09 - Olivia

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- Estou impressionada. - A voz de Lottie me tira dos intensos e nebulosos devaneios que rodeavam insistentemente minha cabeça, todos eles chamados Grace Currie.

John, o motorista/segurança veio nos buscar no Carmina's Italian Restaurant e agora nos leva na Ferrari de Laurence até meu apartamento, na 5th Avenue.

- Com o quê?

- Com o quanto você é lésbica.

- Fale baixo! - Digo entredentes, lançando um olhar ao motorista, que felizmente parecia não ter ouvido nada graças aos Beatles, que enchiam o pequeno espaço do carro com uma melodia suave e agradável. - Eu não sou lésbica. - Sussuro para ela.

- Não foi o que pareceu no restaurante. - A olho torto e ela revira os olhos. - Olivia, você quase comeu aquela garota com os olhos o tempo inteiro.

- Não é verdade. - Sinto meu rosto corar.

- É sim. Não sei como não pulou em cima dela e realizou todos os seus desejos eróticos que tem sonhado.

- Eu não tenho desejos eróticos! - A belisco no braço, e ela massageia o local machucado com um biquinho nos lábios. - Muito menos com Grace! Ela é uma criança, uma adolescente de 17 anos!

- Uma mulher de 17 anos. - Lottie corrige. - E você estava caidinha por ela.

- Não é para tanto. - Levo a mão ao rosto e massageio as têmporas doloridas de tanto pensar na garota francesa. - Além do mais, eu sou casada. Muito bem casada. Amo meu Laurence, e ele me ama. Sou feliz assim, heterossexual.

- Se tanta certeza da sua sexualidade, não devia olhar a garota daquele jeito. - Ela me reprime. - Coitada, Olivia. Ela está aos seus pés, assim como você está aos pés dela.

- Não sou mulher de estar aos pés de ninguém, Lottie, você devia saber.

- Ah, burra, não neste sentido. - Ela novamente revira os olhos. - Sexualmente falando. Precisava ver sua cara quando ela entrou no restaurante.

Instintivamente, esse momento retorna aos meus pensamentos.

...

Já fazia alguns minutos que Lottie e eu estávamos à espera de Grace naquela mesa que reservei por ser particularmente distante das demais. Não que eu tenha vergonha de ser vista almoçando com outra mulher, não é isso. Só espero que assim Grace possa ser ela mesma comigo e Lottie. Além do mais, as pessoas nunca veem um casal em duas mulheres juntas, culpa da sociedade heteronormativa e machista, que não aceita o fato de que alguém pode encontrar prazer em um lugar onde não existe um pênis.

O restaurante é agradável, um bom lugar para se estar com os amigos, com certeza. Nem muito simples, onde se é encontrado todo tipo de gente, nem luxuoso como os que geralmente frequento. E consideravelmente perto do meu apartamento e do hotel de Grace.

- Ela já não devia ter chegado? - Lottie resmunga ao olhar pela milésima vez a tela acesa do IPhone.

- Ela não sabe andar em NY, se acalme.

Uma movimentação na parte frontal do lugar me faz olhar na direção da entrada, onde Grace caminhava em nossa direção acompanhada por um garçom, o mesmo que fez minha reserva.

Está linda, pensei ao medir todo o seu corpo com o olhar. Vestia uma saia anos 80 e uma camiseta urbana. Nos pés tinha um par de Vans preto. Os cabelos claros estavam soltos e caíam pelos ombros como cascatas, emoldurando seu lindo rosto coberto por algumas dezenas de sardas.

- Oi. - Diz ao se sentar na cadeira vaga ao meu lado.

Céus, seu sotaque francês...

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