Porta retrato

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Ananda

Essa noite foi difícil colocar o Juba para dormir. Ele não tem comido direito, fica o dia todo calado e sempre que estou por perto me abraça. Hoje ele só pegou no sono depois de ouvir outra vez a história do dia em que eu e Clarisse fomos o ver recém nascido no hospital.
Tiro ele do meu colo, e o cubro. As noites estão ficando mais frias e tenho medo dele adoecer.
Vou até a cozinha me sirvo de um pouco de chá e me sento no tapete da sala em frente ao retrato de Clarice me dando um abraço.
E então eu choro, baixinho, aos soluços. Pego o retrato e o abraço tentando sentir o antigo calor, mas tudo que sinto é o gelado do vidro. O vazio em meu peito dói, as cenas me corroem a cabeça.
Eu podia ter feito mais, eu podia salva-la, podia sim.
O que eu não podia era ver ela partir.
Então me deito ali mesmo no chão frio. Com raiva ,dor, saudade, revolta, arrependimento e medo. Muito medo.
Medo de quando for a minha vez

Um dia Qualquer em 1964Onde histórias criam vida. Descubra agora