — Você está desmaiada a quase um dia.

  — O que?  Como assim?  

  — Você apagou durante o ritual, caiu de cima do poço e apagou — Ele se curvou em minha direção — O que aconteceu Agatha? Seja sincera.

  — Bem... — Tive medo de contar a ele e achar que eu era louca, mas eu não tinha muita escolha — Quando eu estava lá em cima, dei as mãos a uma succubus e um tieling, todos começaram a repetir palavras que eu não conhecia mas resolvi repetir para ninguém desconfiar — Ele me olhava fixamente — Quando eu terminei de dizer... 

  — O que aconteceu ? Fala! — Ele estava irritado com minha demora.

  — Eu... estava em outro lugar, não era mais o vilarejo, era escuro,e vazio... até que eu vi alguém, era um demônio muito maior que todos que já vi e tinha dois pares de chifres.

  — Zarco... — Ele cochichou. — O que ele disse?

  — Ele... ele me chamou de filha, e disse que eu seria uma de vocês.

  Keno deu  um soco barulhento na parede da carruagem que parou no mesmo instante com um relinche dos cavalos.

  — Agatha, — Ele colocou a mão em meu ombro — Aquele demônio era Zarco, ele é o rei dos demônios.

  

Onde HabitaOnde histórias criam vida. Descubra agora