Capítulo 10

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Acordei sem me mexer pois sentia olhos em mim e um corpo quente do meu lado na cama. Percebi que deveria estar toda descabelada e feia mais do que o normal pois tinha chorado e estava cansada, era um fato eu estar péssima naquela manhã, tarde, eu não sabia que horas eram. Me virei para o outro lado ficando de frente á ela já que eu estava de bruços.

Aquela mulher conseguia ser linda a qualquer hora do dia, não fazia ideia de quanto tempo ela ficou ali me olhando, mas não tinha o rosto amassado ou um semblante de quem havia acordado naquele momento.

- Bom dia dorminhoca. – disse ela com o sorriso mais lindo que eu já vi.

- Bom dia, conseguiu dormir um pouco? Que horas são?

- São cinco horas, já liguei no hospital e avisei que não iria. Não quis te acordar, você dormia feito um anjo e achei que merecesse isso.

- Nossa Ale, me desculpa, eu não tinha a intenção de ferrar com o seu trabalho assim, seu marido deve .... - ela me cortou.

- Ele saiu do plantão ás 15:00 e me mandou mensagem. Fique tranquila ele não sabe onde estou e nem vai fazer comigo o que seu ex fez.

- Eu me perdi no tempo mesmo, devo ter desligado todas as minhas forças. A muito tempo eu não dormia com alguém e assim....-fiquei sem graça pois instantaneamente eu olhei para o corpo dela e parei em sua boca.

- Eu fico feliz. Eu também, a muito tempo não tinha uma noite tão gostosa e uma manhã melhor ainda.

Corei ao ouvir aquilo. Mas coitada, teve que aguentar poucas e boas comigo desde ontem. Que mulher é essa?

- Vou fazer algo para comermos. Faço café ou peço uma pizza? Me perdi no tempo – eu disse rindo e me levantando em direção ao banheiro.

- Acho que seria uma ótima ideia a pizza, mas não vou esperar por ela. Preciso muito ir para minha casa e resolver a situação com o Cristian.

Eu voltei a minha atenção para ela que estava ainda deitada e coberta por um lençol branco de seda com os cabelos desgrenhados, mas mesmo assim linda. Fiz beicinho com o intuito de conseguir mais alguns minutos com ela, mas não a convenci, ela se levantou em seguida e foi tirando a camiseta.

O corpo dela devia ter sido esculpido, nenhuma marca, nada, ela era perfeita. Eu malhava bastante, porém algumas coisas eu não conseguia apagar, como por exemplo aquela tatuagem ridícula que fiz quando me mudei para SP, era um coração– meu arrependimento de vida.

No outro dia na balada eu havia visto o corpo dela, mas eu estava muito louca, não tinha reparado nos detalhes. Ela tinha uma tatuagem de dragão que cobria as costas até o bumbum. Era muito bonita, cheia de detalhes. Eu não pensei muito quando vi ela de costas nuas e só de calcinha.

Me aproximei e toquei suas costas fazendo o contorno da calda do dragão. Senti o seu corpo arrepiar com o leve toque nas minhas mãos, então ela se virou e ficou de frente á mim. Não consegui mais toca-la, então retirei as mãos do seu corpo e cruzei os braços.

- Muito bonita a sua tatuagem parabéns. – Eu disse com vergonha de ver o corpo dela assim nu de frente para mim.

- Obrigada, foi um presente de uma ex namorada.

Fiquei um arco íris naquela hora, eu não tenho amigos gays e nem frequento lugares gls. Acho muita falta de vergonha dois homens se pegando...pensando bem duas mulheres não me afligem tanto. Desviei o olhar para outro canto do quarto e ela antes que eu pudesse ter qualquer outra reação me disse que teve várias "namoradas", mas esse era o nome dado pelo Cristian a todas as mulheres que eles se relacionavam junto. Era mais difícil entender isso do que ela ser bissexual.

Eu disse que ia fazer minha higiene matinal e pedi que ela pegasse outra peça de roupa minha, caso quisesse tomar um banho.

Sai do quarto e me tranquei no banheiro. Nossa que bagunça a minha cabeça está, precisei chacoalhar 20 vezes até que todos os meus pensamentos se organizassem. Escovei os dentes, e tomei uma ducha rápida.

Me enxuguei e voltei para o quarto, havia me lembrado que não tinha pego nenhuma roupa, então me enrolei na toalha e fui daquele jeito.

Cheguei no quarto e a Alessandra já estava pronta. Eu fui até o guarda roupa e peguei qualquer peça confortável e voltei ao banheiro. Eu me troquei no banheiro, eu sou muito tímida, não gosto que ninguém me veja sem roupa. Até na hora do sexo as luzes todas devem estar apagadas.

- Bom Anjo, desculpa, posso te chamar assim? – Perguntou ela envergonhada, assenti com a cabeça em positivo então ela continuou – Eu preciso ir e resolver tudo o quanto antes. Tem uma coisa que eu não te contei, mas assim como você achava que tinha se apaixonado pelo seu ex chefe eu também me sinto atraída por outras pessoas, mas eu não quero confundir a minha cabeça ou dar falsas esperanças ao Cristian.

- Eu entendo você, mas se eu tivesse me separado do Rodrigo antes do incidente, eu não estaria com o Vitor por mais que eu o desejasse. Eu esperaria ele se separar para tentar algo. Mas ambos sabiam que seria por pura carência já que nossos casamentos estavam indo ladeira á baixo.

- É, eu entendo, mas já são 15 anos de casado e eu nunca quis ter filhos, me casei com 30 anos e – fazendo uma conta rápida ela teria 45 anos, que mulher, que corpo!!! – Ele sempre me pressionou para tê-los. Eu nunca me senti mãe, acho que sou mais para titia - ela riu com o próprio comentário.

- Nossa Ale, parabéns, que corpo maravilhoso – ela percebeu que eu a comia com os olhos, tanto percebeu que veio em minha direção olhando fixamente para os meus olhos. Chegou tão perto da minha boca que eu prensei meu corpo na parede não tendo pra onde fugir.

- Obrigada Anjo – disse isso me deu um beijo na bochecha.

Já afastadas eu me recompus e andei lado á lado com ela até a porta. Antes mesmo que chegássemos até a sala, Jane entrou como um furacão e só não passou sem nos cumprimentar pois viu que comigo estava a médica dela.

- O que você está fazendo na minha casa? – Disse ela olhando com deboche para a cara de Alessandra.

- Me desculpe Jane, eu vim ver como você estava. – Ufa, ainda bem que ela não disse que passamos a noite juntas.

- Eu estou bem, e pode deixar que eu te procuro. – Disse isso, virou as costas e foi para o seu quarto.

Jane estava estranha, não era mais aquela amiga dengosa e carinhosa comigo. Quero pensar que é só uma fase, mas preciso me precaver para a próxima loucura dela. Não quero que ela tire o bebê, além de ser um crime ela poderia até morrer. Ela já estava gravida a mais de 3 meses! Me perdi nesses pensamentos e acabei esquecendo que a Alessandra ainda estava ali.

- Me desculpe por isso Ale, é que acho que a qualquer momento ela pode se transformar em alguém ruim que ela nunca foi, tenho tanto medo de perder ela. – Eu disse com lagrimas nos olhos, mas não queria chorar.

- Vem cá – disse ela me puxando para um abraço – agora você tem a mim sempre que precisar. Sei que não irei suprir o espaço da Jane, e também acredito que ela não vá fazer mais nada contra esse filho. Só quero ser sua amiga. – Depositou um beijo na minha cabeça e se despediu com um piscar de olhos. – Me deseje sorte. – Disse ela se virando para a escada.

- Obrigada mais uma vez por tudo e te desejo toda a sorte do mundo.

Com uma piscada minha também ela se voltou á descer as escadas.

Que dia – pensei comigo – e ainda não terminou!


AvassaladoraOnde histórias criam vida. Descubra agora