Capítulo 4 - Uma carta e lembranças dolorosas

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Querida senhorita Lilith White...

Não, desculpe-me, você poder ser arquiteta bem-sucedida, mas para mim e Sam você sempre será Lilly. A nossa Lilly.
Eu juro que fiz de tudo para te entender, mas foi tão difícil passar por tantos momentos importantes para mim e não ter minha irmã por perto.
Sempre quis que você conhecesse meus sobrinhos mas não aconteceu, não enquanto eu estava vivo porquê afinal se está lendo essa carta, é porquê eu morri...

- Senhorita White, me chamou? - Laura invade minha sala interrompendo minha leitura.

- Quantas veses eu vou ter que te dizer para bater na porta antes de entrar?

Dobro a carta e a ponho dentro da minha bolsa rapidamente.

- Desculpe é que a senhora me chamou e...

- Tudo bem, tudo bem. Já que está aqui vamos ao que interessa, quero que procure para mim uma casa.

Laura me encara. Percebo seu olhar de indagação através das lentes de seu óculos de armação clichê.

- A senhora vai se casar? - Seu comentário inusitadamente me faz fazer algo que a muito não faço, gargalhar.

O que faz Laura arregalar os olhos, e estranhamente constrangida ela começa a gargalhar juntamente comigo.

Rapidamente volto a minha postura séria.

- Não Laura, não irei me casar. E mesmo que eu fosse não seria algo da sua conta.

Ela também fica séria.

Muito bem é assim que eu gosto de ver as pessoas ao meu redor, sérias.

- Quero que a casa tenha no mínimo dez quartos.

- Dez?

- Sim, dez, e quero logo!

Ela assente e anota tudo.

- Senhorita?
Ela me chama enquanto eu digito algumas coisas no computador.

- Sim Laura.

- As dez tem reunião com o senhor Philips, não se esqueça.

- Nunca me esqueço de um compromisso. Agora vá.

Ela assente e segue seu caminho até a porta.

Mas por alguma razão me chama novamente.

- Senhorita Lilith?

- O que é Laura?

- Só mais uma coisa. - Dessa vez eu a encaro. - Tem batom no seu dente.

Por um momento eu fico em silêncio. E a encaro friamente.

- Fora da minha sala agora! - Falei calmamente.

Ela saiu num pulo.

Ligo meu celular na câmera frontal e observo meu dente.
O.k. tinha uma manchinha. A limpo rapidamente.

E mais uma vez me permito sorrir hoje.

- Só essa maluca pra me fazer sorrir.
Mas afinal aquela frase da carta não saia de minha cabeça.
"Afinal, se está lendo essa carta é porque eu morri."

Mais tarde eu tentei continuar a leitura da carta mas eu não consegui

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Mais tarde eu tentei continuar a leitura da carta mas eu não consegui. Tudo o que fiz foi reler ela novamente e parei novamente onde eu já tinha parado esta manhã.

Aliás esta manhã recebi flores e desejos de pêsames pela minha perda. A ficha de que eles morreram ainda não caiu, para mim, na minha cabeça eles estão ainda no Texas cuidando de seus filhos.

Mas não adianta eu me enganar, devo aceitar a realidade, e a realidade é que eles se foram e agora eu serei responsável por sete crianças. O pior é que nunca cuidei de criança, talvez se minha Geórgia tivesse viva seria mais fácil, tudo seria mais fácil se ela tivesse viva...

Eu realmente escolhi bem o nome da minha filha, meu irmão cuidou muito de mim enquanto ela esteve aqui, ele fez o papel de pai que Nando não pode fazer.

A morte sempre me afastando das minhas pessoas.
Sempre.

O som do telefone tocando me tira de meus devaneios. Olho na tela e percebo que é o advogado Logan.

- Alô? - Tento fazer de tudo para minha voz sair o mais normal possível. Com a outra mão enxugo as lágrimas.

- Liguei para avisar que as crianças vão na próxima semana.

- Tudo bem.

- E tem uns assuntos sobre a herança que os pais das crianças deixaram que é melhor resolvermos pessoalmente.

- Sim, quando você tiver aqui.

- Lilith está tudo bem? Sua voz está estranha.

- Estou apenas com um resfriando, nada grave.

- Então melhoras e até próxima semana.

- Obrigada e até.

Corro para o banheiro e lavo o rosto.

- Pare de chorar, você é Lilith White, a mulher conhecida por sua frieza.

Digo a mim mesma encarando o reflexo no espelho.

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Agradeço muito a quem está acompanhando a estória, cada leitura, estrela ou comentário me tem um valor gigante.
Quem puder e quiser divulgue essa estória me faria muito feliz.
Lhes desejo o melhor, beijos

Mãe por acaso. Onde histórias criam vida. Descubra agora