Capítulo 18

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Horas após a audiência, Alex estava sentada em seu apartamento, cercada pela escuridão. A única luz visível vinha das chamas azuis e laranja que crepitavam em sua lareira. A morena estava cercado por ela. Completamente envolvida por sua lembrança e seu fantasma.

Quando fechava os olhos, podia jurar que conseguia sentir seu perfume ou ouvir seu riso ecoar pelo corredor. Seu quarto havia se tornado um templo e era por isso que estava sentada diante do fogo.

Era incapaz de olhar para as grandes fotografias em preto e branco dela e de Piper. Especialmente para a que estava pendurada sobre a cama - A garota em todo o seu esplendor, deitada de bruços com as costas expostas, parcialmente envolvida em um lençol, erguendo os olhos para ela com adoração, seus cabelos desgrenhados pelo sexo e um sorriso doce e saciado nos lábios...

Cada um dos cômodos evocava lembranças dela - algumas felizes, outras agridoces, como um chocolate amargo. Ela se encaminhou à sala de jantar, se serviu de dois dedos do seu melhor uísque e o engoliu depressa, saboreando a sensação de ardência na garganta. Tentou desesperadamente não pensar nela parada diante de si, pressionando um dedo furioso em seu peito.

"Você deveria me amar, Alex. Deveria me apoiar quando decido defender aquilo em que acredito. Não era isso que queria que eu fizesse? Mas, em vez disso, você faz um acordo com eles e me abandona?"

Ao se lembrar da expressão traída nos olhos dela, Alex atirou seu copo vazio contra a parede, observando-o se partir e cair no chão. Cacos de cristal como pedaços de gelo assimétricos se espalharam pelo piso de madeira, reluzindo sob a luz do fogo.

Ela sabia o que precisava fazer; tinha apenas que criar coragem. Pegando a garrafa, seguiu com relutância em direção ao quarto. Mais dois goles depois, conseguiu jogar a mala em cima da cama. Não se deu o trabalho de dobrar as roupas. Mal se importou em levar as coisas mais básicos.

Quando terminou, colocou a fotografia emoldurada que havia em cima da sua cômoda na mala. Acariciando com ternura o rosto de sua amada, ela bebeu um pouco mais de uísque antes de cambalear até o escritório.

Ignorou a poltrona de veludo vermelha, pois, quando se virou para olhá-la, conseguiu vê-la, enroscada como uma gata, lendo um livro. Ela arrastaria o lábio inferior entre os dentes, suas lindas sobrancelhas franzidas, perdida em pensamentos. Teria alguém amado, adorado, venerado tanto uma mulher?

Ao pensar nisso, foi tomada por uma súbita inspiração.

Destrancou uma das gavetas da sua mesa. Aquela era a gaveta da memória. A ultrassonografia de Maia estava ali, junto com os poucos resquícios de sua infância: o relógio de bolso do seu avô, algumas joias que pertenciam à sua mãe, o diário dela e algumas fotografias antigas. Alex retirou uma fotografia e uma ilustração antes de trancar de novo a gaveta, guardando os objetos no bolso. Detendo-se apenas para abrir uma caixa de veludo preta e retirar um anel de lá, ela se encaminhou para a porta.

O ar frio de Toronto deixou-a sóbria enquanto caminhava com determinação rumo à sua sala na universidade. Torcia apenas para encontrar o que precisava.

O prédio do Departamento de Estudos Italianos estava às escuras. Quando acendeu as luzes da sua sala, foi invadido por recordações. Recordações da primeira vez em que Piper a visitara ali e ela havia sido de uma grosseria inominável. Recordações de quando a garota parara diante da sua porta depois daquela aula desastrosa, dizendo-lhe que não estava feliz. Dizendo-lhe que não queria Larry. Ela esfregou os olhos com a base das mãos, como se pudesse bloquear aquelas visões.

Guardou apenas os arquivos de que precisava e alguns livros antes de vasculhar as prateleiras. Pouco depois, encontrou o simples livro de professor e suspirou aliviada. Escreveu algumas palavras, acrescentou seus marcadores de página, então apagou a luz e trancou a porta.

O Julgamento de Alex Vause [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora