Capítulo 1

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- Vamos filhota, coopera com a mãe.- digo cansada, mas como fazer uma criatura linda com 10 meses entender que tem de estar quieta pois estou atrasada.- Miazinha, pára com os braços, tenho que te vestir o casaco. 

Finalmente saio de casa, já em cima da hora. Entro na casa da Fraü Stelle e deixo a minha pequena nas mãos da ama, dou-lhe um beijo, largo as coisas da Mia e depois de beijar a Stelle corro para o carro e sigo para a Base. Entro em cima da hora e corro para me equipar, sigo então para a sala de reuniões onde já todos me esperam. Hoje o meu piloto será o Igor e o meu Paramédico o Noah. Começamos a reunião e ao fim de 15 minutos estamos a ver o nosso material no nosso pássaro.

Eu sou a Rita, tenho 27 anos e sou médica nos Hélicopteros da Rega, Empresa Suiça especializada em resgate de montanha. Estou na Base 10 em Wilderswill no Cantão de Bern, trabalho aqui à 18 meses e estou a amar. Vim para a Suiça á pouco mais de ano e meio, posso dizer que em fuga de Portugal e todos os dias rezo para que ele não me encontre, a mim e á minha princesa Mia. Mas vou explicar tudo o que aconteceu.

Fui uma menina sempre muito querida e posso dizer mimada pelos meus pais, filha unica, sempre tive uma vida espectacular. Os meus pais não eram propriamente pobres, sempre tivemos uma vida digamos que, bem confortável num condomínio fechado perto de Cascais O meu inferno começou á 2 anos, uns meses a seguir a terminar o meu curso de medicina onde me graduei com honras e me especializei em Trauma na Universidade de Medicina de Lisboa. Inclusive trabalhava no Hospital de Santa Maria, na Urgência e tinha acabado a formação em Emergência e já fazia VMER. Namorava com o Pedro, Engenheiro Civil na empresa de construção do meu pai, mais velho que eu 6 anos. Os meus pais no inicio apoiaram o meu namoro mas de repente o meu pai opôs-se, não percebi bem porquê. Naquela tarde de Dezembro chovia, eu saia de plantão ás 08 da manhã e o meu pai avisou-me que iam ter comigo ao Hospital e que iriamos tomar o pequeno almoço pois ele precisava falar comigo naquele dia sem falta acerca do Pedro. Faltavam 5 minutos para eu sair quando o chefe da urgência veio me pedir para ficar pois tinha havido um acidente grave junto ao estádio da Luz. Tentei ligar para o meu pai e ele não atendeu. Tentei para a minha mãe e o resultado foi o mesmo. Pedi na central de atendimento para que quando eles chegassem que me aguardassem e preparei-me. O chefe de serviço assim que recebeu a informação da VMER veio ter connosco que estávamos na sala de Reanimação.

- Já tenho informações do acidente, temos Masculino, 56 anos com Politraumatismos e TCE, fez 2 PCR no local e foi reanimado, vem com a VMER Santa Maria, e Feminino de 54 anos com quadro idêntico, vem a ser Reanimada pela VMER de S. José. Preparem as 2 salas e os blocos 2 e 3. Dra Rita, fica nesta sala e o Dr Diogo fica na outra. - Ouvimos as sirenes das ambulâncias e logo a nossa interna toca a avisar da chegada das vitimas.- Vamos ao trabalho pessoal.

Logo entra a primeira maca que vem com a mulher e dirige-se de imediato á minha sala. Vejo o TAE vir a reanimar, entram na sala e o Dr Rodrigo começa a passar os dados que tem.

- Mulher, 54 anos, TCE, Trauma facial, Pneumotorax á esquerda, Fraturas nos membros superiores e inferiores com PCR revertida após 15 minutos e 3 choques, entrou em PCR á nossa saída do local.

Depois de 45 minutos declarámos o óbito. Na outra sala ouvia os colegas a reanimar, a Polícia entretanto chegou e pediu para falar com o nosso chefe. Entretanto ouço declararem o óbito na sala do lado. Morreram os 2 ocupantes do carro. Quando ia a passar pela sala do chefe vejo a Catarina, Psicóloga do hospital a entrar na sala também. O que se passará? Vou ao vestiário, tomo um duche e visto a minha roupa. Pergunto á Rute do atendimento se os meus pais ali estiveram e ela diz que não. Devem estar no parque, com certeza viram o aparato e perceberam que eu me iria atrasar. Estava a chegar á porta quando o segurança me chama

- Dra Rita Veigas, o Dr Ramalho pediu para a Dra ir á sala dele antes de sair. 

Estranhei mas voltei a entrar e fui até á sua sala. Bati á porta e assim que ele mandou entrar eu abri a porta e lá estava, o meu chefe, a Policia e a Catarina.

- Chamou Dr?

- Sente-se Dra Rita.- sentei-me ao lado da Catarina.- Peço desculpa, mas os senhores agentes precisavam de falar consigo.

- Ok Dr. Se é por causa dos feridos do acidente, não sou eu que tenho os dados deles, estão com o Dr Fernandes.

- Dra. É sobre os feridos mas não tem a ver com os dados.- diz o mais graduado e olha para a Catarina.

- O que se passa então?

- Rita, - diz a Catarina e segura-me a mão. Um arrepio atravessa-me e olho para ela.- os feridos do acidente... Lamento, são os teus pais. 

Olho para ela, a minha cabeça está em branco, sinto como se de repente ela tivesse esvaziado, uma dor fina atravessa o meu peito.

- Catarina, o que estás a dizer? A mulher que acabei de atender era a minha mãe?- pergunto já a chorar.

- Dra Rita, -diz o Dr Ramalho- infelizmente é isso que estamos a dizer. O casal do acidente, infelizmente eram os seus pais. Lamento muito.

- Mas o que aconteceu? Como aconteceu? - pergunto aos polícias. 

- Um camião despistou-se e capotou para cima do carro deles. O motorista do camião  também faleceu. Lamentamos imenso Dra.

Os dias seguintes são uma névoa para mim, o Pedro veio ter comigo e já não saiu de perto de mim, tratou do funeral e ficou comigo em casa. Ao fim de 1 semana trouxe-me uns papéis para eu assinar da empresa, ele teve de voltar á empresa dos meus pais e eu fiquei 1 mês fechada em casa. Ao fim desse mês o meu 2º inferno começou. Quando eu disse ao Pedro que ia voltar ao trabalho ele passou-se e proibiu-me de sair de casa e quando eu disse que ia mesmo voltar deu-me um estalo e trancou me no sótão da casa dos meus pais, tirou me o telemóvel e ali fiquei. Ali fiquei 2 dias ate ele voltar. Como mantive a minha ideia de voltar ele manteve me ali durante 3 semanas. Ouvia barulhos na casa mas não podia fazer nada. Ao fim destes dias voltou a levar me para o meu quarto e como eu queria voltar ao trabalho manteve me presa ali por 3 meses. Uma noite chegou muito bêbado, violentou me e agrediu me com muita violência e ainda se vangloriou que eu estava ali de favor pois um dos papéis que assinei era uma procuração e que agora tudo era dele, as casas, os carros, a empresa, as contas... Aproveitei que ele adormeceu, fui ao cofre dos meus pais e tirei de lá as jóias e o dinheiro que os meus pais lá tinham, os meus documentos, algumas roupas e fugi... O primeiro avião a sair era para a Suíça e foi para aqui que fugi, praticamente com a roupa do corpo... Antes de embarcar apresentei queixa por agressão mesmo no aeroporto, liguei para a Catarina, contei lhe tudo exceto para onde ia, comprei um telemóvel e embarquei... Cheguei a Geneva e depois de aqui chegar procurei na internet e vi o anúncio para a Rega. Fui a sede, fiz a entrevista e aqui estou nesta base.... Descobri que estava gravida devido a violação ao fim de 4 meses, passei aos 6 meses para a central de chamada e regressei ao activo quando a Mia tinha 3 meses, deixo a com a Stelle que é a minha senhoria e uma mãe que tenho aqui comigo e avó da Mia. Sei que o Pedro continua a minha procura pela Catarina, ela já teve inclusive de pedir uma medida de afastamento contra ele pois ele perseguiu a por meses... Amo a minha Mia, é a minha princesa e graças a Deus é a minha cara chapada, uma fotocópia minha, não tem mesmo nada do pai... Aqui encontrei a minha paz e Reencontrei me... Aqui sou feliz...

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