Capítulo 3

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MARCOLLO OBSERVOU aquela garota, que parecia apavorada por estar ali. Mas por que ela entrara ali, afinal? Era óbvio que ela não fora convidada, afinal, ele mesmo havia visto todos os nomes dos invitados, antes de enviá-los ao seu assistente em Milão. No entanto, a curiosidade dele aguçou-se. Quem era ela e o que exatamente ela fazia ali?

Ele passou a mão enluvada pelo queixo coberto por sua máscara e fitou aqueles olhos azuis enormes. Arregalados, era perceptível que ela estivesse apavorada com algo. Mas com o que, exatamente? Marcollo estava prestes a falar com ela, quando pegou-lhe no pulso e ela estremeceu sob seu toque. Claro que isso não passou despercebido por ele.

- Quem é você, ragazza? - Perguntou-lhe, com o cenho franzido. A voz era tão sedutora que causou arrepios na pele dela.

- Por favor... - Nìcolla suspirou e lutou para segurar as lágrimas. Não poderia falar àquele estranho o motivo de estar ali. Precisava ir embora. - Eu vou sair daqui, sei que não sou bem-vinda. Com licença, signore.

Marcollo estava quase deixando-a ir embora. Mas alguma coisa em seu interior pediu-lhe para que não a permitisse. Queria saber quem era ela. O motivo de estar ali. A garota vestida de branco e dourado passou por ele, soltando um perfume de morango que provocou-lhe as narinas. Sendo ágil o suficiente, Marcollo fechou a mão em torno da manga branca de seu braço, novamente.

- Espere! - Pediu ele. - Não vá embora ainda. Quero saber quem é você. Sabia que sou o dono dessa casa e dessa festa?

- Não sabia. Por favor, me desculpe. Vou embora e não quero interromper a sua diversão e dos seus convidados.

Nìcolla queria soltar o braço, mas a mão forte fechou-se mais e não a permitiu. Não apenas isso. Aquele toque masculino e viril estava perturbando-a, mais do que deveria.

- O que acha de irmos até a sacada observarmos a lua cheia, ragazza? - Marcollo era insistente e não pararia enquanto não descobrisse quem era ela.

-Eu... - A voz perdeu-se, mas Nìcolla encontrou coragem onde não sabia que tinha. - Está bem. - Por fim, deu-se por vencida.

- Venha por aqui, por favor.

Ele entrelaçou-lhe as mãos e Nìcolla sentiu a firmeza do toque, mesmo através da luva da fantasia escura. Eles passaram entre as pessoas mascaradas e que se divertiam ao som de Vivaldi, bebendo vinho e comendo um dos melhores buffets de Veneza. Chegaram a uma vista maravilhosa da cidade, com as gôndolas passando de um lado para o outro no Grande Canal, sob a luz da lua cheia que refletia nas águas. A sacada era grande e lá embaixo, dezenas de foliões pulavam e dançavam.

Marcollo puxou Nìcolla para si, mesmo não sabendo quem ela era. De repente, com o impacto de corpos, a máscara branca com detalhes dourados caiu ao chão e o rosto de Nìcolla estava descoberto. O cabelo longo e loiro soltou-se do coque frouxo, espalhando-se pelas costas delgadas. O brilho da lua incidiu sobre os olhos azuis vivos, acentuando as maçãs do rosto delicadas e a boca com lábios carnudos. Lábios extremamente beijáveis, pensou Marcollo, sentindo o desejo espalhar-se em suas veias como um incêndio.

Nìcolla, assustada com as reações que aquele homem provocava nela e de como nunca havia as sentido antes, tentou afastar-se dele. Entretanto, a mão grande e forte, agora sem luvas, subiu pela cintura e permaneceu lá. Os dois ficaram se entreolhando, esperando que alguém reagisse ou falasse algo.

Contudo, Nìcolla permaneceu calada. O que diria? Que estava ali fugindo do padrasto maluco e que estava imensamente atraída pelo estranho que acabara de conhecer? Marcollo tomou a iniciativa de tirar a máscara escura, que antes lhe ocultava não somente o rosto, mas também seus segredos mais obscuros, escondidos no fundo de sua alma.

A Herdeira Perdida - Série Apaixonados e Poderosos - Livro 3 (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora