14 - Grace

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Olivia Black Hendrix está à uns dez passos a minha frente quando Jeremy Scott, diretor criativo da Moschino, dá um leve tapinha em meu ombro e me diz que já posso ir.

O primeiro passo é sempre o mais difícil, as palavras de Hernando retornam a minha cabeça. Ele sempre dizia isso quando as novatas iam ter aulas de passarela na agência. Coluna reta e um pé na frente do outro. Isso. Não se importem com o holofote, ele apenas irá guiar os seus passos e não deixar que você se destraia com a platéia ao redor. Mas isso parece ter acontecido à anos atrás e agora sou completamente incapaz de seguir seus conselhos.

Têm gente demais, penso com desespero. E minhas pernas estão bambas, não vou ter o passo firme. Vou estragar tudo!

- Grace. - Olho para Jeremy. - Já pode ir, meu amor.

Balanço a cabeça com um aceno frouxo e reuno todas as minhas forças para dar esse primeiro e importante passo. Assim que meu corpo está totalmente fora da cobertura das cortinas que separam a passarela do backstage, a luz do holofote me pega em cheio. É mais forte do que eu pensava, limita minha visão periférica e me deixa como única opção encarar a pessoa a minha frente. Olivia.

O topo da cabeça de Olivia, suas costas retas, sua bunda redonda e, por fim, suas panturrilhas torneadas. Ela tem uma bela bunda, penso ao observar esse músculo contraindo e relaxando a medida que rebolava na minha frente. Esse pensamento de alguma forma me traquiliza e faço de tudo para me desligar do mundo e contemplar as inúmeras qualidades de Olivia.

Quando as cortinas do backstage me protegem outra vez, me vejo ainda mais apaixonada por Olivia do que estava antes. Ela tem todas as qualidades que admiro, fisicamente e intelectualmente. Ao mesmo tempo que é uma das mulheres mais bonitas do mundo, consegue também ser humana e honesta.

Ela me pediu desculpas. Torno a lembrar da cena e, sem querer, um meio sorriso brota em meus lábios. Ela me pediu desculpas quando não era sua obrigação fazê-lo.

...

Estou fazendo de tudo para me concentrar em mastigar os ovos e não olha-la. Mas seu olhar sobre mim é tão intenso que posso senti-lo fisicamente. Ela está olhando meu rosto, posso afirmar com toda certeza do mundo. Meus olhos, especificamente. Está tentando descobrir se vou seder à sua tentação e olhar em sua direção. Agora desce o olhar por meu nariz. Espero que não se demore, pois não gosto das sardas que se acumulam nele. Segundos mais tarde seu olhar está em minha boca. Sinto isso sem precisar olha-la. Ela olha minha boca como se a desejasse, como se quisesse toma-la para si, como se...

Me assusto brevemente quando sinto o real toque da sua mão macia e suave sobre a minha. Ela está me tocando. Céus, o que eu faço? Ela está me tocando! Relutantemente, olho para seu bonito rosto e encontro um par de imensos olhos castanhos me encarando. Olhos tão brilhantes e sensíveis, cheios de... arrependimento.

- Grace. - Ouvir meu nome sair de sua boca é como ouvir uma bela canção. Ela faz com que se torne o nome mais perfeito do mundo, a palavra mais perfeita do mundo, a melodia mais perfeita do mundo. Faz com que eu queira fechar os olhos, desligar-me do mundo e ouvir aquilo para sempre. - Como se diz ''me desculpe'' em francês?

- Excusez-moi. - As palavras saem um pouco distorcidas. Estou surpresa. Surpresa e emocionada. O que ela vai fazer?

Meu coração salta quando ela dá um pigarro. Não, não, não. Por favor, não. Eu já sofri demais. Não me faça me apaixonar mais por você do que já sou. Não me faça querer arrancar você dos braços de Laurence.

- Excusez-moi. - Ela canta com tanta sinceridade que meu peito explode. Explode de tristeza e de felicidade. Explode porque a amo e a odeio, tudo ao mesmo tempo.

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