As crianças brincam lá fora. Posso ouvir o barulho. Outro dia mamãe disse que daria minha bicicleta a um deles, já esta a tantos anos sem uso.
Apesar ja ter melhorado, a dias em que eu não consigo funcionar. Fico aqui, na cama o dia todo. Me concentro na brisa que vem dá janela pra manter a respiração.
Falando em brisa, soube que aquela garota dos amigos da Lara perdeu a visão. Lara. Ela também não esta mais aqui. Ela ia gostar de ver o fim da censura. Ainda ficou uma saia dela que a mamãe não terminou.
Lembra aquele dia em que fomos ao baile? Dançamos tanto não foi? Eu gostava de dançar com você. Eu gostava de tudo com você. Não tomo mais café. Não me ajuda com a insônia. Mas outro dia quase ascendi um cigarro. Você não estava lá pra me ver.
O pessoal do jornal veio aqui. Disseram que eu era muito importante pra história do jornal, que agradeciam o que eu tinha feito por eles. Agradecem. Você acredita? Será que valeu a pena mesmo? No final eu perdi tudo pra eles pudessem ter um pouco. O que eu to falando? Foi pra isso que eu guerrilhei não foi? Só não achei que seria esse o final.
Outro dia eu gritei tanto a noite que mamãe me medicou de novo. Dormi um pouco mais de um dia. E você nunca me puxa pra dormir no seu peito.
Eu te contei que cortaram meus cabelos?
As coisas não são mais iguais Franco. Me desculpe.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um dia Qualquer em 1964
ContoUm dia Qualquer em 1964 - É a junção de cartas feitas para estudo de personagem do Musical " 1964 O Canto Calado" de Roberto Frantinelli. Franco e Ananda veem o Golpe Militar estourar no final do Ensino Médio. Com o tempo os jovens se unem ao Movime...