Dons

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     Senti de repente um frio na barriga. Desses que temos ao sonhar que estamos caindo. Só que no meu caso, era real. Eu estava no colo de alguém. Pelo cheiro, reconheci Nicolae. Me agarrei nele por instinto.
     _ Pretende dormir na árvore sempre? Já não basta ontem? Ou isso é para não ver chegarmos da caçada?
     _ Você me assustou. E não quero te ver hoje, mesmo.
     _ já viu.
     Mas, ele não tinha o cheiro da morte.
     _ Você não está fedendo._ eu disse.
     _ Me limpei antes de buscar você.
     Ele me colocou na cama e me cobriu.
     _ Como sabe que eu chorei e dormi na árvore ontem? Esteve no meu quarto?
     Ele não respondeu. Apenas me entregou o urso.
     _ Seja uma boa menina e durma na cama.
     _ Não sou criança.
     _ Sem pirraça.
     _ vai cantar para eu dormir?
     _ Não exagera.
     Segurei a mão dele.
     _ fica até eu dormir.
     Ele me olhou um instante e sentou-se na cama.
     _ Vai me dizer, porque estava chorando dormindo?
     _ Vai admitir que esteve no meu quarto?
     _ Boa noite.
     O segurei para ele não ir.
     _ Não quero falar disso. Ainda não me recuperei.
     Ele sentou - se de novo e fez um carinho na minha cabeça.
     _ Todos nós temos lembranças dolorosas. Com o tempo, você aprende a conviver. Vai ficar menos pesado.
    _ É bom ter vocês. Apesar de pensarmos diferente, eu gosto de você.
     Ele sorriu.
     _ Apesar da teimosia, você é uma boa menina.
     Eu sorri. Não queria estragar o momento. Ele podia me tratar como a Lorie. Se isso garantia momentos assim. De cumplicidade.
      Fechei os olhos para poder dormir. Então, senti um beijo gelado no meu rosto. Abri os olhos para encara-lo. Mas, ele não estava fazendo isso. Continuava sentado, segurando minha mão. "Além de sonhar, estou imaginando coisas?"
       _ O que foi?_ ele perguntou.
       _ Nada. Vai me dar um beijo de boa noite?
       _ Pensei nisso!_ ele disse e se inclinou sobre o meu rosto. Dando um beijo gelado, como se fosse deja vu.
       _ Que cara é essa?
       _ Tem como você me ensinar sobre ser vampira? Tudo relacionado?
       _ Quer fazer do meu jeito?
       "Quero!... Não disse o quê". Pensei e ri.
       _ Sua danadinha, o que foi agora?
       _ Não vou mudar de ideia, desista. Só me explica sobre eu curar feridas com minha saliva.
       _ Os dons?... Sim, eu explico. Agora durma. Eu preciso ir para o meu plantão no hospital.
       _ Obrigada. Por me aceitar na família. E por aceitar meu jeito carinhoso.
       Ele sorriu.
       _ Já basta a Lorie travessa. Ter uma menina doce em casa é bom.
       Ele se levantou. Parou na porta uma última vez e saiu.
        Fiquei com aquilo martelando na minha cabeça... "Eu pensei nisso". Eu tinha o dom de alterar memórias, mesmo não sabendo como fazer. Mas, aquilo me pareceu como, materializar o pensamento dele. Era mais do que ler sua mente. Era viver seu pensamento. Na noite passada, ele esteve no meu quarto. Porém, nunca entrou no lugar do urso. Ele só pensou. E para mim, foi real. Não foi sonho. Era a explicação mais lógica para mim. Por isso, eu precisava entender como funcionava meus dons. E, tomar cuidado com os pensamentos dele. Vai, que...
         
                     **********
 
     Drogo me esperou para me levar na faculdade.
     _Nicolae falou que você quer um carro. Um Bugatti. Uau! É um belo carro. A marca é sensacional. Mas, não é muito potente para você?
     _ Ele não explicou que prefiro moto? Mas, preciso de um carro por causa da Lorie?
     _ Você pode ter os dois. Viktor nem vai ligar. Quanto mais você aceita presentes dele, mais ligada fica.
     _ Ele não é papai?
     Drogo riu.
     _ Nesse caso é. Mas, nenhum de nós gosta dele.
     _ O que houve?
     _ Alguns conflitos. Digamos que ele levou minha ex, Mia Cooper.
      _ Trocou você por ele?_ fiquei chocada.
       _ Não foi bem assim.
       _ olha para mim... Não, você está dirigindo. Só escuta. Você é um bom homem. Merece uma boa mulher. Quer se divertir, tudo bem. Mas, se uma garota ganhar seu coração, entrar na nossa casa e te fizer sofrer... Eu acabo com ela.
       _ Irmãzinha super protetora é?
       _ Sim. Ninguém mexe com minha família!
       _ Está falando igual o Nicolae.
       Não sei porquê, mas fiquei corada ao ouvir o nome dele. Nenhum pensamento até o momento.
       _ Você vai na festa a fantasia?
       _ Vou. Vai ser na casa do Loan. É bem grande, tem piscina.
       _ Temos piscina também.
       _ Vai ter as gatas...
       Eu ri.
       _ Você caçou ontem?
       _ Precisei fingir. Agora podemos combinar aquilo.
       _ Verdade. Você precisa de sangue antes da festa. Então, hoje?
       Ele ficou em silêncio. Um pouco tenso. Seus dedos seguravam firmes o volante.
        _ Eu vou estar lá.
        Ele pareceu relaxar na hora.
        _ Hoje. Por que eu confio em você.
        Dei um beijo no rosto dele.
        _ Obrigada._ eu disse.
        Seria tão errado assim o meu jeito? Seria tão certo o jeito de Nicolae? Não era melhor cada um viver de acordo com o que acredita, sem impor sua opinião a ninguém. Não me senti culpada pela Lorie. Nem estava, pelo Drogo.
        Eu estava me saindo bem na faculdade. Tanto, que começava a gostar da profissão. Virar jornalista não era mais uma imposição do Nicolae. Era uma vontade minha.
        Quando a aula acabou, fui com Drogo até a rua de trás da faculdade. Já tinha avisado Peter que ia atrasar um pouco.
        Drogo parecia nervoso. Eu segurei o braço dele e sorri. Ele respirou fundo.
        Eu me escondi e esperei. A garota foi encontrá-lo, achando que teria outra coisa. Ele até chegou a beija-la. Depois foi direto ao seu pescoço. Ele mordeu. Eu me aproximei nessa hora para ela me ver. Seus olhos ficaram vidrados. Esperei um pouco. E então, reparei em algo... Ele estava... gemendo? Fiquei tão chocada que esqueci de parar ele. Levei um tempo para voltar a realidade. Segurei o braço dele.
      _Drogo, pare.
      Não sei se foi o pânico na minha voz, mas ele parou. E me olhou com seus olhos vermelhos. Ele se afastou. Eu passei o dedo na língua e coloquei sobre a ferida, que se fechou na hora. Era como molhar o dedo para virar a página de um livro. Drogo lambeu os lábios. Voltou ao normal com um sorriso no rosto.
       _ Você é incrível Lívia.
       _ Eu tenho que te agradecer. Por sua causa, eu entendi o que ele quis dizer.
        Para nos interromper, a garota saiu do transe.
        _ Qual é o seu problema? Não importa se ele é seu irmão. Você não decide com quem ele fica.
        A garota segurou a mão do Drogo e o arrastou para longe.
        Eu dei risada. Era ótimo que a mente dela tivesse criado algo assim. Era incrível. Eu estava começando a gostar desse dom.
        Entrei no carro de Peter, rindo. Ele me encarou sem entender.
       _ O que houve?
       _ Estou gostando de ser vampira.
       Ele me olhou como se eu fosse louca.
        _ Cada um com seus gostos.
        Ele deu partida e eu voltei meus pensamentos em outra direção. Aquilo que Nicolae achou que eu sentiria, além de satisfação e poder... Era prazer!... Percebi isso observando Drogo. Mas, comigo era diferente. Eu não sabia porquê. Só que não falaria disso com Nicolae. Não mesmo.
        Chegamos em casa e Peter me convidou ao seu quarto, para tocar para mim, as músicas que eu pedi. "The Meadow", "Bella's Lullaby". Eu escutei Peter tocando e foi maravilhoso. Me emocionou.
     _ São boas músicas. Se quiser mais é só pedir.
     _ Não quero explorar seu talento.
     Ele riu.
      _ Está tudo bem agora? Você chegou aqui tão triste.
      _ Está mais suportável._ eu disse._ Sabe como posso saber quais são meus dons e como treina-los?
     _ Aparecem aos poucos. Você se concentra. Deixa vir aquele impulso e libera.
     _ ok. Vou me concentrar.
     _ Quer manipular mentes?
     _ Quem sabe...
 

  Dei um beijo no rosto dele e voltei para o meu quarto. Eu só pensava nos meus dons...

       
  

    
   

Is It Love? Nicolae - No limite do desesperoOnde histórias criam vida. Descubra agora