Uma vaga sensação de home sweet home tomou conta de mim inesperadamente quando abri a porta do apartamento dos pais de Simone. A chave reserva estava no mesmo lugar de sempre - o arranjo suspenso de samambaias que oscilava levemente de acordo com a intensidade do vento. Um pouco clichê? Talvez. Embora eu sempre insista para Simone mudar esse inoportuno esconderijo, ela devolve batendo na tecla de que talvez um dia possamos precisar para alguma emergência.Quando a porta se abre com um rangido me deparo com uma sala escura e abafada. Uma fina película de poeira cobria o chão e os móveis, resultado das frestas deixadas entre as janelas e do tempo em que passamos fora. Deixo minha mala num canto perto do sofá e vou diretamente para o quarto me trocar. Visto o short de corrida Nike e a camiseta rasgada para iniciar a tão necessária faxina.
Mesmo os pais de Simone estando relativamente bem financeiramente e viajando pelo mundo, o apartamento que deixaram para a filha não é tão luxuoso quanto poderia ser. Apesar da boa localização, sofremos com alguns problemas hidráulicos e elétricos, a água quente falha periodicamente, quando neva parece que estamos nos banhando no ártico, e os tubos do precário aquecedor barulham tanto que às vezes acordo achando ter um avião dentro de casa. Mas não posso reclamar, pago um preço baixíssimo por um bom lugar.
Estava com espuma até os cotovelos quando ouço Simone chegar aos beijos com o embuste do namorado. Reviro os olhos antes de botar a cabeça para fora da porta do banheiro e gritar:
- Eu estou aqui, viu?
A próxima coisa que ouço são as risadinhas e o rangido da contração das molas do sofá quando os dois caem abraçados por cima dele. Termino limpeza dos azulejos da banheira em tempo record e me visto com uma saia anos 90 e uma camiseta que comprei na Urban Outfitters de Nova York.
- Vou ao supermercado, não tenho hora pra voltar. - Aviso ao passar rapidamente pela sala, tentando a todo custo não poluir minha cabeça com aquela pornografia heterossexual. Mesmo assim vejo de esguelha a mão de Tyson entrando por baixo do vestido de Simone.
- Ty e eu vamos sair. - Simone grita antes que eu possa fechar a porta. - Quer vir conosco?
- Onde vocês vão? - Pergunto antes de dizer o meu tradicional, sincero e curto não.
- Em uma festa da casa de um dos amigos de Ty.
Amigos traficantes de Ty.
- Não, obrigada. Amanhã tenho que ir cedo na agência.
- Você sempre arruma uma desculpa. - Tyson diz com um sorrisinho.
Franzo o cenho. Um sorrisinho? Desde quando somos amigos?
- Mentira... - Tento a todo custo fazer com que o canto dos meus lábios se ergam para cima sem parecer uma carranca.
- Ela está amiguinha de Olivia Hendrix agora, Ty... - Simone da ênfase na palavra com um tom de sarcasmo. - Não anda mais com gente que tem menos de 10 milhões de seguidores no Instagram ou de dólares na conta bancária.
- Ah, pode parar. - Reviro os olhos exageradamente. - As meninas estão me apoiando.
- Sei... - Simone imita meu ato e abro um sorriso secreto quando fecho a porta.
Com ciúmes de mim, Simone Burnier? Quem diria?
No supermercado mais próximo compro o necessário para passarmos uma semana em casa sem precisar nos preocupar com comida, água e outros mantimentos. Além das minhas preferências por marcas veganas e lowcarb, também compro várias besteiras que Ty e Simone adoram, mesmo sabendo que minha amiga está lutando contra as calorias que insiste em não perder na academia.
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BAZAAR
RomanceOnde uma das maiores top models de todos os tempos se envolve com uma simples modelo em ascensão.