9 - Harvey

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Correr, não olhar para trás, sempre seguindo em frente, sem parar. A pessoa puxando sua mão não a deixaria desistir. Precisavam fugir, se afastar dali o quanto antes. A criança ofegava, mas continuavam. Dobraram mais uma esquina, então a garotinha foi erguida pelos braços e posta às costas de sua companhia.

— Tudo legal, Emma?

— Nunca estive melhor — estava agradecida pelo descanso.

— Só mais uma quadra e estaremos lá.

Seu destino era uma pequena casa, Emma encarava as paredes, temendo que algo saísse dali para atacá-los.

— Estamos seguros — garantiu a garota que a guiou até ali. — Senti sua falta, baixinha.

— Também senti a sua, Harv.

Emma observou Harvey cuidadosamente. Tinha mudado bastante. Havia algo de masculino em seu visual, algo que Emma não sabia identificar, mas percebia. Talvez fossem os coturnos, ou as roupas largas no corpo magro. Pensando bem, nas memórias de Emma, Harvey era um garoto.

— Menino — disse ela, baixinho. — Você era um menino.

— Não, Emma. Eu não era um menino, nem menina. Sou os dois.

Emma franziu a testa, mas logo Harvey explicou como se identificava como pessoa, e como isso refletia na forma de se vestir.

— Entendi... então hoje você é a Harvey?

— Sim — Harvey sorriu.

— E amanhã pode ser o Harvey?

— É.

— Legal! É como ter um irmão e uma irmã ao mesmo tempo!

Harvey aumentou o sorriso. Era uma pena que a vida tivesse colocado Emma em um caminho diferente do seu. Teria adorado cuidar da menina por mais alguns anos. Preparou algo para o jantar enquanto pensava no que fazer para levar Emma de volta, antes que a dessem como desaparecida.

— Seu pai ainda mora no mesmo lugar? — Emma fez que sim.

— Ótimo. Vou levá-la para ele amanhã cedo.

— Certo.

Depois de jantarem, Harvey acomodou Emma em sua cama. Antes de apagar a luz, deu um beijinho na ponta do nariz dela e desejou boa noite. Fechou a porta com cuidado e esfregou a nuca. Seriam tempos complicados.

***

Na casa de Sirius e Remus, gritos ecoavam pelas paredes, e o descontrole reinava. Emma sumiu e ninguém sabia onde procurar. Marlene berrava, culpando a separação e Remus pelo acontecido, eles rebatiam, dizendo que fora um acidente e que precisavam parar de brigar e começar a trabalhar.

— Podemos voltar ao restaurante. Talvez alguém a tenha visto — propôs Sirius.

— E se quem fez aquilo ainda estiver por lá? E se a pegaram? — Marlene quase puxava os cabelos.

— Lily já teria dito se o pior tivesse acontecido — Remus revirou os olhos.

— As câmeras registraram alguém correndo segurando a mão de uma menina, se afastando da confusão. Pode ser Emma.

— Mesmo que seja, como saberemos para onde correram? E se essa pessoa for um Comensal da Morte? — Marlene cortou, irritada.

— De todo modo, é uma pista. Eu e Remus vamos ao restaurante, você fica aqui, para o caso de Emma aparecer ou alguém telefonar. Ah!, e se quebrar qualquer coisa que seja, vai pagar em dobro, entendeu?

Sirius DaughterOnde histórias criam vida. Descubra agora