Imperdoável II

1K 68 16
                                    

     A decepção que eu sentia, a dor daquela traição, era pior do que estar amarrada em uma fogueira. Nicolae estava me machucando de novo. Eu não podia acreditar.
     _ Você me odeia mesmo. Eu fui muito burra por não perceber isso antes. Você me feriu fisicamente, psicologicamente e emocionalmente. Não resta mais nada para você destruir. Olha para mim, seu traidor. Você disse que queria salvar sua alma. Olha bem para mim, e veja a sua condenação. Por que depois de tudo que você fez, não há a menor possibilidade de você ser salvo.
      Ele abaixou a cabeça, chorando.
      _ Chega de conversa. Vamos acabar com isso._ disse a bruxa chefe.
      _ Posso pelo menos saber porquê?_perguntei.
      Elas olharam para o Nicolae.
      _ Você sabe porque._ ela disse.
      _ Não, eu não sei. Não fiz nada para merecer isso. Eu briguei com a Sarah na escola. Mas, não é motivo para me matarem.
      Elas olharam sem entender.
      _ Você não lembra?... Só pode ser brincadeira. Você matou a Sarah. E nós teremos retaliação.
      _ Eu o quê?
      Era tão absurda aquela situação, que tive vontade de rir.
      _ Estive presa no porão sei lá quanto tempo. Não fiz nada.
      _ Sarah, Loan e Samantha foram encontrados sem vida, na quadra da faculdade. Podem ter feito todos acreditarem que morreram de overdose. Mas, nós sabemos que nenhum deles usava essas porcarias. Além do mais, não havia sangue em seus corpos. Foram totalmente drenados.
      Se era verdade que eles estavam mortos, era uma situação triste. Eu não desejava o mal de ninguém. Porém, o que eu tinha a ver com isso?
      _ Você é um monstro. Nicolae nos contou que sempre se alimentou de pessoas. Você é uma assassina, cruel e fria. Vai pagar com a vida, pelas vidas que tirou.
      Eu achava absurdo pagar por algo que eu não fiz. Esse era o jeito de Nicolae proteger a família? Sacrificar alguém, para evitar uma guerra?
       _ Eu não fiz nada. Vocês estão mentindo. Como você pode fazer isso comigo, Nicolae. Você sabe que eu não mato ninguém. Como pode me trair assim? Seu Judas.
        _ Não adianta tentar enrolar. Comecem a execução.
        Eu olhei chocada, enquanto um dos bruxos pegava uma estaca de madeira.
        Aquele ódio todo, com o qual me olhavam, era gratuito. Eu não tinha como me defender, como averiguar aquela história. E Nicolae parecia acreditar neles.
        Era muito injusto. Eu tinha passado por muitas coisas ruins, desde o acidente dos meus pais. Naquela hora eu quis morrer. Seguir eles. Só que isso mudou. Eu queria viver agora. O quanto fui machucada nos últimos tempos, não tirou minha vontade de viver.
        Olhei para Nicolae. Ele queria minha morte. E isso doía muito. Será que não havia um motivo para eu ficar viva? Não havia um propósito?
        Um bruxo segurou a estaca encostada em mim. E ergueu a marreta. Só pude olhar horrorizada, enquanto ele desferia o golpe com toda a força. Enterrando a estaca na minha carne, em direção ao coração. E foi uma dor dilacerante. Agonizante.  Eu gritei desesperada. Era tão cruel.
        De novo, só havia uma pessoa para me ajudar. Uma última esperança.
        _ Paaai!... Me ajuda!... Viktor. Socorro.
        Era minha única chance. Eu era grata a ele por me dar uma segunda chance, evitando meu suicídio. Se ele me ajudasse de novo, seria leal à ele, pelo resto da vida. Nicolae não merecia minha consideração.
        _ Não adianta implorar. Hoje você não escapa._ disse a bruxa._ Mais uma vez. Enterre ela toda. Até o coração parar de bater.
        O bruxo ergueu a marreta de novo. Olhei para Nicolae, que estava de costas para mim. Me abandonando.
        Ao receber o segundo golpe, a estaca atravessou meu corpo. Meu coração começou a ficar mais lento. Senti o gosto de sangue na boca. Eu nem tive forças, para gritar. Meu corpo ficou mole. Eu já não estava bem. Fiquei ainda mais debilitada. Não tinha jeito. Meu coração estava parando. Era o fim. Eu podia ouvir as batidas diminuindo. Meus olhos se fechando.
       _ Acendam a fogueira._ ordenou a bruxa.
       Senti o calor e sabia que estavam se aproximando com as tochas. Eu não quis abrir os olhos. Só queria que acabasse logo.
       A atmosfera mudou de repente. Ficou tudo frio. Arrepiei. Abri os olhos com dificuldade. Vi uma capa balançando na minha frente. Outras capas, estavam ali.
       _ Como ousam fazer isso com a minha filha?
        Era a voz de Viktor. E o alívio que eu senti foi enorme.
        _ Papai. Ajuda._ eu disse, fraca.
        _ Não se preocupe filha. Eu cheguei.
        Alguém me desamarrou. E me segurou.
        _ Não ouse interferir. Ou haverá guerra._ disse a bruxa.
        _ Acha mesmo que podem nos enfrentar?_ disse Viktor, irritado.
        A bruxa começou a proferir um feitiço. Viktor rapidamente, quebrou o pescoço dela. Depois atacou o bruxo que me machucou. Deu uma surra e depois o atravessou com um pedaço de madeira, da fogueira. As pessoas que vieram com ele também atacaram. No final, pela velocidade, força e dons, os vampiros ganharam sem nenhuma perda.
       _ Retire essa estaca._ ele ordenou.
       Um vampiro me segurou, enquanto outro puxou a estaca. O meu sangue esguichou. Sujando todos ao redor.
       _ Podem se alimentar dessas bruxas, malditas._disse Viktor.
       Ele se aproximou e encarou a ferida.
       _ Confie em mim. Posso te salvar.
       Mas, meu coração estava fraco de mais. Deu mais uma batida e parou. Fechei os olhos e caí em cima do Viktor. "Que ótimo! Morrendo nos braços de quem me salvou". Pensei irônica.

Is It Love? Nicolae - No limite do desesperoOnde histórias criam vida. Descubra agora