three

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– Estou começando a me assustar, hyung – pronunciei aquelas palavras ainda fitando o mapa ensanguentado sobre suas mãos pequenas.

Aquele cheiro metálico do sangue começava a me dar ânsia. Já Baek estava praticamente imóvel e atento ao que lia. A chuva já não era um problema para nós, não diante do outro que acabamos de arrumar.

Quando enfim Baekhyun parou de fitar aquele negócio, o que ele fez foi jogá-lo no chão, engolindo em seco logo em seguida. Vi os cabelos de seus braços descobertos de arrepiarem.

– O que iremos fazer agora? – perguntei, e então ele se virou para mim, com a mesma expressão vazia de quando o encontrei no balanço de sua casa.

– E quem sabe? – deu de ombros, e começou a andar pela trilha, agora inexistente, na floresta – De qualquer forma eu já iria morrer mesmo.

Franzi o cenho não acreditando no que acabei de ouvir. Joguei minha mochila no chão, e fui logo tirar satisfações com ele.

– Sério, Baekhyun? – perguntei, incrédulo – Você ia se matar por alguém que não está nem aí pra você? Alguém que lhe vê apenas como um amigo, e nada além disso? Há outras pessoas que se importam com você, mas você não enxerga, porque só sabe olhar para si mesmo e pra quele idiota do Sehun! – apontei o dedo em sua cara – Você deveria olhar ao seu redor e dar valor nas pessoas que realmente se importam com você, porque elas estão bem debaixo do seu nariz, mas você prefere não enxergar – dei as costas para ele e levei a mão no rosto enquanto a outra permanecia na cintura – Você não pensou na sua família, nos seus amigos... em mim? Eu não significo nada pra você? Junmyeon e Yixing que sempre cuidaram de você, como se você fosse seu próprio filho, talvez até mais que seus pais. Porque foram eles que te acolheu quando sua família te expulsou de casa depois de descobrirem que o filho é gay. Era assim que você iria agradecê-los, se matando? Como se o esforço deles fosse em vão. Porra Baek, eu achei que você fosse inteligente, quantas vezes vai ser preciso dizer a você, que suicídio não é a melhor opção?! – minha voz saía cada vez mais trêmula, formava um nó em minha garganta – Para de ser egoísta, para de achar que ninguém se importa com você, você não sabe o quanto é ruim olhar pra você e te ver deste jeito, por alguém que não merece nem uma lágrima sua! Tantas pessoas que te amam e você pensa em se matar por uma pessoa que só olha pro próprio umbigo? Você pode muito bem ser feliz com outra pessoa! Baek, não existe só ele no mundo, talvez quem te ama está bem debaixo do seu nariz e você não vê, você prefere dar amor há quem não irá retribuir. Há alguém que não te ama...

Me virei, totalmente zonzo e com os olhos cheios de lágrimas. Não sabia de onde havia tirado coragem para dizer tudo aquilo na cara de Baekhyun. Porque, por mais que pareça, não é nada fácil você falar uma coisa dessas ao seu amigo, mesmo querendo o bem dele. Exige muita coragem você falar sobre um assunto tão sério...

O suicídio.

Um passo – ou palavra – em falso, você estaria botando a vida dele em risco, mesmo que não fosse sua intenção.

Àquilo era, com toda certeza, inacreditável para mim. Eu que nunca tive uma conversar assim com meu amigo, eu que nunca tive coragem de dizer uma palavra relacionada em algum problema familiar ou amoroso dele.

Saber que pelo menos a coragem de falar tudo na cara de alguém que você ama, sem medo das circunstâncias, mas tomando muito cuidado com o que diz, é algo motivante, porque mostra que você só quer o bem da pessoa, isso depende de como ela irá interpretar e eu gostaria de que meu amigo entendesse que só quero o melhor para ele.

Isso resultaria em duas coisas; ou em ele refletir e ver que essa realmente não é a melhor opção, ou em mais um motivo para ele se matar.

Levar sermão de um amigo não é lá uma coisa muito legal, e muita gente sabe disso. Podem muito bem achar que seu amigo não tem moral pra te dar sermão, pra te repreender de algo que esteja fazer. Mas muitas das vezes, ele está certo, e você prefere acreditar que não. É assim que muitas amizades acabam, por orgulho; orgulho de admitir que está errado, orgulho de admitir que ele está certo.

Orgulho, um inimigo do ser humano.

Pingos de chuva começavam a cair de repente, molhando-me, mas eu não me importei. Assim como Baekhyun parecia não se importar.

Estava de cabeça baixa, chorava baixo enquanto parecia refletir o que eu disse minutos antes. Neste momento eu só espero que ele não entenda nada mal, e me compreenda. Porque eu não sei o que seria de nós dois cada um por si neste lugar. Eu não sei o que seria de nós dois cada um por si fora deste lugar...

Eu não sei o que seria de Chanyeol sem Baekhyun e Baekhyun sem Chanyeol. Sempre fomos amigos, e não me imagino longe desse baixinho birrento.

Ajoelhei-me no chão, e comecei a chorar.

Chorei tudo que tinha para chorar. Desde essa depressão, até este desabafo. Coloquei minhas mãos sobre minha face molhada pelas gotas de chuva e pelas lágrimas, não queria que ele me visse assim, não queria que ele visse as lágrimas se escorrendo sem parar pelo meu rosto. 

Só tive a certeza de que ele havia sim me compreendido, quando senti dois braços rodearem meu pescoço e algo escorar em minhas costas. Me abraçou por trás, e começou a chorar também, no mesmo ritmo que o meu, ou talvez até mais. Então seus soluços foram diminuindo, e quando enfim pararam, ele se afastou de minhas costas e continuou de joelho sobre as folhas. As gotas já aviam se cessado. Me virei para ele.

– Me desculpe – disse – Prometo que nunca irei fazer... de verdade. E também prometo que irei tentar voltar a ser o Baekhyun de antigamente, afinal você tem razão, não dá para ficar sofrendo por alguém que não está nem aí pra você.

Sorri e o abracei forte, transmitindo todo carinho que tenho pelo meu amigo, e ele retribuiu, me abraçando como nunca havia me abraçado antes. Nosso contato tinha sinceridade, era como se todo aquele sentimento fosse o mais sincero possível.

Baekhyun, com toda certeza, viu algo atrás de mim enquanto me abraçava, porque no mesmo instante ele me soltou e gritou as seguintes palavras:

– Chanyeol, abaixe-se!

Não fiz o que foi mandado, ao contrário, a minha única reação foi olhar para trás para ver o que havia ali. Mas antes que eu pudesse me virar completamente, fui puxado fortemente para baixo pelas mãos de meu amigo. Então meu coração foi a mil quando algo passou em uma velocidade voraz por cima de nossas cabeças.

Fiquei deitado no chão com as mãos sobre a cabeça, como se de alguma forma, isso fosse me proteger. Nem havia percebido que já havia minutos em que eu estava no chão, e de que meu amigo se levantara.

– Chanyeol, venha aqui! – gritou ele – Pode vir, já passou!

O olhei e perguntei "tem certeza?" e com sua confirmação, me levantei, um pouco hesitante, mas me levantei. Me aproximei da árvore em que ele estava parado na frente, observando ali, com mais da metade fincada nela, uma flecha negra, na qual no meio, havia escrito em letras miúdas:

um lugar no qual seus piores pesadelos tornam-se reais”

black forest

– Acho melhor nós sairmos logo daqui, Baekhyun. Não quero ter meu primeiro pesadelo pra saber – falei, ainda fitando a imagem, com medo.

– É, nem eu.

black forest | chanbaekOnde histórias criam vida. Descubra agora