Capítulo 20

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Alex se debateu na cama antes de acordar sobressaltada. Puxou as cobertas com força, buscando como uma louca qualquer sinal dela. Mas não havia sinal algum.

Ela estava sozinha em um quarto de hotel escuro. Apagara as luzes antes de se recolher, o que foi seu primeiro erro. Esquecer-se de colocar a fotografia emoldurada sobre a mesa de cabeceira foi o segundo, pois ela servia de talismã contra a escuridão.

A morena girou as pernas de cima da cama e colocou os pés no chão, levando as mãos ao rosto. Suportar o processo de reabilitação todos aqueles anos tinha sido excruciante, mas não era nada se comparado à dor de perder Piper. Ela sofreria os pesadelos e as memórias que a assombravam com um sorriso no rosto se pudesse tê-la em seus braços todas as noites.

Enquanto olhava com desprezo para a garrafa de uísque pela metade, sentiu a escuridão se fechar ao seu redor. Sua busca desesperada havia depositado um peso muito grande sobre os seus ombros. Quando esse peso foi aliado a uma sensação esmagadora de perda, tornou-se quase impossível para ela manter um alto nível de desempenho sem a ajuda de algum tipo de "muleta". A cada dia que passava, as doses de bebida ficavam maiores.

A cada dia que passava, percebia que precisava fazer algo antes que se visse presa às suas velhas estratégias para lidar com os problemas e arruinasse seu futuro. Sabia que se não tomasse uma atitude, e rápido, teria uma recaída.

Agindo por impulso, deu dois telefonemas antes de juntar suas coisas e enfiá-las em uma mala. Então pediu para o recepcionista chamar um táxi para levá-la ao aeroporto. Não se deu o trabalho de garantir que sua aparência estivesse apresentável e profissional. Na verdade, não se deu o trabalho de sequer se olhar no espelho, pois sabia que sentiria repulsa diante da própria imagem.

Horas depois, chegou a Florença e se hospedou no Gallery Hotel Art. Embora tivesse avisado com pouca antecedência, persuadiu o gerente a lhe dar a mesma suíte em que ela e Piper haviam consumado seu relacionamento. Era ou isso, ou o programa de reabilitação, mas Vause estava convencida de que a conexão que possuía com ela seria muito mais redentora.

Ao entrar no quarto, quase esperou vê-la, ou pelo menos sinais dela. Um par de sapatos de salto alto cor de tangerina chutados para debaixo de uma mesa de centro. Um vestido de tafetá amontoado no chão perto de uma parede nua. Uma meia-calça preta com risca atrás jogada em cima de uma cama desfeita. Mas, naturalmente, não havia nada disso ali.

Depois de um sono mais ou menos revigorante e de uma ducha, Alex entrou em contato com seu velho amigo dottore Vitali na Galleria degli Uffizi e o encontrou para jantar. Eles falaram sobre a nova professora catedrática do programa de estudos em Dante de Harvard. Falaram sobre Stella e a morena ficou um tanto satisfeita em saber que, embora Carlin tivesse sido convocada para uma entrevista no campus e ela não, a palestra tinha sido considerada fraca pelo corpo docente de Harvard. O que já era um consolo, por menor que fosse.

No dia seguinte, Vause tentou se distrair dos seus problemas buscando atividades prazerosas: um café da manhã numa piazza; uma caminhada às margens do rio Arno; uma longa tarde no seu alfaiate, durante a qual encomendou um vestido sob medida; e cerca de uma hora procurando pelo par de sapatos perfeito para completar o elegante conjunto. O alfaiate brincou com ela, dizendo que o vestido era tão requintado que poderia se casar com ele. O alfaiate riu até Alex erguer a mão esquerda e lhe mostrar sua aliança.

- Sou recém-casada. - Explicou, para grande surpresa do alfaiate.

Por onde quer que andasse na cidade de Florença, ela era invadida por lembranças dela. Parado na Ponte Santa Trinità, guardava junto ao peito sentimentos ao mesmo tempo doces e amargos, sabendo que elas eram preferíveis a qualquer alternativa química.

O Julgamento de Alex Vause [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora