Capítulo 4

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Na Quinta acordei mais cedo, ajudei a Stelle a dar banho aos meninos e segui para a Base 10. Cheguei á base e segui de imediato para o balneário, vesti o uniforme e segui para a reunião... Ficaria de novo no 1414 com o Noah e o Igor. Depois de verificado o meu Heli segui para a central onde fiquei á conversa. Perto das 11 somos chamados para ir a Grindewald, um praticante de asa delta que apanhou uma corrente cruzada e chocou contra a montanha ficando preso a uma árvore. Saimos e como foi uma situação fácil em menos de 2 horas estamos de volta á base. Tivemos mais 2 saidas esse dia e depois de entrar a minha rendição segui para casa. A Stelle não estava aqui em casa com os meninos, bati na porta dela e nada, ouvi então o riso fino da minha boneca, vinha do andar de cima. Bati á porta e ela abre, vejo que ela está a arrumar as coisas do Rui, as crianças estão em cima de um cobertor no chão. Depois de ajudá-la descemos para dar banho e jantar ás crianças e fomos descansar. Na sexta a rotina foi igual, com a diferença que o apartamento do Rui já estava pronto e a Stelle tinha os meninos prontos para irmos ao Hospital. Quando chegamos ouvimos falar alto dentro do quarto e mesmo não querendo deu para perceber que o Rui falava exaltado com alguém em Alemão.

- Tu estás louca... Nunca te dei qualquer esperança ou dei a entender que queria algo contigo. A minha prioridade sempre foi e sempre será os meus filhos.- ouvimos o João dizer.

- Pena aquelas pestes não terem morrido com a mãe.- ouço uma voz feminina gritar.-De repente a porta abre e sai de lá de dentro a agente Elena que assim que vê os meninos grita em direção a eles.- Pestes, deviam morrer...

Fiquei chocada com a atitude daquela agente da Polícia. Os meninos começaram a chorar e enterraram as caras nos nossos pescoços, o Diogo na Stelle de quem estava ao colo e a Maria no meu... A Mia viu os amiguinhos a chorar e começou também a choramingar e logo lhe peguei ao colo e ela passou a mãozinha na cara da Maria como se quisesse acalmá-la. Entrámos no quarto e logo os meninos foram para o colo do pai.

- Desculpem esta cena,- diz o Rui- não sei o que passou pela cabeça da Elena, chegou aqui a atirar-se a mim e a dizer que eu devia aproveitar que os meninos estão contigo e deixá-los. Meus amores. Nunca dei a entender que queria alguma coisa com ela ou lhe dei esperanças... Vou ter de informar os meus superiores que ela não está bem. - A Stelle logo o confortou.

- Como estás Rui, sentes-te melhor?- pergunto.

- Sim, o meu médico diz que vou sair hoje. Ia agora ligar ao Fabian para saber se me podia vir buscar. 

- Deixa Rui, eu chamo um táxi e vou atrás de vocês, tu podes ir com a Rita.- diz a Stelle, sem deixar espaço para discussões.

Passados uns minutos entra o médico no quarto e dá-lhe alta, a Stelle vai á Farmácia buscar os medicamentos para ele enquanto ele termina de se vestir com a minha ajuda uma vez que tem o braço direito imobilizado.

- Desculpa dar-te tanto trabalho, tu és um anjo que apareceu nas nossas vidas. Não sei o que seria dos meus filhos se não fossem tu e a Stelle.

- Não tens família em Portugal?- pergunto, afinal, bem vistas as coisas não sabemos nada um do outro.

- Não, eu e a Maria Inês conhecemo-nos numa instituição de acolhimento. Nunca conhecemos as nossas famílias e ela morreu no parto dos gémeos. E tu, tens família em Portugal?

- Não, os meus pais morreram num acidente 6 meses antes de eu vir para a Suiça.

- E o pai da Mia? Desculpa se estou a ser indiscreto.

- Isso é uma longa história, que não leves a mal mas prefiro não falar. Ainda não consigo.

- Não há problema. Mais uma vez desculpa. 

A Stelle entra nesse momento no quarto e nós terminamos a conversa. Seguimos para fora em direcção ao carro, o táxi já esperava também. Dirijo para casa sorrindo com a animação das crianças no banco de trás nas suas conversas de bebé. Assim que chegamos frente á casa o Rui sai do carro e olha para o edificio. É uma tipica casa de madeira com 2 andares e uma espécie de celeiro que foi transformado em garagem. O rés do chão fica 8 degraus acima do nível da estrada, as escadas para o andar de cima é exterior á casa mas toda tapada,  a minha casa e da Stelle no Rés do chão, portas ao lado uma da outra, a da Stelle tem cozinha, sala, casa de banho e quarto e a minha difere apenas em ter 2 quartos. A do Rui ocupa a extensão das nossas, ou seja, tem 3 quartos e 2 casas de banho. A Stelle ajuda-me a levar as crianças para a minha casa e vai mostrar a casa ao Rui uma vez que ele não a conhece. Reparo também que ela mandou colocar um pequeno portão na saida das escadas dos 2 andares. Enquanto a Stelle lhe mostra a casa eu preparo o jantar para todos, assim que fica pronto preparo o banho dos meninos e coloco-os na banheira a divertirem-se com a espuma. Começo por tirar a Maria, visto-lhe o pijama, depois repito com o Diogo e por fim com a Mia. Assim que estão todos prontos a Stelle e o Rui chegam e damos o jantar a eles.

- Rui, se quiseres os meninos podem dormir aqui esta noite para poderes descansar. Amanhã é só desceres. - digo.

- Já tens tido trabalho com eles estes dias, não preferes descansar tu?

- Como já te disse, eles não dão trabalho. Espera 10 minutos e eles já estarão capotados. 

E assim foi, ainda não tinhamos nós terminado de jantar e já dormiam os 3 no parquinho. Levámos os meninos para a cama e depois o Rui subiu á sua casa nova para tomar a medicação e dormir. Acordei no sábado perto das 7, depois do meu banho preparei os biberões e quando me preparava para ir trocá-los para eles poderem comer o Rui bateu á porta. Ajudou-nos a trocar os meninos e a dar o biberão e logo sai para o trabalho. Perto das 3 da tarde recebemos a informação das equipes de resgate que tinham encontrado o corpo do parceiro do Rui numa falésia a cerca de 5 km do sítio onde ele tinha sido encontrado, também baleado. Tenho férias para tirar, peço ao meu supervisor se posso tirar esta semana e ele autoriza. Amanhã e segunda vou estar de folga, so volto ao trabalho Segunda da outra semana. Sai do trabalho com essa má noticia para ele. Estacionei o carro e do lado de fora ouvia as gargalhadas das crianças, estavam a brincar com o Rui enquanto a Stelle preparava o jantar. Assim que eu entrei ele olhou para mim e viu a minha cara. Apesar de não nos conhecermos á muito tempo ele percebeu que algo se passava.

- Encontraram o Léon?- perguntou e eu apenas assenti. Ele levantou-se e subiu para a sua casa, fiz sinal á Stelle e fui atrás dele.

- Rui, posso entrar?- pergunto e vejo-o de cabeça baixa sentado no sofá, parece chorar. Sento-me ao seu lado e abraço-o e ele desaba com a cabeça no meu ombro.

- Podia ter sido eu... Os meus filhos ficariam sozinhos, sem ninguém. Nós estávamos juntos... O que seria dos meus meninos sem ninguém, quem tomaria conta deles? Se não tivesses ido tu fazer o resgate com quem eles estariam agora? Com a Elena que os chama de pestes?- disse e continuou a chorar. - Eu não aguento mais este barco sozinho. Não parei de pensar nisso estes dias que fiquei no hospital, se aqueles pastores não me encontram o que teria acontecido comigo? Se não fosses tu naquele helicóptero eu não te teria conhecido nem á Stelle e como estariam agora os meus meninos? Eles só me têm a mim, da mesma forma que eu só os tenho a eles. - dei-lhe o comprimido para as dores e um calmante e sentei-me novamente no sofá.

A cabeça dele está pousada no meu colo e eu vou-lhe mexendo no cabelo. Não sei quanto tempo estivemos naquele sofá, apenas sei que passado muito tempo reparei na respiração compassada dele e acredito que ele tenha adormecido. Coloquei uma almofada debaixo da sua cabeça e depois de o cobrir com uma manta desci á minha casa. A Stelle já tinha dado banho e jantar aos meninos e eles já dormiam.

- Então filha, como está o Rui?

- Adormeceu mas está muito abalado. Acho que ele amanhã estará melhor. Este episódio fê-lo pensar no futuro dos meninos.

Fomos deitar e adormecemos rápido. O dia de hoje tinha tido demasiadas emoções.


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