— Srta. Black, um minuto por favor.
A voz esganiçada de Flitwick fez Emma voltar um passo atrás no mesmo segundo. Apesar dos problemas que tinha com Marlene, sempre se dera bem com os professores. Eles a elogiavam pelas ótimas notas e comportamento exemplar, fora que os que se dispunham a entender minimamente a mente da menina, sentiam-se magnetizados por ela.
Mas os professores de Hogwarts eram diferentes dos que ela tivera até aquele momento. Rigorosos, exigindo o melhor de todos os alunos, sem enaltecer nenhum. Davam a impressão de serem apaixonados por lecionar e pelo que lecionavam (exceto um), mas não de gostar muito dos alunos e muito menos ter favoritos.
Imaginou que Flitwick a chamara para apontar uma falha em seu desempenho nas aulas. Era óbvio que ele percebera o quão desajeitada ela era.
— Sim, professor?
— Seu pai me enviou uma coruja esta manhã. Disse que você estuda ballet durante o verão. É um tipo de dança trouxa, estou certo?
— Sim, senhor.
Emma se aproximou do diminuto professor, se perguntando onde ele queria chegar com aquela conversa.
— Ele também disse que precisaria de um lugar para praticar, do contrário, será cortada do programa de verão, então eu pensei que poderia usar a minha sala.
— Obrigada! Quando posso começar?
— Agora mesmo. Apenas deixe-me... — ele agitou a varinha e música clássica começou a tocar. Emma reconheceu a melodia usada nas aulas da srta. Marplen. — Até logo, senhorita.
Uma vez sozinha, Emma se aqueceu e iniciou a sequência de passos que srta. Marplen fizera os alunos decorarem à perfeição. Nem percebeu o tempo passando, só se deu conta que devia ir embora quando o professor bateu à porta, avisando-lhe que já fazia duas horas que estava ali e ele precisava usar a sala.
Correu para a sala comunal. Suas colegas de quarto tinham livros abertos no colo e liam atentamente, sem se importar com as conversas dos outros alunos.
— Emma! Hey, Emma!
Era Fred quem a chamava, para se juntar a ele em uma partida de Snap Explosivo. Enquanto distribuía as cartas, o garoto juntou coragem para começar a conversa:
— Onde foi depois da aula de Feitiços?
— Ensaiar. Flitwick deixou que eu usasse a sala dele.
— Ah, o ballet! Posso ver qualquer dia desses?
— Quem sabe. Se ganhar dez partidas contra mim. E se eu ganhar... vai fazer meu dever de Transfiguração por uma semana, e o quero perfeito, sem nenhum erro, topa?
— Negócio fechado.
Sirius e Remus jogaram Snap Explosivo com Emma algumas vezes durante o verão, e haviam lhe ensinado alguns truques muito úteis quando se joga com Fred Weasley.
— Ganhei — ela anunciou orgulhosa.
— Droga. Quanto a quanto?
— Oito a cinco para mim. Precisa virar o jogo se quiser se livrar do dever extra.
— Eu vou virar, acredite em mim.
Emma não acreditou de primeira. Ela só precisava ganhar mais duas para vencer a aposta, era estatisticamente improvável uma mudança tão drástica, mas é claro que ela não podia se descuidar.
Ele ganhou a próxima. E a próxima. E a próxima. E a próxima. Nove a oito. Ela precisava se mexer. Usou toda estratégia possível para vencer, e conseguiu. Nove a nove. Ambos suavam frio, cientes que era a partida decisiva. Não que Emma tivesse vergonha de dançar ballet na frente de Fred, mas odiava perder e gostaria muito de aliviar a carga de lição por um tempo. Fred queria muito descobrir o que era esse ballet de que Emma tanto falava, e fazer o próprio dever de Transfiguração já era um terror, fazer dois, completamente diferentes para McGonagall não perceber seria um inferno.
Emma deu a última cartada. Vencera. Sorria com todos os dentes, algo que vira Sirius fazer ao provar a Remus que estava certo. Dá uma sensação boa, dizia, e ela concordava. Era muito boa aquela pequena inflada no ego.
Enquanto ela se vangloriava, Fred revirava os olhos. Exibida, pensava, olhando a amiga quase saltitar de felicidade.
— Hey, coisinha, já chega — ele a colocou sentada no sofá.
***
Apesar de não ter de se preocupar com os deveres de Transfiguração, a semana de Emma foi cansativa, com ensaios e estudos. Chegava ao quarto ofegante e exausta, quase não teve tempo de escrever para seus pais, mas graças à História da Magia no último período de sexta-feira, conseguiu rabiscar uma carta.
Obrigada por terem falado com Flitwick sobre o ballet. Ele me deixa usar seu escritório como sala de ensaio nos tempos livres.
Tenho praticado muitos feitiços e passos, e mesmo já considerando Hogwarts como minha casa, sinto falta de Londres, do chá que vocês fazem, do meu quarto, e do Harry.
Falando no baixinho, o que ele tem feito? Tem um tempo que não me escreve. Se o encontrarem, lembrem-no disso, por favor.
Amo vocês,
Emma Black.
Magdalena chegou ao destino antes da meia-noite. Sirius e Remus a alimentaram e puseram para pernoitar no quarto de Emma. Pouco depois do café da manhã a mandaram com a resposta.
Remus tinha olheiras fundas sob os olhos, sextas e sábados eram os dias mais lucrativos, mas também os mais cansativos. Não via a hora de tirar outro cochilo. Sirius amparava a cabeça do marido no ombro, e o escorou até o quarto, para que dormisse mais. Antes de sair, pressionou os lábios contra a testa do marido e apagou a luz.
As preocupações de Emma acerca de Harry passaram a ser de Sirius também. De fato, ele estava mudado, e mesmo à distância, Emma percebera. Decidiu ligar para checar se estava bem.
— Alô? Harry?
— Sirius! — o menino estrilou. — Como vai?
— Bem, e você, como está?
— Bem também. Tem notícias de Emma?
— Tive ontem à noite. Ela está preocupada com você, Harry. Disse que não escreveu.
— É, não escrevi, mas não foi por mal.
— Sei disso, mas ela não sabe, então seja um Marauder e escreva para Emma. Marauders não deixam os amigos sem notícias.
— Vou escrever agora mesmo.
— Isso, garoto. Até mais.
Desligou com o coração tranquilo. Sabia que Harry mandaria a carta para Emma logo e então as preocupações dela acabariam, ou assim pensava.
Assim que viu Magdalena cruzando o céu, Emma abriu o vidro da janela e a recebeu com carinhos e petiscos. Outra coruja acompanhava Magdalena, com uma entrega para Emma. Agradeceu às duas e abriu a carta que vinha de Harry, ávida por notícias do garoto de olhos esmeralda.
Oi, E.
Primeiro, desculpe por deixá-la no escuro por tanto tempo. Estive ocupado fazendo as malas. Papai foi convocado pela seleção, então viajaremos à Irlanda depois do Natal (é segredo, está bem?). Mamãe também viaja em missão ultrassecreta. Cá entre nós, acho que tem a ver com você.
Desculpe de novo, amo você,
Harry Potter.
P.S: Já descobri quais são seus presentes de Natal :)
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Sirius Daughter
FanfictionAquela em que: Sirius é casado. Marlene é famosa. Remus é dono de bar. Lily é auror. James é jogador de quadribol. Harry é só um menino. Fred é romântico incorrigível. Emma é mais do que pensam. Oito nomes. Oito histórias. Oito vidas. Difer...