Ecos da dor!

2.2K 108 20
                                    


Era uma tarde quente! Seguíamos pela rodovia, eu e meus pais. Eles insistiram em passar o feriado na praia. Sabiam que eu não gostava de sol e mar. Sempre preferi o frio, a neve. Mas, aqueles passeios em família eram muito importantes para mim. Não importa para onde quisessem ir, eu sempre os seguiria. Como filha única, me apeguei de mais a eles. Meus pais eram meu exemplo. Ver o amor entre eles, o carinho, cumplicidade, lealdade, me fazia ansiar por um casamento tão perfeito! Adorava ouvir suas histórias. Como se conheceram, como foi o casamento, quando eu nasci...

_ Seu pai ficou tão nervoso a primeira vez que fomos a praia. Ainda éramos apenas amigos e ele sempre foi muito tímido! Ficou me olhando de lado, tentando achar um jeito de me cortejar. Ele não sabia como eu iria reagir. Eu tive que ir até ele, perguntar porque estava estranho e se tinha algo para me dizer...

_ E se você não sentisse o mesmo e eu perdesse sua amizade? Eu não queria me afastar de você.

Olhando papai agora, nem dava para imaginar que um dia já foi tímido!

_ o que é aquilo? _ disse mamãe de repente.

Não houve muito tempo para reagir. O choque do impacto jogou nosso carro pelo barranco. Capotamos. E quando ele finalmente parou, a dor veio com força por todo meu corpo. Demorou para eu entender o que havia acabado de acontecer... Um caminhão descontrolado, mudando de faixa rápido de mais para ser normal, havia acabado de se chocar violentamente com nosso carro, nos tirando da estrada. Minha primeira reação foi verificar como estávamos.

_ Pai, mãe, está tudo bem?

Não houve nada vindo do meu pai. Minha mãe virou a cabeça para me olhar e sorriu. Mas, a dor era visível em seus olhos.

_ Você está bem, filha?

Sua voz saiu estranha.

_ Está doendo. Mas, acho que não foi nada grave._ respondi.

_ Isso é bom!... _ ela disse e seus olhos se fecharam.

_ mãe, não desmaia. Mãe...

Tarde de mais. Eu era a única consciente. Precisava fazer alguma coisa. Com dificuldade, alcancei meu celular e liguei para a emergência. Tive que digitar várias vezes para acertar o número, devido ao meu nervosismo. Eu tremia! "Vai ficar tudo bem" repeti para mim mesma várias vezes. Tive dificuldade de informar a nossa localização. Ao ouvir que estavam a caminho, finalmente eu pude respirar fundo. Um alívio. A ajuda viria.

_ Vamos ficar bem! A praia será adiada. Mas, vamos ficar bem._ eu disse para eles, embora não pudessem me ouvir.

A dor era imensa. Senti que estava me afundando na inconsciência. Devia estar delirando. Porque parecia vislumbrar um homem andando em nossa direção. Ele usava uma capa. Ninguém usaria uma capa naquele calor. Com certeza eu estava delirando. O Homem pareceu sorrir. Quem iria sorrir diante de um acidente? Fechei os olhos para espantar aquelas alucinações horríveis.

Minha pele se arrepiou. Calafrios! Eu talvez, não estivesse tão bem assim. "vai ficar tudo bem". Repeti para mim mesma!

Então, uma voz grossa e sussurrada chegou aos meus ouvidos... "Vou fazer com que fique tudo bem!"

Abri os olhos espantada, mas, não havia ninguém por perto. Até mesmo minha alucinação já tinha desaparecido. E dessa vez, meus olhos se fecharam sem resistência. Eu torcia para que a ajuda viesse rápido! "Por favor! Salve meus pais!" Foi a última coisa que pensei antes de embarcar na escuridão.

**********************

Aos poucos a consciência estava voltando. O acidente... Olhei ao meu redor e logo vi que se tratava de um hospital.

_ Você acordou!... Como está se sentindo?

_ Tonta!... Onde estão meus pais?

_ Vou chamar o médico para lhe dar a notícia!

As palavras da enfermeira fizeram meu sangue gelar. Mas, ela já havia saído antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.

Foram minutos angustiantes até a chegada do médico.

_ Finalmente você acordou. Como se sente?

_ Curiosa! Aonde estão meus pais? Eles estão bem? Posso vê-los?

_ Apesar dos seus ferimentos não serem graves, ainda precisa de repouso.

Ele não disse mais nada e eu tive que insistir.

_ Eu estou bem doutor, só quero saber como estão meus pais. Foram ferimentos leves não é?

Ele parou de verificar meu estado e me encarou.

_ Certas coisas é melhor dizer de uma vez. Três pessoas foram resgatadas do veículo. Somente uma tinha ferimentos leves... Você!... Nós fizemos o que podíamos pelos dois, mas, infelizmente vieram a óbito ontem a tarde. Os parentes já estão tratando do sepultamento. Acharam melhor você não ver!

Eu tinha entendido errado! Não era possível! Meus pais não podiam estar mortos. E ainda mais, iriam enterrá-los sem minha presença? Que pesadelo era esse?

_ Eu quero ver meus pais, quero ver meus pais! Onde estão os meus pais?_ gritei.

Ele logo veio com um sedativo!

_ Você precisa de repouso. Quando acordar de novo já estará melhor!

Mais uma vez caí na inconsciência.

**********************

Quanto tempo se passou até que eu acordasse de novo? Não sei. Me sentia sem chão. A fala do médico ficava martelando na minha cabeça. Eu queria acordar daquele pesadelo.

_ Você vai chamar alguém para te buscar?

Quem? Meus pais estavam mortos. Eu recebi alta e daí? Não tinha para onde ir mesmo!

_ Já tenho vinte e dois anos. Sou de maior. Posso ir sozinha.

Fui caminhando sem vontade, sem rumo. Sem acreditar. Eu queria gritar. "Porque não eu? porque não me levou e deixou eles? Porque só eu sobrevivi? Me mata também!" Afinal, minha vida não valia mais que a deles. Eu não tinha mais vontade de viver. A dor era maior que a do acidente! Era profunda. Como se tivessem arrancado meu coração. Me sentia sufocando! Precisava de alívio!...

Fui andando na direção da rua. Para o meio dos carros. "Um carro os levou, um carro me leva!" Simples e rápido. Decidida eu avancei para a rua no sinal vermelho e fora da faixa de pedestres.

De repente fui puxada com violência para trás. Os carros passaram buzinando!

_ Me solta, eu quero morrer! Me solta!

_ Tenho planos para você, mocinha!

Aquela voz grossa me lembrou do local do acidente. Olhei para o homem que segurava meu braço. Sua pele era estranhamente fria. Ele tinha cabelos pretos, como a noite, que lhe chegavam aos ombros. Barba aparada. Os olhos azul-anil eram frios como gelo. Uma pele pálida. Sem vida.

_ Quem é você, para interferir assim, na minha vida?

O homem mostrou um sorriso sádico! Que me deu calafrios!

_ Eu sou Viktor! Seu pai!

Is It Love? Nicolae - No limite do desesperoOnde histórias criam vida. Descubra agora