Impulso Inconsequente

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     Andamos de mãos dadas, em direção à casa. Não dissemos nada.
     A risada de Lorie chegou até nós. A pestinha estava enterrando Peter na areia. Deixando só a cabeça exposta.
      _ Lívia, venha me ajudar!
      Ela gritou quando me viu.
      _ Quer ser enterrado?
      Nicolae sorriu.
      _ Se isso diverte essas princesas. Posso fazer um esforço.
      Nós fomos até eles. Nicolae deitou na areia.
      _ Ei, irmão. Está se divertindo?_brincou Nicolae.
      _ Ela está. Você conversou com a Lívia? Vai parar de se preocupar com ela?
      _ Eu sei que ela é uma boa menina e não vê os humanos como Viktor vê. Só tenho medo de até que ponto ela obedece o Viktor. Ele mandou ela vir... E ele não faz nada sem um motivo.
      Ignorei os dois e juntei areia com a Lorie.
      _ Onde está Drogo?
      _ Ele correu para a água. Não quis brincar comigo.
      Olhei para o mar e vi Drogo nas ondas.
      _ Então, vamos brincar com esses.
      Nós enterramos os dois. E depois deitamos ao lado deles, para tirar fotos.
      _ Agora é nossa vez. _ disse Peter.
      Eles se levantaram. Lorie não protestou. Estava rindo, quando deitou.
      Nicolae me lançou um olhar cúmplice. Me deitei e deixei ele me cobrir de areia. Os dois também tiraram fotos.
      Da água, Drogo gritou para nos juntarmos a ele. Lorie saiu feito bala da areia.
      _ Vamos afogar o Drogo.
      Nós rimos e corremos atrás dela.
      Virou uma confusão. Todo mundo jogando um ao outro na água. Correndo na areia, pulando onda, mergulhando, rindo. Se divertindo como uma família de verdade. Acompanhamos o sol se pôr. Tiramos fotos juntos. E naquele momento, eu agradeci muito, por Viktor ter impedido meu suicídio. Eu teria perdido tudo aquilo. Tenho certeza que meus pais iam querer o melhor para mim. Querer minha felicidade. E não importa se eu a encontrei entre os vampiros. O que importa é que eu tinha encontrado meu lugar no mundo. Mesmo, que fosse nas sombras.

********

        Após aquele maravilhoso fim de semana na praia, retornar às aulas, foi difícil. Já ficou registrado na memória e eu nunca esqueceria, como me senti aceita. Parte daquele clã.
      Mas, como nem tudo são flores. Eu sabia que fazer parte de um clã de vampiros, atrairia muitos inimigos. Os lobisomens eu ainda não tinha visto. Mas, as bruxas sim. E Sarah estudava na mesma faculdade. Era impressionante o número de vezes que cruzamos o caminho, naquela semana. E eu evitei o conflito. Porém, a vontade era de deixar Lorie brincar com ela.
       A necessidade de sangue apareceu. O alvo mais fácil era meu colega de turma. Marcos. O "Pepsi", em questão, me ajudou muito com as matérias que eu perdi. Toda essa gentileza só podia ser interesse, pela minha aura de vampira.
        _ Que tal se nós formos dar uma volta após a aula?
        Os olhos dele brilharam.
         _ Claro. Onde você quer ir?
         _ Tudo bem se formos ao beco, aqui ao lado da faculdade?
         Vi o sorriso sacana que ele deu.
          _ Tudo bem. Você é bem direta hein.
          _ É que estou com fome. Ou deveria dizer... Sede?
          Os olhos dele se estreitaram. Eu nem queria saber o que o idiota estava pensando.
          Quando a aula acabou eu falei baixo.
          _ Seja discreto. Te espero lá.
          Saí primeiro e encontrei Drogo.
          _ Estou com sede. Pode ir para casa primeiro.
          _ Eu vou. Mas, quero me alimentar da fonte de novo.
          _ Quando você quiser. Sempre que quiser. Apenas sejamos discretos. Não sei o que Nicolae faria se soubesse.
          _ É melhor ele não saber.
          Drogo entrou no carro e deu partida. Eu me dirigi até o beco, ao lado da escola. Não demorou para Marcos aparecer. "Pode ser você mesmo". Pensei. "Pode ser, Pepsi". Eu ri, enquanto ele se aproximava. Para evitar qualquer contato dele, já usei a velocidade e força de vampira, para jogá-lo contra a parede. Olhei em seus olhos, esperando o dom fazer efeito e o mordi. Veio o sangue que satisfazia a sede. Veio a sensação de poder. Mas, após experimentar o sangue de Nicolae e todas aquelas sensações, não conseguia me satisfazer. Era como beber água e continuar com sede. Mesmo, tendo amenizado um pouco. Eu não podia exagerar. Não era minha intenção, matá-lo. Afastei a boca. Apenas lambi a ferida para fechar. Então, senti que me observavam. Não era o rapaz. Que continuava com os olhos vidrados. Olhei ao redor e não vi ninguém. Então, senti que era erguida no ar. E logo estava passando por cima das casas. Percebi que estava nos braços de Nicolae. Mas, havia algo errado. A energia que emanava dele estava agitada. Não era sua calma aura de vampiro. Seus olhos estavam vermelhos. Tinha certeza que as presas estariam à mostra. Ele estava com raiva?
        _ Ei, só estava me alimentando. Você sabe que tomo sangue de humanos. Eu já disse que não sinto nada por eles.
       O olhar que ele me lançou, fez meu sangue gelar. Mais do que já era. Deu medo daquela expressão assassina. Aquele era o vampiro Nicolae. Não era o médico, irmão mais velho, chefe da família.
        Ele continuou comigo no colo e só parou quando chegou em frente ao seu quarto.
       _ Peter, leve Drogo e Lorie para passear.
       A voz dele saiu assustadora.
       Peter com sua audição de vampiro, logo apareceu acenando com a cabeça e foi reunir os irmãos. Nicolae continuou me encarando até ouvir o som do carro se afastando.
       _ Eu não fiz nada.
       Eu tinha medo de ser castigada, sem nem saber porquê.
       Ele segurou meu queixo. Sua expressão era assustadora. Seu maxilar mostrava a tensão. Ele parecia muito irritado. Furioso.
       _ Nicolae... só me alimentei.
       Ele pareceu ficar ainda mais nervoso.
       _ Por que não pode ser do meu jeito?
       A voz dele saiu ameaçadora.
       _ Não posso matar animais. Prefiro sangue de humanos. Não matei ninguém. Por que não pode ser do meu jeito?
       _ Eu tento explicar e você não entende._ ele gritou. _ É fácil perder o controle.
       Só que o descontrolado era ele.
       _ Me deixe. Eu não fiz nada.
       _ vou ter que te explicar de novo. Antes que coloque a família em risco.
       Ele me prensou contra a parede e me beijou de um jeito bruto. Não lembrava o Nicolae carinhoso da praia. Ele estava totalmente descontrolado. Tentei empurrar ele. Mas, ele apenas abriu a porta do quarto. Me arrastou com ele. Trancou a porta e me jogou na cama.
        _ Pare. Você está descontrolado. Se acalme. Tome meu sangue. Vai ficar tudo bem.
       Os olhos dele se dirigiram ao meu pescoço. Ele deitou em cima de mim e me mordeu. Forte e fundo. Tarde de mais eu lembrei o efeito da mordida. Podia até acalma-lo. Mas, eu...
       Ele se ajeitou entre minhas pernas, enquanto bebia meu sangue. Senti sede. Senti o corpo estremecer. Minhas mãos subiram por suas costas, por baixo da blusa. E um gemido escapou por meus lábios. Nicolae voltou a me beijar. Antes que eu me desse conta, ele já havia arrancado sua blusa. Sem nenhum cuidado. Ele rasgou minhas roupas. Mas, eu já havia perdido o controle também. Então, não reagi. Senti suas mãos me tocando. Seus lábios descendo por meu pescoço. Em algum lugar da minha mente, havia a mensagem "pare". Mas, foi sufocada pelo gemido de Nicolae, quando puxei seu cabelo. Eu nem me lembrava o porquê deveria parar. Nesse ponto, minhas presas já haviam crescido. Meus olhos deviam estar vermelhos, como os dele. E eu o mordi. Encontrando enfim, a satisfação. Ele gemeu de novo. Me tocando sem pudores. Se esfregando em mim. Nossas respirações se tornaram ofegantes. Eu nem sei quando foi que todas as roupas desapareceram de vez. Só senti ele se encaixando entre minhas pernas. E a dor que veio, quando ele tentou me invadir. Por um segundo, ele me olhou nos olhos. Eu sorri e ele continuou. Nenhum de nós tinha condições de parar. Já havíamos ultrapassado o limite. Era um prazer enorme, indescritível. Pertencer a Nicolae. Era o ápice da felicidade. Mesmo sendo de um jeito inesperado, brusco. Eu ainda estava feliz e satisfeita. Não foi o que eu imaginei. Do jeito que eu sonhei. Mas, foi com o homem certo. Aquele que fazia meu coração bater mais forte.
       Ele saiu de cima de mim. Sentou -se na beirada da cama. De costas para mim. Eu não podia ver seus olhos. Mas, já deviam ter se acalmado. Eu me sentia calma. Sob controle. Satisfeita. Feliz.
       _ Saia!
       Demorei para entender o que ele tinha dito. E quando entendi, não acreditei.
       _ Ei, tudo bem. Não estou brava com você. Sei que perdeu o controle, mas...
       _ Exatamente!...
       Ele se levantou. Se afastando.
       Sentei na cama, puxando o lençol para me cobrir.
        _ Eu vivo com medo de você perder o controle e fui eu que perdi... Foi isso que o Viktor mandou você fazer? Usar seu corpo? Para que eu me submetesse as ordens dele?
        _ O quê? O que pensa que eu sou? Foi você que me agarrou. Eu não te provoquei. Não coloque a culpa em mim. Eu aceitei porque eu gosto de você. O que ficou bem óbvio depois daquele dia na praia.
        _ Você só estava me tentando. Até o limite. Até eu perder o controle. Aquilo que me mostrou...
        _ Eu não tenho controle sobre meus dons e você sabe disso. Não faço a menor ideia do que você viu. Mas, é o que você queria ver. Você esteve pensando nisso faz tempo.
        _ Vista-se e saia. Preciso ficar sozinho.
        Como podia a gente ir do céu ao inferno em tão pouco tempo? Como uma lembrança doce podia tornar-se amarga? Como um coração feliz, podia doer tanto? Algo se partiu em mim. Eu fiquei sem chão. Sem ar. Sem saber o que fazer. Porque era tão errado assim, perder o controle? Qual era o problema de termos nos entregado um ao outro? O que Viktor tinha a ver com isso?
       Sentindo a vergonha e humilhação, eu juntei o que sobrou das roupas que ele rasgou e fui até a porta. Parando só para dizer uma última coisa...
        _ "Sai", não é o que uma garota espera escutar, do homem que tirou sua virgindade.
        Com o coração dilacerado, eu saí batendo a porta. Estava cansada das paranóias de Nicolae. Eu não ia mais me importar com o que ele pensa. Ele não tinha moral para me criticar. Eu ia fazer tudo do meu jeito. Sem me esconder. Depois do que ele fez... Perdeu meu respeito.
        Fui direto ao chuveiro e deixei a água me limpar. De repente, estava me sentindo suja. As lágrimas vieram e eu não me importei em abafar. Eu queria gritar de dor. Aquele meu sonho de ter um relacionamento como o dos meus pais, se desfez diante de mim. Me senti culpada. Como se tivesse feito algo muito errado. Aqueles momentos na praia, pareciam tão surreais agora.
        Eu já estava cansada de tudo aquilo. Não fiz nada para merecer tal tratamento. Mas, agora eu já não ligava mais para nada. Eu finalmente entendi. Depois da morte dos meus pais, fiquei sozinha no mundo. Eu ainda estava sozinha. Mesmo fazendo parte de um clã.
      
     

Is It Love? Nicolae - No limite do desesperoOnde histórias criam vida. Descubra agora