Caminho

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  — Gostou senhora? — Perguntou o rapaz.

  — Eu não sei...

   Antes que ele dissesse qualquer coisa segui o caminho até meu quarto, não queria falar sobre minha nova forma,eu deveria estar odiando tudo aquilo mas a verdade era que eu estava começando a gostar. Entrei no quarto sem dizer nada,fiquei apenas esperando o servo que entrou logo depois.

  — Agora, me responda uma pergunta.

  — Claro, o que deseja saber? 

  —Quem é você? — Ele baixou a cabeça,parecia envergonha em me contar ou talvez com medo.

  — Eu sou... o Gato, apenas isso...

  — Como assim? Qual seu nome?  

  — Eu não tenho nome, o Amo me deixou assim, como gato desde pequeno. Cheguei aqui ainda bebê, um filhote de gato se vira melhor sozinho do que um humano. 

   — Que horrível  — Keno havia dito que ele era um pagamento, que tipo de família paga com o filho? — Você sabe quem são seus pais ? 

   — Bom, meu pai queria poder e por isso foi atrás do Amo, ele disse ao meu pai que lhe daria o que queria em troca de um servo, e... não ficaria bem para um rei servir a um demônio, ele não podia correr o risco do povo descobrir...

  — Você é filho do rei? — Ele confirmou com a cabeça — Que horror...

  — É mas não se preocupe comigo, o servo aqui sou eu... Precisa de alguma coisa? — Disse se dirigindo a entrada, só então percebi que em suas costas haviam grandes cicatrizes em várias direções.

   — Keno te maltrata?

   — Não senhora... isso não é nada — Ele saiu correndo do quarto, não acreditava que Keno podia ser tão cruel com um gatinho.

   Passei um bom tempo sentada sozinha,esperando a hora de nossa partida.Quando Keno entrou no quarto parecia muito apressado para nossa partida, ele nem falou comigo, apenas fez sinal para que eu o seguisse. Ao chegarmos na entrada da caverna vi uma carruagem inteiramente negra, com dois cavalos da mesma cor, sentado como cocheiro estava o gato, já era noite, o gato desceu e abriu a porta para que eu e Keno embarcassemos nela.  Assim que entramos Keno fechou as cortinas, a carruagem era simples, porém maior do que o normal uma vez que Keno era bem maior que uma pessoa e minhas asas ocupavam bastante espaço.

   — Está tudo bem? — Perguntou ele com um olhar preocupado, devia ter percebido que eu estava com medo.

  — Está sim — Respondi tentando sorrir, mas a verdade era totalmente o contrário.

  — Pois bem, — Keno se ajeitou no banco, mesmo a carruagem sendo grande seus chifres roçavam no teto. — Preciso ensina-la como deve se portar diante de meus irmãos.

  — Tudo bem. Posso te fazer uma pergunta? — Ele assentiu — Quantos demônios estarão lá ? São todos Succubus ou Tieflings?

   — Não, haverão diversos tipos de demônios, os Tieflings são os que chamo de irmãos, pois somos todos da mesma raça ou família; Os Succubus não costuma ser muito respeitados, principalmente as mulheres, por usarem da sedução pera conseguir oque querem. Em sua maioria Succubus vivem sozinhas e vizitam os humanos durante a noite,mas também existem aquelas que preferem viver juntas, cada noite um grupo sai para caçar e trás alguns homens para dividirem. Mas nesta festa haverão também outras raças, mestiços e demônios do mundo todo.

  — Você disse que as Succubus não são muito respeitadas... o que quis dizer com isso?

  — Bom, — Ele respirou fundo e prosseguiu— Cada raça tem sua função, os Tieflings  costumam ser uma espécie de nobresa, é claro que temos os nossos reis mas somos superiores às outras raças, os mestiços em geral são aprendizes, servos e tudo mais, já as Succubus tem a função de satisfazer os Tieflings, são uma espécie de prostitutas. Por esse motivo direi a todos que você é minha esposa, dessa forma ninguém será louco de mexer com você.

 — Está bem. —  Eu gostava de forma como ele queria me proteger, mas o medo dos outros demônios não passava.

  —  Que bom que concordou —  Disse se inclinando em  minha direção — Não gostaria de ver um de meus irmãos te maltratando. — Ele endireitou a coluna e me encarou — Agora vou ensiná-la a se comportar. Primeiramente, não sente desta forma. — Ele apontou para minhas pernas juntas. — Enquanto estivar comigo sente-se no meu colo e sempre com as perna cruzadas.

  — No seu colo? Mas isso ... — Não me sentia nem um pouco confortável com esse tipo de intimidade entre nós, ainda mais com outras pessoas por perto — Não seria vulgar?

  — Para uma Succubus? — Ele riu   — Você vai parecer uma santa entre elas.

  Continuamos conversando sobre meu comportamento por várias horas. Keno me disse que eu deveria ser ousada, não deveria recusar bebida , se alguém perguntasse eu devia dizer que nos conhecemos em uma de suas viagens, que eu era concubina de um rei Tiefling e que Keno havia me ganhado como prêmio em uma batalha. De alguma forma essa afirmação fazia com que Keno não passasse vergonha por estar casado, se pensassem que me ganhou em batalha. Ele também disse para evitar a conversa com outros demônios e aprendizes sem a presença dele.

  Após várias horas de viajem, Keno ordenou que o cocheiro parasse para descansarmos. Descemos em um lugar deserto, o chão era rochoso e não havia nenhuma planta ou animal vivos por perto, era um lugar silencioso e tranquilo, o sol já estava alto oque significava que devia ser meio-dia. Nós nos sentamos nas pedras, eu encostei a cabeça em seu ombro, estava muito cansada e quase dormindo.

  — Preciso ensina-la a voar — Disse baixinho .

  — Voar? — Pela primeira vez percebi o motivo para minas asas, é claro que elas serviam para isso mas eu não imaginava que precisaria aprender.

  — Sim, é normal que as Succubus voem pelo lugar para se exibir para os Tieflings . Vnha— Ele se levantou e me estendeu a mão para que eu o acompanhasse.

   Keno pediu que eu deixasse a coluna reta e tentasse mexer as asas, eu as movia de forma desajeitada, ele me orientou que tentasse junta-las nas costas e então abri-las até  a frente do corpo, depois da terceira tentativa ficou mais fácil , quando finalmente consegui fazer com precisão Keno disse para eu tentar fazer o movimento repetidamente enquanto dava um impulso com os pés, assim que dei o impulso meus pés saíram do chão e não voltaram mais. No começo a sensação era boa mas logo o medo tomou o lugar da alegria, olhei para baixo, eu estava duas vezes mais alta que os chifres de Keno e lá em baixo haviam várias rochas.

  — Acalme-se! Não pare de bater as asas! — Eu obedeci, tentei me acalmar e não pensar na altura — Agora incline o corpo para a frente, com se fosse deitar , deixe seu peso ir nessa direção!

  Meu corpo tremia de medo, inclinei-me para frente e a medida que me inclinava eu me locomovia voando. Várias horas depois, treinando sem parar, aprendi a me mover em todas as direções e comecei a gostar daquilo, eu me sentia tranquila, como se nada pudesse me atingir ali, e mesmo estando com Keno, eu me senti livre.



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