04 - Grace

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Conto a Simone sobre minha ida a Nova York assim que acordamos no outro dia. Sei que faço isso para puni-la por estar transando com Tyson. E não me sinto mal por isso, para falar a verdade. Acho que estou virando uma vadia insensível.

- Você o quê?

Ela deixa a caneca cair e o café que acabei de preparar se espalha pela superfície da mesa.

- Hernando disse que o pessoal da Fendi gostou de mim e...

- Oh, meu Deus, Grace. - Ela se levanta bruscamente, se vira de costas para mim e finge procurar os guardanapos de papel que sabe estar no armário de baixo da pia. - Está acontecendo, não percebe?

- O que está acontecendo?

- Você. Sua carreira. É nesse momento que sabemos se nosso sonho vai realmente dar certo ou não. - Ela se vira para mim, os olhos azuis muito arregalados e as sobrancelhas grossas franzidas. - Preciso emagrecer.

- Simone...

- Grace, por que não me contou antes?

- Você estava triste pela fashion week. - Encolho os ombros, de repente me dando conta de como meu pensamento foi estúpido. Simone é minha melhor amiga. Hetero, eu sei. Ela preferir transar com homens não pode interferir na nossa amizade. - Não queria passar minha felicidade na sua cara.

- E quando você vai?

- Amanhã. No primeiro vôo. Hernando ainda vai ligar para acertar os horários e tudo. Não sei direito.

- Uau. - Ela suspira. - Você vai para Nova York!

- É. Eu vou.

Nos encaramos sem dizer nada por vários minutos até que Simone sai de repente com um sorriso no rosto dizendo que precisamos comemorar, e me deixa sozinha com uma mancha de café.
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Descubro o que ''comemorar'' significa para Simone por volta das dez da noite, quando as pessoas começaram a chegar enquanto eu finalizava meu esboço da capa da Harper's de Olivia Hendrix.

- O que é todas essas pessoas? - Pergunto a Simone quando um estranho passa pela porta do meu quarto em direção ao banheiro.

- Grace! - Ela ignora totalmente minha pergunta e me encara com aqueles olhos acusadores. - Você ainda está assim? Vai se arrumar!

- Me arrumar? - Só agora percebo que ela veste um vestido de paetê dourado tão colado que é como se eu a vesse nua. Com muita dificuldade volto meu olhar para seu rosto.

- Não vai ficar de pijama na sua própria festa. - Ela pega minha mão e me puxa para dentro do quarto, onde abre o armário e começa a tirar minhas roupas de lá. - Gosta desse?

- Festa? Que festa? - Ignoro o vestido que ela tem em mãos e ela me encara. - Simone, eu não conheço nenhuma dessas pessoas!

- Não importa. Você vai conhecê-las hoje. Anda. Escolhe. - Ela pega mais dois modelos de vestido e os estende na minha direção. - O verde ou o preto.

- O preto, tanto faz. - Aparo quando ela o joga na minha direção e o penduro no ombro. - Por que você está dando uma festa?

- Sua despedida! - Ela diz como se fosse a coisa mais natural do mundo.

- Oh, criatura. Eu vou despedir de quem sendo que eu não conheço essas pessoas?

- Ah, Grace. São só uns amigos de Ty que tavam de bobeira nessa linda noite de quinta. Relaxa.

Amigos de Ty. Ou seja, traficantes de metanfetamina.

- Tudo bem. - Digo depois de muita relutância.

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