10 - Grace

1.2K 109 16
                                    

Eu estava tomando meu café da manhã em uma mesa solitária do restaurante do Waldorf Astoria quando recebo um email de Jacob informando o endereço dos meus locais de casting. Felizmente, ele os colocou em ordem cronológica, e facilmente percebi faltar trinta minutos para o primeiro deles. Ainda marquei os outros com marca texto e anotei alguns pontos de referência que achei no Google Maps. Em uma bolsa grande que trouxe de Paris, coloquei todos os itens que julguei necessário: um salto fino, um biquíni preto, meu book e as últimas polaroides que tirei com Hernando.

Peguei um metrô até metade do caminho e completei o resto do trajeto à pé, aproveitando para contemplar as vitrines das grifes de luxo e os prédios altíssimos do coração de Manhattan.

Chegei um pouco atrasada na sala 21 do terceiro andar de um prédio baixo de tijolos avermelhados. Algumas garotas já se encontravam lá, cinquenta, contei rapidamente. Elas pareciam tão diferentes e tão iguais ao mesmo tempo, com suas alturas impressionantes e corpos magros e malhados. A maioria eram loiras, mas também tinha morenas e negras, e um punhado de asiáticas.

Me instalei no final da fila indiana que formavam e esperei pacientemente meu nome ser chamado. Trinta minutos depois eu ainda não estava nem na metade, e mais algumas garotas que chegaram depois de mim estavam mais atrás.

- Oi. - Senti um leve toque nos ombros e me virei para trás. - Você é Grace, não é?

Uma garota loira de olhos castanhos me fitava com um sorriso tímido. Ainda por cima falava em francês. Não um francês puro, de Paris ou dos arredores como eu estava habituada, mas um mais leve e puxado para um outro indioma que não reconheci.

- Oi. Sou. - Respondo com cautela, mas seu sorriso chega até meus lábios e não posso deixar de ser contagiada por ele. - Perdão, conheço você?

- Provavelmente não. - Respondeu com sinceridade e deu de ombros levemente. - Sou Celine. - E me estende a mão pálida.

- Oi, Celine. - Aperto firme sua mão. - De onde me conhece?

- Sigo você no Instagram.

- Ah.

- Vi que fez uma campanha com Olivia Hendrix. Legal.

- Foi mesmo.

- É sua primeira fashion week? - Balanço a cabeça. - A minha também.

- De onde você é?

- Luxemburgo. Não conheceu o sotaque? - Sorri de novo.

- Acho que me perdi nesse mar de gente que só conversa em inglês. Foi um alívio ouvir alguma coisa com o som de casa.

- Sente falta? Digo, da família, dos amigos, da comida?

- Sim. Principalmente da lentidão de Paris. Não que seja pacata, não é isso. Mas Nova York é muito movimentada, muitos carros, muito barulho, muita sirene. Estou enlouquecendo!

- Sei como é. Quando cheguei aqui aconteceu o mesmo comigo. De cara estranhei o comportamento das pessoas. Uau, é tanta gente!

- Não parece aqueles filmes americanos que vemos na TV.

- Nem um pouco! Também sinto falta da comida. - Ela faz um biquinho triste. - Os croissants daqui não são tão bons.

- Verdade. Eu trouxe na mala alguns sais de banho, e posso te afirmar que o que os gringos dizem é verdade: eles não cheiram maravilhosamente fora da França.

Celine estava dizendo alguma coisa quando o toque do meu Iphone interrompe sua voz. O pego no bolso e olho o nome escrito no visor. Simone. Peço desculpas a moça e digo que preciso atender.

BAZAAROnde histórias criam vida. Descubra agora