5 - Notícias

194 23 2
                                    

 — Srta. Black, um minuto por favor.

A voz esganiçada de Flitwick fez Emma voltar um passo atrás no mesmo segundo. Apesar dos problemas que tinha com Marlene, sempre se dera bem com os professores. Eles a elogiavam pelas ótimas notas e comportamento exemplar, fora que os que se dispunham a entender minimamente a mente da menina, sentiam-se magnetizados por ela.

Mas os professores de Hogwarts eram diferentes dos que ela tivera até aquele momento. Rigorosos, exigindo o melhor de todos os alunos, sem enaltecer nenhum. Davam a impressão de serem apaixonados por lecionar e pelo que lecionavam (exceto um), mas não de gostar muito dos alunos e muito menos ter favoritos.

Imaginou que Flitwick a chamara para apontar uma falha em seu desempenho nas aulas. Era óbvio que ele percebera o quão desajeitada ela era.

— Sim, professor?

— Seu pai me enviou uma coruja esta manhã. Disse que você estuda ballet durante o verão. É um tipo de dança trouxa, estou certo?

— Sim, senhor.

Emma se aproximou do diminuto professor, se perguntando onde ele queria chegar com aquela conversa.

— Ele também disse que precisaria de um lugar para praticar, do contrário, será cortada do programa de verão, então eu pensei que poderia usar a minha sala.

— Obrigada! Quando posso começar?

— Agora mesmo. Apenas deixe-me... — ele agitou a varinha e música clássica começou a tocar. Emma reconheceu a melodia usada nas aulas da srta. Marplen. — Até logo, senhorita.

Uma vez sozinha, Emma se aqueceu e iniciou a sequência de passos que srta. Marplen fizera os alunos decorarem à perfeição. Nem percebeu o tempo passando, só se deu conta que devia ir embora quando o professor bateu à porta, avisando-lhe que já fazia duas horas que estava ali e ele precisava usar a sala.

Correu para a sala comunal. Suas colegas de quarto tinham livros abertos no colo e liam atentamente, sem se importar com as conversas dos outros alunos.

— Emma! Hey, Emma!

Era Fred quem a chamava, para se juntar a ele em uma partida de Snap Explosivo. Enquanto distribuía as cartas, o garoto juntou coragem para começar a conversa:

— Onde foi depois da aula de Feitiços?

— Ensaiar. Flitwick deixou que eu usasse a sala dele.

— Ah, o ballet! Posso ver qualquer dia desses?

— Quem sabe. Se ganhar dez partidas contra mim. E se eu ganhar... vai fazer meu dever de Transfiguração por uma semana, e o quero perfeito, sem nenhum erro, topa?

— Negócio fechado.

Sirius e Remus jogaram Snap Explosivo com Emma algumas vezes durante o verão, e haviam lhe ensinado alguns truques muito úteis quando se joga com Fred Weasley.

— Ganhei — ela anunciou orgulhosa.

— Droga. Quanto a quanto?

— Oito a cinco para mim. Precisa virar o jogo se quiser se livrar do dever extra.

— Eu vou virar, acredite em mim.

Emma não acreditou de primeira. Ela só precisava ganhar mais duas para vencer a aposta, era estatisticamente improvável uma mudança tão drástica, mas é claro que ela não podia se descuidar.

Ele ganhou a próxima. E a próxima. E a próxima. E a próxima. Nove a oito. Ela precisava se mexer. Usou toda estratégia possível para vencer, e conseguiu. Nove a nove. Ambos suavam frio, cientes que era a partida decisiva. Não que Emma tivesse vergonha de dançar ballet na frente de Fred, mas odiava perder e gostaria muito de aliviar a carga de lição por um tempo. Fred queria muito descobrir o que era esse ballet de que Emma tanto falava, e fazer o próprio dever de Transfiguração já era um terror, fazer dois, completamente diferentes para McGonagall não perceber seria um inferno.

Emma deu a última cartada. Vencera. Sorria com todos os dentes, algo que vira Sirius fazer ao provar a Remus que estava certo. Dá uma sensação boa, dizia, e ela concordava. Era muito boa aquela pequena inflada no ego.

Enquanto ela se vangloriava, Fred revirava os olhos. Exibida, pensava, olhando a amiga quase saltitar de felicidade.

— Hey, coisinha, já chega — ele a colocou sentada no sofá.

***

Apesar de não ter de se preocupar com os deveres de Transfiguração, a semana de Emma foi cansativa, com ensaios e estudos. Chegava ao quarto ofegante e exausta, quase não teve tempo de escrever para seus pais, mas graças à História da Magia no último período de sexta-feira, conseguiu rabiscar uma carta.

Obrigada por terem falado com Flitwick sobre o ballet. Ele me deixa usar seu escritório como sala de ensaio nos tempos livres.

Tenho praticado muitos feitiços e passos, e mesmo já considerando Hogwarts como minha casa, sinto falta de Londres, do chá que vocês fazem, do meu quarto, e do Harry.

Falando no baixinho, o que ele tem feito? Tem um tempo que não me escreve. Se o encontrarem, lembrem-no disso, por favor.

Amo vocês,

Emma Black.

Magdalena chegou ao destino antes da meia-noite. Sirius e Remus a alimentaram e puseram para pernoitar no quarto de Emma. Pouco depois do café da manhã a mandaram com a resposta.

Remus tinha olheiras fundas sob os olhos, sextas e sábados eram os dias mais lucrativos, mas também os mais cansativos. Não via a hora de tirar outro cochilo. Sirius amparava a cabeça do marido no ombro, e o escorou até o quarto, para que dormisse mais. Antes de sair, pressionou os lábios contra a testa do marido e apagou a luz.

As preocupações de Emma acerca de Harry passaram a ser de Sirius também. De fato, ele estava mudado, e mesmo à distância, Emma percebera. Decidiu ligar para checar se estava bem.

— Alô? Harry?

Sirius! — o menino estrilou. Como vai?

— Bem, e você, como está?

Bem também. Tem notícias de Emma?

— Tive ontem à noite. Ela está preocupada com você, Harry. Disse que não escreveu.

É, não escrevi, mas não foi por mal.

— Sei disso, mas ela não sabe, então seja um Marauder e escreva para Emma. Marauders não deixam os amigos sem notícias.

— Vou escrever agora mesmo.

— Isso, garoto. Até mais.

Desligou com o coração tranquilo. Sabia que Harry mandaria a carta para Emma logo e então as preocupações dela acabariam, ou assim pensava.

Assim que viu Magdalena cruzando o céu, Emma abriu o vidro da janela e a recebeu com carinhos e petiscos. Outra coruja acompanhava Magdalena, com uma entrega para Emma. Agradeceu às duas e abriu a carta que vinha de Harry, ávida por notícias do garoto de olhos esmeralda.

Oi, E.

Primeiro, desculpe por deixá-la no escuro por tanto tempo. Estive ocupado fazendo as malas. Papai foi convocado pela seleção, então viajaremos à Irlanda depois do Natal (é segredo, está bem?). Mamãe também viaja em missão ultrassecreta. Cá entre nós, acho que tem a ver com você.

Desculpe de novo, amo você,

Harry Potter.

P.S: Já descobri quais são seus presentes de Natal :)

Sirius DaughterOnde histórias criam vida. Descubra agora