08 - Grace

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Olhei novamente para a fachada chamativa do restaurante italiano à minha frente. Carmine's Italian Restaurant, era o que dizia a placa. Bem luxuoso, para os meus padrões de adolescente recém saída da casa dos pais e que só agora começava a decolar na carreira. Mas não para o de Olivia Hendrix e Charlotte Haden. Sei que Olivia o escolheu certamente visando o meu lado, o que agradeço muito. Não sei o que teria feito se ela me convidasse a um lugar melhor do que minhas roupas podem ir.

- Boa tarde, senhorita. - Um garçom me cumprimenta assim que abro uma das imensas portas de vidro.

- Boa Tarde. - Por alguns segundos fico um pouco perdida, apenas o encarando. Depois, pareço me lembrar do que realmente estou fazendo ali. - Grace Currie.

- Grace... Currie. - Ele procura em uma imensa lista escrita manualmente em um papel chic. - Sua reserva está no nome de Olivia Hendrix, certo?

- Exatamente.

- Por aqui, senhorita. - O acompanho por entre as mesas do grande salão até uma particularmente posicionada em um canto, longe das outras pessoas.

Olivia e Charlotte já se encontravam ali, ambas usando vestidos impressionantes. O de Olivia era um da linha exclusiva desenhada por Donatella Versace, que foi lançada na temporada passada, em Milão. Me lembro muito bem de quando ela fechou o desfile com ele na passarela. Já o de Charlotte é um lançamento da Dior, feito para uma campanha feminista ao combate da desigualdade de gênero.

Olho com pesar para a saia mid clássica, para o par de Vans, e camiseta que acabei de comprar na Urban Outfiters. Deveria ter passado na Zara que fica perto do hotel.

- Oi. - Digo ao me sentar na única cadeira vaga, ao lado de Olivia.

Meu Deus. Eu não tô bem. Essa mulher é muito maravilhosa. Estou me sentindo meia zonza só de estar perto dela.

- Olá, Grace. - Algo na voz de Olivia novamente faz meu rosto esquentar, como se meu subconsciente detectasse uma mensagem oculta nas entrelinhas das suas enigmáticas frases.

- Oi, Grace! - Charlotte diz animada. - Como vai? Olivia me falou muito de você.

- Vou bem, obrigada. - Sorrio um pouco. - Espero que tenha falado bem. - E pela visão periférica, busco seu rosto.

Deus, porque ela ainda me olha assim? Olivia não me olha da mesma forma que olharia para uma pessoa comum. Me olha como um leão faminto olha para um bife suculento. Com olhos de predadora. E, intimamente, posso sentir seus dentes em mim, dilacerando minha carne com força.

- Pode apostar que sim. - Charlotte sorri, dando-me a entender que sabia de muitas coisas nas quais eu não fazia a menor ideia.

Parte de mim se questionou se Olivia comentou sobre a nossa intensa troca de olhares no trocador da Fendi. É provável que não, concluo depois de pensar um pouco. Olivia não deve nem ter reparado nisso. Foi coisa da minha cabeça.

- Então, Grace. - Olivia cruza as mãos por cima da mesa e apoia o queixo em cima do punho fechado. - Nos fale sobre você.

- Hum... por onde devo começar?

- An... Onde você nasceu? - Charlotte pergunta.

- Em uma cidadezinha perto de Paris. Mas me mudei para a capital no incio do ano, quando fui aceita na agência.

- Com quem mora em Paris?

- Com Simone Burnier, minha melhor amiga. Os pais dela estão em um intercâmbio turístico pela África, portanto ficamos sozinhas no apartamento a maior parte do tempo.

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