Capítulo 5

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O Domingo amanhece com sol e frio. Os meninos ainda dormem e eu subo á casa do Rui. Do lado de fora ouço os soluços dele, provavelmente ficou a noite toda acordado. Bato á porta e ele abre.

- Rui, precisas descansar. - digo-lhe.

- Não consigo. Não consigo deixar de pensar que poderia ter sido eu... O que aconteceria aos meus meninos.- diz e chora ainda  mais.- Eu não posso continuar, não posso correr este risco.

- Então sai da Polícia. Procuramos outro trabalho para ti.- digo

- Obrigado Rita, por tudo. Não sei o que seria de mim sem vocês... Tu foste o lado bom do meu acidente.- diz comovido.

- Não digas isso... Vamos mudar de assunto. O que achas de irmos beber um expresso? A Stelle pode ficar com os meninos e eu preciso de um expresso em condições.

- Queres ir a Portugal num instantinho?

- Claro que não... Conheço um sitio não muito longe que tem um expresso Segafredo espectacular... Demoramos menos de 1 hora ir e voltar, que dizes?

- Vamos então...

Deixo o Rui a vestir-se e desço á minha casa. Depois de falar com a Stelle e de dar banho e o biberão aos meninos com a Stelle e o Rui, que entretanto aqui passou, seguimos para o meu carro e começo a conduzir. Sigo para Grindewald e depois de levantar algum dinheiro continuo até Trümmelback. Aqui ficam umas grutas com queda de água, segundo dizem lindas.Eu nunca lá fui mas com o Rui em recuperação também não é o dia. Mas aqui também tem uma cafetaria que tem o melhor expresso que encontrei na Suiça. Sentamos na esplanada, daqui vemos os alpes com neve, sentimos o frio que aqui faz, sinto-me rejuvenescer com esta brisa fresca... O Rui continua muito calado e triste.

- Rui, tens de tentar levantar a tua moral, estares assim faz-te mal- digo

- Eu sei... Importas-te que fume?- nego e ele acende um cigarro.- Desculpa todo o trabalho que te tenho dado. Nunca te poderei agradecer por tudo o que tens feito.

- Esquece isso. Agora, queres contar-me a tua história?

- Só se me prometeres que depois me contas a tua.

- Prometido.- respondo-lhe

- Então, como te disse, eu sou orfão de mãe, e o meu pai nunca o conheci, tenho 32 anos e sou de perto de Lisboa. Quando a minha mãe morreu fui entregue á segurança social e vivi numa casa de acolhimento a vida toda. Foi lá que conheci a Maria Inês mãe do Diogo e da Maria. Quando eu fiz 18 anos sai de lá, aluguei uma casa e entrei para a força aérea onde tirei vários cursos, inclusivé integrei o esquadrão de resgate aéreo nos Açores. Passado 1 ano e meio saiu a Maria Inês e foi para a minha casa. Casámos e 3 anos depois larguei o esquadrão e consegui entrar para a Policia Judiciária. A Maria Inês tirou formou-se em engenharia Civil, casámos e quando já tinhamos tudo estabilizado pensámos em ser pais. Ela engravidou, estávamos muito bem e felizes até que ela com 8 meses teve um pico de tensão, fomos ao hospital, ela entrou em eclâmpsia e acabou por não sobreviver ao parto. Depois de 6 meses sozinho com os gémeos vi na internet uma vaga para inspector aqui e candidatei-me, fui aceite e mudei para cá com os meninos. Eu não tinha mesmo nada que me prendesse em Portugal... Esta é a minha história... E a tua, qual é? 

Contei-lhe então a minha história e a da Mia. Apenas a Stelle conhece a história toda, ela foi o meu suporte a partir do momento em que eu entrei para a casa dela, mas depois dele se abrir comigo da forma que o fez achei justo fazer o mesmo, abrir-me. Depois de eu terminar ficamos ali em silêncio enquanto ouviamos o barulho das quedas de água ali perto. Quando olhámos para o relógio já passava da 1 da tarde e decidimos voltar para casa, até porque a Stelle estava sozinha com os meninos.

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