A outra Face

Um quase homem impaciente

No capítulo anterior:

-O que é tão urgente assim?

-Ângela.

Apenas essa palavra foi o suficiente para Jacob provar que o assunto era sério. Minha intuição dizia que ia vim problemas. Muito problema.

Ângela era daquelas pessoas que não se metiam em confusão quase nunca mas quando se metiam era em uma merda muito grande.

Um pouco receoso perguntei.

-O quê aconteceu?

-Ela diz que está gravida.

[...]

-O quê?

-Foi o que seu advogado disse. Segundo ele seria essencial que você viesse, afinal se tratando de um filho o perdido de divorcio pode ser revogado. Estas foi as palavras do advogado.

Ângela esta gravida.

Grávida.

Ângela esta gravida!

Grávida!

-Estou voltando agora. Segura as pontas enquanto chego aí.-desliguei o celular e fiquei olhando para o teto sem enxergar nada.

Como era possível ela está grávida? Havia o controle de natalidade. Sempre usei preservativo, e quando não Ângela usava anticonceptivo. Se fosse qualquer outra mulher eu acharia isso um tremendo golpe. Agora eu estaria ligando para meu advogado rindo e dizendo que essa noticia era uma besteira. 

Por mais que a bondade e a generosidade não fosse algo essencial no dia a dia de Ângela, e ela não fosse nem um pouco maternal ela tinha o desejo de ser mãe. Isso não é segredo para ninguém.

Portanto existe uma grande possibilidade disso não ser um golpe. Passo a mão no cabelo impaciente, maldita hora que eu fui para aquela festa e a encontrei. Se Ângela queria ser mãe comigo era o completo oposto. Além de eu não ser nem um pouco paternal eu com toda certeza não tinha nenhuma intenção de ser.

Conheci Ângela uma semana depois que Jéssica e eu estávamos divorciados. Eu sempre gostei de variar loiras, morenas, ruivas... E depois de uma loira sempre gostei de ter uma morena. Que aliás são minhas preferidas. E de todas minhas ex esposas eu já sabia como nosso relacionamento iria ser e como iria terminar e isso era tudo.

O começo sempre mudava, nunca era a mesma coisa mas a essência não, era sempre a mesma. Eu conheci cada uma em um lugar diferente e em uma ocasião totalmente diferente mas todas de certa forma só mudava o corpo e o rosto porque todo o resto era a mesma coisa principalmente a futilidade. As minhas únicas regras eram que tinham que ser gostosa e cabeça oca.

O resto não era tão importante. E seguindo direitinho minhas regras eu conseguia me esquivar de qualquer armadilha do coração. Pra mim não existe a outra face e nunca vai existir. A dignidade, a bondade e tudo isso não são requisitos para minha vida.

E depois de anos fugindo de responsabilidade que me impedisse de deixar qualquer mulher acontece esse imprevisto. Mas bem, por mais que haja uma possibilidade de Ângela esta grávida não custa nada averiguar. Quem sabe eu não sou o pai? Pode ser apenas uma vingança. Ela querendo me dá um susto.

Solto um suspiro e levanto da cama. Bom pode ser que este seja um sinal, vai ser bom sai e arejar a cabeça longe de encatadores olhos violetas.

Vou para o banheiro e em poucos minutos estou pronto, pego minha carteira, celular e as chaves do meu carro. Algo estava me incomodando desde quando percebi que teria que sair dessa casa e dessa cidade. O que é ironico considerando que pouco tempo atrás isso era tudo que eu queria fazer.

Enquanto eu abria a porta do meu quarto a necessidade de ver Isabella pelos menos mais uma vez bateu tão forte que sem perceber eu estava percorrendo o longo corredor em busca do quarto de Rosie.

Encontrei a porta entreaberta e o quarto pouco luminoso, apenas um abajur acesso iluminando duas pessoas precariamente. Isabella estava em uma cama junto com Rosie. As duas estavam sentada conversando. Eu estava satisfeito de não encontrar Isabella no chão.

Tentando não fazer barulho tentei escutar o que sussurravam.

-Você não pode dizer pra ele.-Isabella praticamente implorou.

-Eu nunca disse que iria, mas você têm que dizer. Ele vai perceber um dia.

-Eu sei certo. Mas eu não quero que ele me veja com outros olhos. Eu não quero que ele veja o monstro que eu sou.

Porra. Que merda ela estava falando? Ela não é um monstro longe disso. Ela se encaixa na categoria anjo.

-Não Isabella você não é um monstro. Não fale isso.-eu já ia entrar no quarto concordando com as palavras sabias de Rosie e pensando em outras pra falar quando fui impedido por uma ação de Isabella.

-Eu sou um monstro. Olha isso Rosie.-arrancando a máscara preta que usava mostrou o rosto para Rosie ligando o abajur do seu lado. A soma da luz deixou o quarto mais claro proporcionando uma visão melhor.

E então eu vi.

Uma grande cicatriz vermelha que eu podia apostar que pouco tempo atrás estava em carne viva. A linha não muito sarada ia de sua testa até quase seu queixo.

-Eu sou totalmente desfigurada, repugnante e inconpleta.-a voz tremula e na defensiva fez meu coração perder algumas batidas.

Escondendo o rosto e pegando sua máscara Isabella correu para o banheiro de Rosie me deixando sem reação. E Rosalie no mesmo estado.

Como se anestesiado dei um passo para trás, depois outro, outro e outro e sem perceber eu já estava dentro do meu carro na estrada.

Eu não conseguia pensar em nada. Na minha mente estava a imagem da cicatriz que quebrava em pequenos pedaços a perfeição de Isabella. E por horas eu esqueci que provavelmente seria pai e que tinha um grande divórcio para enfrentar.

Mas de uma coisa eu tenho certeza. Por mais que Isabella possua olhos violeta deslumbrante meu interesse por ela sumio tão rápido quanto apareceu. Primeiro porque ela poderia se apaixonar por mim e segundo porque eu nunca iria corresponder.

Seria impossível eu me apaixonar por alguém com aquilo no rosto. Principalmente porque sempre gostei de pele macia, suave sem nenhuma imperfeição. E Isabella em um lado do rosto não cumpria nenhum desse requisitos.

Sendo assim eu não tinha com que se preocupar. Eu nunca vou me apaixonar por ela.

Infelizmente dentro da minha cabeça tinha uma voz que dizia em alto e bom tom que aquilo tudo que eu estava pensando era uma tremenda besteira.