11 - Edward

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– Você. Era para ser você – disse o homem, com as mãos trêmulas.

O garoto, de mais ou menos quatorze anos, sacudiu a cabeça. Afastou o copo — o homem já bebera demais — e levou os jornais para o lixo, depois de passar o olho pelas manchetes. Alardeavam sobre uma herdeira cujo verão foi muito divertido. Os repórteres realmente eram desesperados por dinheiro. Era só uma criança de doze anos, mas parecia a rainha pelo jeito que falavam dela.

Fora orientado pelos médicos a ignorar a maior parte do que o homem dizia. Sua mente era degradada por causa da doença, e as mãos iam pelo mesmo caminho. A pouca sanidade que ainda tinha era usada para destilar ódio ao irmão.

Uma mulher varria o corredor. Estranhou ver o filho do patrão imóvel, o pé do pedal da lixeira, o olhar fixo nos jornais.

– Pode jogá-los fora, senhor. Os novos acabam de chegar.

– Vou guardá-los, há algo aqui que me interessa.

Alice sorriu e voltou à tarefa. O menino foi para o quarto, e deixou os papéis sobre a escrivaninha. Precisava arrumar os materiais para a escola. Em três dias partiria e Alice seria novamente a única responsável por cuidar do bêbado infeliz.

Na escola, Edward evitava pensar no pai. Isso o fazia devanear, e devaneios atrapalhavam seu rendimento. Sonhava ser auror, e para conseguir, suas notas tinham que ser excelentes.

Uma das fotos mostrava o sócio de um estabelecimento famoso, sorridente ao lado da filha e do marido, que era o dono do lugar — aclamado como o mais badalado dos últimos anos. Um homem bem-sucedido, com família e dinheiro, ao contrário de seu decrépito pai. Seu pai nem era tão velho, acabara de completar trinta e um anos, mas graças à doença, parecia ter quase cinquenta.

Certamente, quem forja a própria morte não consegue muita coisa, pensou. Uma vez, perguntou ao pai o por quê daquilo, ele disse que mexeu com algo que não devia. Meses mais tarde, a mão direita dele ganhou manchas e perdeu firmeza. Os médicos diziam que era envelhecimento precoce, mas Regulus nunca comprou essa história.

Estavam presos àquela casa minúscula porque ele resolveu brincar com a morte. Quando adoeceu, culpou a enfermidade, mas o menino sabia a verdadeira razão do confinamento.

O pai amava o filho, era inegável. Fez o que pôde para que o jovem tivesse acesso à educação adequada e contratou Alice para cuidar dele praticamente desde que nasceu.

Com o avanço da doença, Edward assumiu as finanças da família. Não tinham muito, apenas o suficiente para as despesas. O dinheiro vinha da pensão paga por um familiar distante. Ele gostaria de saber quem ajudava, mas o pai nunca permitira. Alice disse que, se pudesse, o homem queimaria o dinheiro assim que chegasse.

– Vai jantar? – Alice perguntou sem abrir a porta.

– Daqui a pouco. Leve ao meu pai primeiro.

Ouviu o costumeiro "sim, senhor" e ficou a sós com seus pensamentos de novo. Escutava também os ruídos de seu pai se alimentando. Começava a anoitecer e chover.

– Você é muito burro, Edward. – O menino murmurou para si.

Eles eram bancados por um familiar desconhecido. Seu pai só abria a boca para praguejar contra o irmão mais velho. Você. Era para ser você, ele balbuciara, tocando a foto da menina, a filha do empresário. Ela era Emma Black, filha de Sirius Black. Sirius era o irmão que Regulus tanto odiava, e provavelmente a pessoa que mandava a pensão. Afinal, por que Regulus odiaria quem os sustentava sem que eles precisassem pedir por isso? A não ser que já o odiasse por qualquer motivo.

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