14: control

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(03:20 da manhã)

Michael estava deitado debaixo dos cobertores, extremamente suado. Fazia mais de 6 horas que ele não havia comido nada, nem mesmo bebido um copo de água.

Logo após discutir com seu amigo, Calum, acabou por quebrar o seu celular na parede. Poucos sabiam, na verdade só sua família, sobre seu auto controle, pequenas coisas tinha o poder de deixá-lo fora de si. Calum também sabia, mas evitava o máximo para não tocar no assunto.

O garoto sofre disso desde seus seis anos de idade, por motivos de presenciar muitas brigas de seus pais.

Houve uma vez em que seu pai chegou descontrolado em casa, ninguém sabia o motivo óbvio, foi quando ele começou a quebrar tudo que via pela frente, sua mãe gritava para que ele parasse mas é como se não ouvisse. A discussão ia ficando cada vez pior, Michael que estava na sala assistindo desenhos sentado no tapete felpudo azul, viu perfeitamente o momento em que seu pai usou um vaso de vidro onde colocava flores para poder jogar em sua mãe, acertando em suas costelas.

Esse com certeza foi um dos piores dia para Michael, sua mãe havia ido para o hospital e ele teve que ficar na casa de sua vó, que cuidou perfeitamente do seu machucado que por pura sorte não foi em seu olho.

No meio da discussão, um pequeno pedaço de vidro acertou logo abaixo do seu olho direito, deixando assim uma cicatriz.

Agora observando o teto de seu quarto, Michael se levantou e caminhou calmamente até o banheiro. A essa hora sua mãe já estava dormindo pois ela precisava acordar cedo para ir ao trabalho.

Encarando seu reflexo no espelho, Michael levou cuidadosamente sua mão até a cicatriz abaixo de seu olho, e passou lentamente seus dedos gélidos ali.

flashback on

-Qual é o meu time? -O pequeno garoto de olhos verdes perguntou a um do seus colegas de classe.

-Nenhum. -Respondeu, colocando a bola de baixo do braço.

-Por que? -Franziu as sobrancelhas, dando um passo pra trás.

-Porque ninguém quer um fracassado no time. -Disse fazendo todos os outros rirem.

-Mas eu sei jogar. -Seu tom de voz ia ficando cada vez mais baixo.

-Não sabe nada. Ninguém te quer aqui, Michael, não percebeu? Você é doente, sai daqui antes que fique nervosinho e bata em todos nós.

/

-Mamãe?

-Sim, filho.

-Por que eu não posso fazer aula de futebol? -Perguntou se sentando no colo de sua mãe e deitando a cabeça no ombro da mesma.

-Porque você pode se machucar. -Gaguejou.

-E a aula de natação? -Perguntou com um pingo de esperança.

-Também não filho, você pode se machucar. -Ela tentava de todo jeito sair daquele assunto.

-Mas eu não posso fazer aula de nada? -Coçou os olhos, impedindo as lágrimas de caírem.

-Que tal eu te dá aula de croché? -Sorriu, acariciando os fios loiros do filho.

-Não! Eu não gosto disso. -Se levantou do colo de sua mãe. -Você não me deixa fazer nada!

-Filho...

-Eu tenho oito anos e mal posso ir pra escola, por que você faz isso comigo? -Gritou entre soluços.

/

(Michael com 16 anos)

-Como foi na escola? -Perguntou a Calum, se sentando em sua cama sendo acompanhado pelo seu único amigo.

-Chato, muito chato. -Bufou.

-Por que? -Riu levemente.

-Tinha um novato ridículo de papo com o Ashton. -Revirou os olhos.

-Fique calmo, sabemos que ele ama apenas você. -Desajeitou o cabelo do moreno.

Ficaram em silêncio por um curto momento antes de Calum perguntar;

-Posso te perguntar uma coisa?

-Claro. -Deu de ombros.

-Você sente vontade de ir pra escola?

Michael voltou a ficar em silêncio, pensando sobre isso. Vontade ele até tinha, mas sabia que não podia.

-Descul-...

-Sim.

-Eu não entendo.

-Eu sou um descontrolado, Calum, não posso conviver com muitas pessoas. -Deu um sorriso fraco ao amigo.

flashback off

Suspirando pesadamente, o garoto resolve voltar pra cama e dormir.

××

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