Capítulo 7

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Faz hoje 1 mês que o Rui foi baleado por aquela louca e hoje é mais uma sessão do julgamento dela e o dia em que eu irei depor. O Responsável da minha base tem sido impecável permitindo-me trocar folgas para acompanhar as sessões. Já o Rui, continua sem acordar, já levei as crianças ao hospital para estarem com o pai, disse-lhes que ele estava muito cansado e precisava dormir... Na próxima semana é natal, a neve está por todo o lado, já comprei todos os presentes, mas gostava mesmo era que o Rui acordasse e passasse o natal connosco. Desligo-me dos meus pensamentos quando chamam o meu nome para entrar e fazer o meu depoimento. Depois do juramento começa o advogado de acusação a interrogar-me...

- Dra Rita Veigas, está na Rega como médica de resgate á quanto tempo?

- 18 meses. 

- Soube que foi a Dra que fez o Resgate do agente Rui Sousa em Bachalpsee, correto?

- Sim Senhor, foi o meu Helicóptero que se deslocou ao local.

- Sei que depois, no próprio dia deste resgate a senhora ficou com os filhos do agente que inclusive estão á sua guarda. Pode dizer-nos o porquê?

- Assim que o agente Rui recobrou a consciência no heli as suas primeiras palavras foram para perguntar por eles em Português. Ele não sabia onde estava ou que eu também era Portuguesa. Após o deixar no hospital o agente Jaques veio saber comigo o estado do colega e eu falei-lhe dos filhos do agente Rui e o que me foi dito foi que estava a ser dificil pois eles choravam muito devido a todos ali apenas falarem alemão e não Português e que a ama deles os tinha abandonado e eles estavam na esquadra. Como eu tenho uma filha bebé e uma ama que cuida muito bem dela ofereci a minha ajuda.

- E a quem eles estavam confiados?

- Á agente Elena

- E se me permite a pergunta, qual o estado deles quando lhes foram confiados?

- Protesto Meretissimo. Irrelevante. - grita o advogado da cabra da Elena.

- Eu vou permitir a pergunta. Pode responder Dra.- diz o Juiz

- Estavam com fome, para além de terem algumas abrasões na zona genital devido á falta de cuidados de hígiene como a troca de fraldas e falta de banho.

- E como foi o agente Rui morar no prédio da dra?- fui respondendo a todas as perguntas com a maior das calmas até que o advogado de acusação, inclusivé falei do encontro com ela no hospital onde disse que desejava que os meninos morressem e também sobre a discussão e os tiros e toda a minha prestação após o ocorrido. Assim que ele encerrou passou para o advogado da Elena.

- Senhorita Rita...- Começou ele e eu interrompi-o.

- Dra Rita, por favor.- O gajo tem estado a ser cabrão por isso não lhe permito outro tratamento. Ele cora e emenda.

- Dra Rita, vou ser directo, a Dra tem uma relação amorosa com o agente Rui, correcto?

- Não, eu não tenho.

- Então como explica toda essa afinidade  e o ter-se "oferecido" tão gentilmente para ficar com 2 crianças que não conhece?

- Eu sou Portuguesa, sei o que é estar num pais estranho e sei o que é criar um filho sozinha. Eu tive sorte e quando cheguei a este pais encontrei pessoas boas que me ajudaram, mas sei que nem todos têm essa sorte, o agente Rui foi um desses imigrantes com pouca sorte.  

Depois de mais uma hora de perguntas estupidas fui dispensada e sai do tribunal. Segui para o hospital sempre a pensar que faltavam apenas 6 dias para o natal, as ruas estavam com os seus enfeites e o movimento de pessoas ás compras á grande. Assim que sai do carro o meu telemovel tocou e era do hospital. Atendi de imediato e informei que estava a entrar no edificio. Pediram-me para ir ao quarto do Rui e fiquei assustada, corri pelas escadas até ao piso e quando entrei no quarto estavam lá 4 médicos e 3 enfermeiras, todos se viraram com o barulho da porta e então eu vi o Rui, com os olhos abertos... Fui até a cama e abracei-o enquanto chorava, fiquei ali no seu abraço e nem percebi que todos tinham saido do quarto e fechado a porta, só percebias mãos dele segurarem os 2 lados da minha cara e senti os seus lábios nos meus. Não me lembro a ultima vez que fui beijada mas sei que nunca fui beijada assim, os seus lábios encostaram os meus, os seus polegares encaixaram nas maçãs do meu rosto e logo senti a sua lingua a pedir passagem aos meus lábios para entrarem na minha boca. Depois de algum tempo, não sei quanto, afastámo-nos em busca de ar mas não sem antes ele morder o meu lábio inferior com carinho.

- Acordaste finalmente.- digo e ele puxa-me de novo para o seu peito.- Como te sentes?

- Como se tivesse dormido mais de 1 mês... Como estão os meus meninos? Comos estás tu, a Mia e a Stelle? Conta-me tudo...

Contei-lhe tudo o que aconteceu durante este mês, da operação, do julgamento, da Mia ter começado a falar...

- Confessa, é a melhor sensação do mundo quando eles nos chamam pela primeira vez...- diz ele e eu não respondo.- O que se passa? Porque ficaste assim de repente?

- É que... o Diogo e a Maria ouviram a Mia e começaram a chamar me mamã também....- digo envergonhada...

- E por isso estás assim? O que tens sido para eles senão uma mãe?- diz ele olhando para mim nos meus olhos.

- Queres que os vá buscar a casa?

- Não é pedir demais Rita? Tenho tantas saudades deles... E o Dr Bernard diz que me vai fazer mais uma bateria de exames...

- Não, eu vou falar com ele e enquanto fazes os exames eu vou buscá-los. - Ele puxou-me para mais um beijo e depois sai á procura do Dr. Depois de confirmar que estava tudo bem com ele sai do hospital e liguei para a Stelle a contar a novidade. Ela disse que ia prepará-los e eu logo me apressei a ir para casa. 

Assim que entrámos no hospital com os meninos fomos logo em direcção ao quarto do Rui. Assim que eles viram o pai acordado fizeram a festa e a Mia não os deixou fazer a festa sozinhos, teve de se juntar a ela chamando o Rui de papá também o que me levou ás lágrimas . Realmente, o Rui é um pai espectacular para além de um homem exemplar, bem diferente do bastardo do Pedro, o pai da Mia. Depois de muita festa e carinho saimos dali em direcção a casa, até porque tinhamos de preparar a volta do Rui a casa pois segundo o Dr Bernard, se os exames estivessem todos bem amanhã mesmo o Rui teria alta. Assim que chegamos demos o jantar e o banho aos meninos e depois de estarem a dormir a Stelle sentou-se comigo a beber um chá e a falarmos um pouco, tal como faziamos todos os dias. Contei-lhe do beijo do Rui e claro ela deu pulinhos de felicidade. Deitámos tarde e no dia seguinte levantei-me cedo e fui trabalhar, o dia foi excelente, sem saídas. Sai da base e segui para o hospital onde o Rui já me esperava, ansioso por sair. Depois de todas as recomendações médicas saimos dali, passámos na farmácia onde comprámos os medicamentos e seguimos para casa. Excusado será dizer que as crianças deliraram quando o viram entrar e a festa deu-se na minha casa com a alegria das crianças... Nessa noite o Rui dormiu aqui pois eu estava com medo de o deixar sozinho na casa dele, a Stelle foi para a sua casa e nós ficamos na conversa na minha. 

- Desculpa todo o trabalho que tenho te dado Rita.

- Se repetires isso de novo asseguro-te que voltas para o hospital.- digo-lhe e rimos. De repente ele fica sério a olhar para mim, passa a sua mão na minha cara parando-a na minha nuca. Vejo ele a aproximar-se de mim e sinto os seus lábios novamente nos meus. Ficámos naquele chamego no sofá durante não sei quanto tempo até ele se afastar e olhar bem dentro dos meus olhos.

- Nunca me senti assim, como me sinto contigo.

- Nem eu, nem eu... - respondo. 

Ali ficámos abraçados, fomos trocando mais alguns beijos até que adormecemos assim mesmo, abraçados no sofá...


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