15 - Olivia

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Meu ego se infla como um balão de gás hélio quando entro na sala e sinto o olhar de Grace sobre mim. A maldita me encarava como se pudesse me possuir com aqueles olhos claros, passeando-os por todo o meu corpo e se demorando em pontos específicos que fizeram um incômodo formigamento surgir entre minhas pernas.

- Nossa! - Lottie assobia, fazendo-me notar a sua existência ali. - Tá gostosinha, hein.

- Cala a boca, Haden. - A mostro o dedo do meio enquanto me encaminho até a outra ponta do sofá, onde me sento ao lado da francesa, que ainda me encarava com os olhos esbugalhados. - Ela não fez você ouvir Taylor Swift, né?

- Não, ela tá de boa.

Mas, pelo canto do olho, percebo Lottie me fuzilar com o olhar. Ela respira fundo e imediatamente sei que vai começar.

- Por favor, não faça isso...

- Oh, look what you made me do! - Grita com a voz estridente, levo discretamente a mão até o ouvido e tampo minha entrada com a ponta do dedo. - Look what you just made me do, look what you just made me do!

- Ai, meus tímpanos. - Digo massageando o ouvido. Infelizmente, minha amiga não foi abençoada com dons vocalisticos a ponto de terceiros poderem apreciar o doce som da sua voz gritada aos sete ventos.

- Haha. - Ela dá uma risada irônica. - Mas falando sério aqui, pessoal. Vamos jogar alguma coisa?

- Hum... - Penso um pouco. - Legal. O que sugere?

- Eu nunca. - Olha maliciosa para mim e mexe as sobrancelhas, provocando. - O que acha, Grace?

- Tudo bem. - Ela sorri um daqueles meio sorrisos que fazem algo dentro de mim se agitar. - Eu nunca faço nada mesmo.

- Só quero ver. - Lottie ri.

- Eu vou buscar o vinho. - Digo ao me levantar.

Uma das únicas coisas que Laurence mandou reformar no nosso novo apartamento foi a imensa e luxuosa adega com acesso direto à cozinha. Já era um bom espaço antes da reforma, tinha espaço para mas de 500 garrafas e acabamento em madeira rústica. Mas como toda a nossa decoração era moderna e acinzentada, resolvemos trocar as peças amadeiradas por um material metálico semelhante a prata.

Hoje, no entanto, apenas 1/3 das pequenas prateleiras estava ocupadas, a maioria por vinhos e outras bebidas que recebemos de amigos como presentes de casamento. Isso porque Laurence e eu não queremos comprar vinhos simples em um supermercado. Queremos bons vinhos com boas histórias, para que elas possam voltar a nossa memória enquanto desfrutamos do delicioso sabor.

Escolho uma boa safra de um Pétrus e na cozinha pego três taças de cristal e as equilíbro no braço.

- Nossa, você pegou um dos melhores vinhos da adega! - Lottie diz quando entrego sua taça. - Estou me sentindo lisonjeado.

- Não se acostume. - Brinco ao entregar Grace sua taça. - É só porque temos visitas.

Grace sorri tímida e suas bochechas adquirem aquele leve tom rosado, que intimamente acho adorável.

- Uau. Um Pétrus? - Ela levanta suas sobrancelhas louras para o rótulo da garrafa que eu colocava na mesinha de centro. - Sou tão importante assim?

Sim, você é.

- A gente faz o que pode, né? - Dou ombros e sorrio. - Mas você entende de vinhos?

- Meu pai. - Ela responde. - Ele é um grande apreciador dessas coisas.

- Hum... - Pego um abridor de garrafas e facilmente consigo destampar a rolha, que sai com um estouro. - E ele mora na França?

- Sim. Na minha cidade natal, perto de Paris.

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