Good Enough - This Town

Save Myself

"A vida pode te derrubar, então eu apenas anestesio como eu a sinto
Eu a afogo em bebidas e comprimidos vencidos
E todos os que me amam, eles apenas me deixaram numa prateleira
Sem despedidas
Então antes que eu salve alguém, eu preciso salvar a mim mesmo"

(Ed Sheeran - Save Myself)

CHARLOTTE

O silêncio que se seguiu não poderia ter sido mais constrangedor. Minha mente trabalhava em mil possibilidades para entender a razão que o levou a estar no time. Como ele passou de protegido para um agente do FBI? Liam permitiu isso de forma fácil? A quem eu estava tentando enganar? A pergunta que mais queria que fosse respondida era a que envolvia quanto tempo ele demorou a me esquecer e estar com outra.

Poucos segundos olhando para o rosto de Megan e já queria matá-la. E isso fazia com que eu continuasse sendo alguém completamente egoísta – coisa que tentava fazer desaparecer para me tornar melhor para minha filha – porque era óbvio que ele estava feliz. Ele comprou flores para ela. Flores estupidamente vermelhas, bonitas, perfumadas. Será que ele as colocou no quarto dela quanto decidiu fodê-la pela primeira vez? Como exatamente fez comigo?

- Você poderia disfarçar um pouco que está puta de ciúmes – Louis sussurrou com uma voz de quem sabe muito bem o que está dizendo – Mas sequer isso adiantaria, porque ele está muito bem com ela. Megan o merece.

Dizendo isso, implicitamente mostrando que eu não o merecia, saiu de trás de mim para se prostrar a minha frente, sorrindo para Megan no meio do caminho. Eu queria socar sua cara. Filho da puta provocador. Sua cordialidade mais cedo estava desaparecida, afinal, tinha conseguido o que queria, eu estava aqui e iria trabalhar para o FBI.

Philips puxou meu cotovelo e me vi protelando só para olhá-los mais um pouco. Nenhum deles falou nada, apenas Miranda parecia achar toda aquela cena desnecessária porque suspirou pesadamente antes de eu sair daquela sala.

O agente mostrou-me o resto do departamento, sabia que estava recebendo vários olhares, mas não estava prestando atenção em nenhum deles. Tudo que eu queria era estar frente a frente com eles e descobrir o tamanho do ódio que sentiam por mim.

- Eu sabia que seria desconcertante – Philips disse assim que paramos de volta ao andar principal – E que isso provavelmente abalaria a sua disposição em nos ajudar.

- Como eles vieram parar aqui? – perguntei sem me importar com a versão da história que o contaram.

- Acho melhor eles te dizerem isso – suspirou – Prefere se acomodar ou quer ouvir melhor sobre os criminosos?

- É melhor voltar depois – falei depois de ter passado alguns segundos pensando naquilo – Onde eu ficarei?

Ele coçou a nuca – Eu tentei meio que mudar isso, mas são normas – riu desconfortavelmente – Vai ficar no mesmo prédio que eles. Todos os agentes ficam juntos.

- Pelo menos andares diferentes?

- Sinto muito.

Bufei – Onde vou arrumar disposição para ver a secretária gostosa saindo do quarto do meu ex-namorado?

- Harry disse que vocês não chegaram a namorar. Apesar de vocês terem tido um lance bem intenso.

Ergui a sobrancelha – Foi isso que ele disse? Que tivemos o lance?

Ele gaguejou – Não quis dizer isso. Céus, não olhe como se estivesse planejando me matar.

- Talvez eu precise conversar um pouco com aquele filho de uma... – engoli a frase no meio do caminho e não foi porque ele segurou meus ombros para impedir que eu andasse até a sala onde eles estavam. Foi porque Anne havia sido tudo, menos aquilo. No mesmo instante, meu peito reagiu a sua memória. A dor de vê-la morta havia me atingido mais do que imaginei. Talvez porque não havia conseguido me perdoar por ter deixado aquilo acontecer.