13 - The moment is coming

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– Só me falta Orion aparecer, exigindo ver Emma – suspirou Sirius, apanhando a garrafa.

O exílio de Orion era um assunto público. Os seguidores de Voldemort que sobreviveram à guerra se desnortearam com a derrota, mas o fervor continuava lá, escondido sob a cicatriz da Marca Negra.

A fim de evitar indisposições com o restante do mundo bruxo, alguns optaram por exílio voluntário. Não que Sirius sentisse falta do pai. Sempre havia outras coisas preocupando-o, como o bar ou Emma. O segundo ano dela foi um sucesso. Notas invejáveis, que Sirius só vira nos boletins de Remus, até então.

A carta convidando Harry a ingressar em Hogwarts chegou na manhã de seu aniversário, fazendo-o saltitar de alegria e ansiedade. Uma pena que nem James nem Lily puderam acompanhá-lo na compra de materiais, contudo, teve uma ótima tarde no Beco com seus padrinhos e Emma.

Isso até Sirius ser feito de poleiro por uma coruja velha de penas pretas e fechar a cara. Desaparatou ali mesmo, depois de amassar o pergaminho e jogá-lo na lixeira. Remus levou as crianças para casa, sem olhar duas vezes.

Horas mais tarde, Emma e Harry estavam entretidos com as compras, e Remus, louco de preocupação, foi para o bar e começou a trabalhar em drinques novos, feliz por fazer algo para canalizar seus pensamentos acelerados.

Harvey distribuía porções de peixe e fritas no melhor de seu visual "menininha": camiseta cor-de-rosa, saia vermelha até o joelho e sapatos estilo boneca, além da maquiagem, é claro. Ouvia assobios indelicados dos bêbados, aos quais respondia berrando "Eu sou lésbica, imbecil" a plenos pulmões.

Um sujeito tentou discutir com Remus, mas não obteve sucesso. O outro apenas lhe disse para parar de assediar a funcionária. Quando Sirius adentrou o estabelecimento, Harvey assumiu o balcão, Lexie e Kevin podiam cuidar das mesas.

O casal seguiu para a cozinha, onde Sirius virava repetidamente a garrafa de whisky no copo, reclamando sobre o irmão, cuja doença agravou-se nos últimos meses. Harvey não conseguia encontrar uma forma de trazer Regulus de volta aos arquivos ministeriais, e conforme a chance esfriava, Edward começava a achar que não era boa ideia.

Os problemas de Sirius pareciam não ter fim. E Remus bem sabia, quando havia problemas para seu marido, a bebida era sua melhor companheira. Sob sua atenta supervisão, Sirius recitou a carta enviada às pressas pelo sobrinho, e finalizou com lamentos a respeito de Orion.

Edward imaginava a reação de seu tio à carta que lhe mandou. Ele não deveria estar contente, afinal, o tempo estava passando, Regulus estava morrendo e Edward estava cada vez mais perto de acabar na sarjeta.

Mesmo que Harvey achasse um jeito de "ressuscitar" seu pai, isso só lhe traria dor de cabeça. Regulus não tinha condições de enfrentar um tribunal, tanto pelo processo – que seria demorado, com certeza – quanto pelos olhares acusadores.

Contudo, haviam algumas flores em seu jardim. Segundo Harvey, a lei de adoção tinha uma brecha que seria aplicada no momento em que Regulus deixasse este mundo. Alice insistia que fizesse logo as malas e fosse para a casa de Sirius antes que Regulus morresse, para poupar ambos do sofrimento.

O jovem bateu o pé. Não sairia do casebre antes do fim do verão. A mulher suspirou e parou de brigar. Ninguém apostava que ele viveria muito mais. Os medicamentos, meramente paliativos, já não tinham efeito.

E não foram apenas os médicos que o abandonaram. Sirius estava disposto a cuidar do sobrinho, mas seu irmão, estava à própria sorte. Emma tampouco se mostrava útil, ligava apenas para seus estudos e as correspondências da mãe.

Edward não pensava sobre a própria mãe, acreditava que fora morta por Voldemort, como forma de punir Regulus, já que nunca ouviu nada sobre ela.

Primeiro de setembro rompeu como uma aurora qualquer. A despedida foi dolorosa para Edward, que duvidava que reveria o pai. Já no casarão, Emma e Harry compartilhavam um furacão de euforia e era difícil para os adultos acompanhá-los.

Na noite anterior, James falou com o filho através do espelho de dois lados, desejou bom ano letivo e acrescentou as lembranças de Lily, que estava na África, pelo que se sabia.

Sirius olhou feio para uma família peculiar ao atravessar a barreira. A mulher e o homem eram pálidos e loiros, e escoltavam um garoto da idade de Harry – Emma achou que fosse, nunca o vira antes – tão albino quanto os pais. Remus puxou os punhos da enteada e do sobrinho, receoso. Emma não sabia quem eram eles, mas não deviam ser boas pessoas.

O Black fez questão de escoltá-los até a porta da locomotiva, aconselhando-os mil vezes a tomar cuidado com as companhias.

– Faça-me o favor, pai – disse Emma, debochada. Ando com Fred Weasley todos os dias. Como isso pode piorar?

– Chamou? – Fred surgiu com um salto ao lado de Emma. – Vamos lá.

Eles desapareceram locomotiva adentro. Harry viu-se sozinho quando Sirius e Remus acenaram e deram as costas. Andou até a primeira cabine vazia e debruçou-se na janela.

Levava uma vida solitária, tinha poucas crianças de sua idade em Godric's Hollow, e elas eram trouxas. Mas ele passava mais tempo em Londres do que na aldeia, enfim.

Não demorou para que Ron Weasley se juntasse a ele. Apresentaram-se e conversaram sobre suas famílias. Harry não queria mencionar o que seus pais faziam, mas o sobrenome Potter estava sempre nos jornais, fosse por Lily ou por James. Ron ficou muito animado quando ouviu sobre a final Chuddley Cannons X Puddlemere United ao vivo.

– Foi realmente emocionante – disse Harry. – Agora ele joga pela seleção nacional, não vejo muitos jogos. Ele e mamãe estão sempre viajando, não é sempre que vou junto.

– Deve ser muito legal – disse Ron, excitado. – Eu gostaria de viajar mais. Geralmente só vamos ver meu irmão Charlie na Romênia. Mas é complicado, somos nove, sabe.

– Você tem sete irmãos? – Os olhos de Harry arregalaram. – Wow. Deve ser legal, tanta companhia.

– É mesmo, quando todos estão de bom humor. Os gêmeos costumavam pregar peças juntos, mas pararam uns dois anos atrás.

Harry incitou-o a falar mais, porém o momento descontraído foi interrompido quando uma garota escancarou a porta da cabine, à procura de um sapo.

Não muito longe dali, Emma e Fred se esparramavam na própria cabine, discutindo pegadinhas. Seu alvo favorito eram com certeza os alunos de Gryffindor. Os dois pensavam como um só, fazendo os professores temerem a possibilidade de o sangue Marauder ainda estar ativo.

Minerva conservava o ceticismo da época em que Newt Scamander e Leta Lestrange estiveram naquele castelo. Flitwick, apesar de querer negar, percebia que Emma seguia os passos do pai. Sprout estava inconformada que um garoto Weasley fosse tão baderneiro. Snape se limitava a torcer o nariz e dar-lhes detenções.

– Ainda temos tempo de fazer algo para o banquete de hoje – comentou Fred, analisando uma caixa de fogos de artifício. – Aproveitamos enquanto os leões esfomeados estão enchendo a pança e... BOOM!

Emma sacudiu a cabeça. Fogos de artifício eram tão clichês. Precisavam de algo mais chamativo, mais caótico. Principalmente depois que ela leu Hogwarts: Uma História e descobriu que o Torneio das Casas só tinha início no primeiro dia de aulas, portanto, era impossível perder pontos no banquete de abertura.

– O que sugere então?

– Vamos pôr a torre abaixo. Pirraça adoraria isso.

– Desde quando você se importa com o que Pirraça gosta?

– Talvez eu precise estar nas boas graças dele este ano.

Fred franziu o cenho e estendeu a mão, a qual Emma apertou com delicadeza.

Os olhos de todos fixaram no banquinho enquanto Harry traçou sua rota até lá. Mal se ouviu um chiado de respiração quando o Chapéu Seletor pousou na cabeça do garoto. A mão de Emma travou com a colher perto da boca. O Chapéu murmurou por alguns segundos antes de anunciar:

– Slytherin!

A mesa verde e prata aplaudiu e o salão voltou ao silêncio. O único som foi uma colher caindo ao chão.

Sirius DaughterOnde histórias criam vida. Descubra agora