Epílogo

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- MARIE.

Acordo em um sobressalto.

- Vamos, está na hora da sua consulta com o psicólogo.

Levanto com os cabelos encharcados e os olhos lacrimejando.

Quanto tempo havia dormido?

Vou ao banheiro, me olho no espelho e sinto pena de minha própria imagem. Prossigo com as atividades diárias.

- Dormiu bem, minha filha?

- O suficiente.

Partimos em direção ao prédio central da cidade, parecia que tudo se passava em câmera lenta.

- Como vai, Marie?

- Tudo bem, Sr. Peterson.

Minha mãe ficou de aguardar na sala de espera enquanto adentrei seu consultório.

- Como passou a semana, Marie?

- Como sempre. Sonhos malucos, crises de ansiedade...

- Conte-me esses sonhos.

- Ah o de sempre. Minha irmã está desaparecida enquanto eu e meus amigos seguimos pistas até encontrá -la. Mas dessa vez a encontramos.

- Isso é muito bom, Marie. Percebe a evolução? O sonho que era algo repetitivo e sem solução, passou a ter um final. Como se sentiu?

- Cansada, porém aliviada.

- Já parou para pensar que essa irmã que aparece nos seus sonhos não passa de uma personalidade sua que foi presa ao seu inconsciente? Alguém que você gostaria de ter sido?

Analisei a possibilidade.

- Eu não sei. Tem noites que tudo é tão real, que acordo achando que tenho mesmo uma irmã desaparecida.

- Deixe-me explicar melhor. Essa irmã que você criou, pelo que entendi, é alguém com mais avidez, alguém extrovertido. Você gostaria de ser assim, Marie?

- Talvez.

- Então. Sua mente a forma através de sonhos, para poder desvia-la da vontade de ser assim, pois acha que isso pode ser errado ou imoral, que vai prejudica-la de alguma forma. E talvez seja por isso que ela tenha sido sequestrada. O medo de ser julgada por conta disso, e então ela foi calada. Você sente que não é a protagonista da própria história.

As terapias finalmente começaram a fazer sentido.

- Mas e Jenny, Paul e Connor?

- Você teve uma relação intensa com Connor, que durou mais de dois anos e terminou em menos de três meses. Você ainda sente necessidade de encaixa-lo de alguma forma em sua vida. Quanto a Jenny, ela é sua melhor amiga, sempre estará com você, e Paul sendo namorado dela, acaba se encaixando no seu inconsciente.

Apesar de tudo parecer muita loucura, fazia sentido, e isso me assustava.

- Por que procurou a terapia, Marie?

- Algo estava errado em minha vida. E então os sonhos começaram. Connor terminou comigo porque disse que eu era muito fechada e parecia estar sempre triste. Não queria perde-lo para perceber que tinha um problema, mas infelizmente aconteceu.

- Você criou alguém a quem Connor gostaria. Mas acabou que ele ficou com você mesmo assim, sabe o por quê?

Neguei com a cabeça.

- Porque esse é o seu desejo, Marie. Você queria que ele a escolhesse apesar de todos e de tudo.

Derrubei uma lágrima intrusa.

- Você tem apenas 19 anos, namorou apenas uma pessoa sua vida toda. Acaba sendo natural que coisas assim aconteçam. O que está achando da terapia?

- Bom. Agora percebo coisas que antes mesmo estando óbvias eu não percebia.

- Que ótimo, Marie. Evoluiremos cada vez mais.

Sorri e me dirigi a porta.

Senti que tudo finalmente estava se desembaçando em minha mente.

- Filha! Como foi?

- Muito bom. Ele quer montar uma terapia de grupo mês que vem.

Fomos para casa e refleti sobre os últimos acontecimentos.

Quando terminamos achei que fosse literalmente morrer. Mas a vida tem que continuar, com ou sem essa pessoa que nos tira o fôlego. As vezes é preciso deixar ir.

E eu finalmente estava me libertando.

E então, dormi e pela primeira vez em meses, não havia sonhado.

O Terrível Caso de Emily Katzen (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora