Família Bartholy

1K 88 7
                                    

     O rapaz me olhou de alto à baixo e ao fixar seus olhos em minha boca, franziu a sobrancelha. Era visível o que eu tinha acabado de fazer.
     Sem dizer nada, ele me puxou para dentro da casa e fechou a porta rápido.
     _ Espero que ninguém tenha visto você.
     _ Além do rapaz que eu mordi? Acho que não!
     Ele me encarou como se fosse me repreender. Antes que pudesse dizer algo, três pessoas se aproximaram. Descendo as escadas com uma expressão curiosa.
     _ Vigiem ela, eu vou resolver isso!_ ele disse me encarando com desaprovação!
     _ Vou com você!_ disse um garoto com um ar depressivo.
     _ E deixá-la com eles? Preciso que fique de olho nela.
     Ele saiu e eu fiquei encarando os três, na minha frente! Pelo visto aquele rapaz confiava mais no depressivo, do que no loirinho com cara de rebelde e na criança de cabelo rosa. "Tão nova e já pinta o cabelo?" Pensei.  O depressivo, de cabelo azul escuro, olhou para minhas malas.
     _ Bom, já que são todos vampiros, devo concluir que ouviram o que eu disse. Então, se apresentem. Irmãozinhos!
     _ Por que o papai criou você? Não precisamos de outra garota na casa.
     Aquela criança com cara de mimada, estava preocupada em perder o posto de princesinha da família?
     _ Prazer conhecê-la também!_ eu disse.
     O loiro não tirava os olhos da minha boca.
     _ Certo, acho melhor lavar a boca, antes de nos conhecermos. Onde fica o banheiro?
    O depressivo me indicou o local. Assim que tranquei a porta, sentei no chão e suspirei. Esperava ter parecido segura o suficiente! A verdade é que eu ainda estava tremendo por ter matado alguém. E me sentia idiota diante daquelas pessoas. Aparecendo do nada e me incluindo em suas vidas. O que deu em mim, para estar ali? "Mãe, pai, o que eu faço?" Deixei as lágrimas caírem, mas, abafei meus soluços e liguei a torneira da pia. Doía a morte de meus pais, que nem pude sepultar. E eu estava confusa com os acontecimentos recentes. Eu precisava de apoio. Mas, nesse momento eu tinha que ser forte. "Vocês iam querer que eu tivesse uma família? Mesmo não sendo humana?"... Era difícil acreditar que vampiros realmente existiam. Não caiu a ficha, do que eu era agora! "Condenei minha alma ao inferno!... Perdão!"... Olhei no espelho e minha aparência me assustou. O sangue nos lábios, manchando o queixo. Os olhos, que agora pareciam sem vida. Verde água. Minha pele pálida. Meu cabelo ruivo alaranjado, estava desalinhado. Ajeitei e passei uma água no rosto. Depois lavei a boca. Várias vezes. Mas, o gosto não saia. Estava registrado em minha mente! Respirei fundo. E com aquela máscara de segurança e um sorriso falso, eu fui conhecer minha nova família.
     _ E então, vamos nos apresentar? Eu sou a Lívia.
     Eles me encararam, analisando minha aparência.
     _ Você demorou._ acusou a menina.
     Minha paciência estava por um fio.
     _ Eu sou o Peter! Ele é o Drogo e essa menina é a Lorie.
     Como eu já tinha percebido, o rapaz de cabelo castanho, era o Nicolae. Um belo homem. Alto, forte. Mas, que pelo visto, tinha um lado paternalista muito rígido.
     _ Viktor pediu que eu viesse. Espero não ser um incômodo!
     _ Está tudo bem. Já passamos por isso!_ disse Peter.
     _ Quando ele te transformou?_ perguntou Drogo.
     _ Não sei. A dor sumiu hoje. Digamos, que são minhas primeiras horas, como vampira.
     A expressão deles era de que isso explicava tudo.
     _ Venha, vou te mostrar seu quarto.
     Eu segui o vampiro loirinho. Que era muito lindo. Aliás. Que família maravilhosa.
     Entrei pela porta que ele indicou. Coloquei as malas no chão e fui até a janela. Havia uma floresta atrás da casa. "Acho que já vi isso em um filme".
    _ Você bebeu sangue humano!_ ele disse em um tom sombrio.
     _ Claro que eu bebi. Sou uma vampira agora! Preciso me alimentar.
     Esperava que ele não notasse o meu desconforto. 
     _ Temos regras nessa casa. É claro que cabe a você, decidir se irá segui-las.
     Ele tinha um sorriso travesso.
     _ Por que tenho a impressão de que você não segue?
     _ Uma vida sem desafios não tem graça.
     Ele piscou um olho, com um sorriso atrevido. "Que gracinha, esse rapaz!" Pensei.
     Eu senti. Antes que o Drogo dissesse. Sabia que o Nicolae estava de volta. Apenas olhamos um para o outro e descemos, de volta à sala.
     Nicolae me encarava ainda bravo.
     "Só falta me colocar de castigo". Pensei.
     _ Eu fui até o local. O rapaz estava inconsciente, mas, não havia nenhum sinal de lesão.
     _ Como assim?
     _ Não havia marcas no pescoço dele.
     Todos olharam para mim, como se esperassem uma explicação.
     _ Não fiz nada!..._ eu disse.
     _ Ela despertou hoje._ disse Peter.
     Nicolae então, pareceu relaxar.
     _ Vou ter que ensina-la igual fiz com Drogo._ Ele passou a mão pelo cabelo e tive vontade de fazer isso também. _ Existem regras nessa casa. Temos que manter o anonimato. Não queremos chamar atenção para nós e sermos caçados. Então, não tomamos sangue humano. Nós vamos caçar de tempo em tempo. E nos misturamos como podemos. Drogo e Peter vão para a faculdade. Lorie, vai para a escola. Eu sou o chefe da família na ausência de Viktor. Trabalho no hospital.
     "Já vi isso em algum lugar".
     _ Um vampiro médico? Você deve ter um auto-controle incrível!_ eu disse.
     Ele deu um sorriso triste.
     _ Eu faço o que eu posso.
     Eu respirei fundo e me preparei para a discussão.
     _ Posso até me enturmar, entrando na faculdade. Mas, em nenhuma hipótese eu vou matar um ser inocente. Não sou um monstro.
     O rosto do Nicolae ficou tenso.
     _E matar um ser humano pode? Aí não é monstruoso?_ ele disse irritado.
     _ Pense o que quiser de mim. Não vou machucar nenhum animal. Eu amo animais. É injusto que eles paguem, pelo seu falso moralismo. Já vamos para o inferno mesmo. Então, que tal fazer direito? Prefiro me alimentar de humanos. Que são maus. Como esse rapaz de hoje. Você nem sabe o que ele fez! E já está me julgando, condenando e decidindo a sentença. Você acabou de dizer que não ficou marca no pescoço dele. Eu serei discreta.
     _ Não vou tolerar quebra de regras!
     _ Então, temos um problema. Porque você não é meu pai. E não vou agir contra o que ainda me resta de humanidade. Você é um monstro por caçar seres inocentes que não lhe fizeram mal algum. Se quer pensar que sou um monstro por caçar humanos, que fazem o mal, vá em frente. Sua opinião, minha opinião. Cada um no seu lugar. Vamos conviver pacificamente.
     Ele me encarou e senti calafrios.
     _ Por que o Viktor te mandou aqui?
     "Ops!"
    

Is It Love? Nicolae - No limite do desesperoOnde histórias criam vida. Descubra agora