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Olhei no relógio e eram 18:30, horário que a Jane sairia do trabalho e não chegaria em casa. Fui tentar conversar com ela, bati na porta do seu quarto e perguntei se podia entrar, ela me pediu para esperar (achei estranho) e logo em seguida veio abrir a porta para mim pois estava trancada.
- Oi, o que você quer?
Ela estava estranha, com os olhos arregalados e só abriu um pouco da porta.
- Eu queria conversar com você.
- Agora eu não posso. – Disse e fechou a porta a trancando novamente.
- Jane, abre a porra dessa porta e vamos conversar. – Eu nunca me excedi com ela, nem falava em um tom mais alto, sempre cuidei dela como se fosse uma irmã.
Continuei insistindo e ela nada de responder.
Fui me sentar no sofá da sala e lá fiquei olhando para o corredor esperando ela abrir a porta.
Esperei longos minutos até que ela achou que eu estava no quarto, pois não havia ligado a tv, estava em silencio absoluto. Foi muito estranho ver ela andando na ponta dos pés indo em direção a cozinha. As luzes estavam apagadas, fiz propositalmente, então acendi e ela se assustou. Deu um grito e pulou alto colocando a mão no coração.
- Que horror, parece assombração. – Disse ela indo até a geladeira e pegando uma cerveja.
- Olha aqui dona Jane – eu disse me levantando e indo em sua direção parando na bancada da cozinha – se você acha que vai conseguir se livrar de mim, está muito enganada viu mocinha?
- Eu hein, não tenho mãe pra ficar me dando bronca e não vai ser você que vai me dar.
- Escuta aqui – eu disse indo ao encontro dela e apontando o dedo bem no seu nariz – enquanto morarmos juntas você me deve respeito e satisfações sim senhora. Agora pode começar me dizendo o que estava fazendo no quarto que não queria abrir a porta?
Nisso eu acho que ela se lembrou de trancar quando saiu, olhou para o lado e já ia correr para fecha-lo. Fui mais rápida, já que estava na bancada que fica no corredor e ela perto da geladeira do outro lado da mesa. Corri e entrei no quarto dela o trancando.
Jane gritava enlouquecidamente do lado de fora pedindo para eu abrir a porta. Eu acendi a luz e olhei em volta, haviam pinos de cocaína, uma agulha de tricô grande, um pouco de sangue e o notebook ligado.
Eu não estava conseguindo me concentrar com aquela gritaria que Jane estava fazendo no corredor, mas fui em direção ao note e comecei a ler uma matéria que estava aberta. Nela o conteúdo me assustou demais, eu praticamente fechava os olhos quando algumas fotos apareciam, corri a barra de rolagem, mas mesmo assim via algumas coisas, era algo explicando como se fazia aborto em casa. Os pinos de cocaína estavam vazios, consegui ver 3 na mesinha usados. Os gritos de Jane começaram a diminuir e percebi que ela chorava baixinho atrás da porta, não sei se era por remorso pois ela me via sim como uma irmã para ela e que aquilo o que ela estava fazendo era o cumulo pra mim, eu sempre fui contra o aborto e sempre me preveni de todas as maneiras possíveis. Me mantive firme olhando toda a página e as matérias que estavam salvas em downloads. Pelo sangue que havia na agulha eu percebi que ela já havia feito o que "ensinavam" no tutorial passo a passo. Eu não aguentava mais ver, não tinha forças para superar isso e aquelas palavras dela mais cedo dizendo que ia voltar para o Rio virou uma bola de neve na minha cabeça. Eu tapei os ouvidos como se pudesse fazer parar os meus pensamentos e me coloquei a chorar encostada na porta do quarto.
Do outro lado havia uma Jane choramingando baixinho e me pedindo desculpas. Eu apenas deixei as lagrimas caírem, acho que ela não me considera da mesma forma. Eu queria ser o mundo dela e ela era uma parte de mim, mas eu a amava sozinha.
Depois de algum tempo me levantei, enxuguei as lagrimas e sai do quarto fazendo a Jane cair de costas no chão já que ela estava escorada na porta. Ela tentou dizer algumas palavras, mas eu não quis ouvir nada da boca dela. Fui até meu quarto e o tranquei em seguida me jogando na cama.
Fiquei olhando para o teto tentando achar uma resposta para toda essa violência que a minha amiga estava praticando em seu corpo. Porque alguém em sã consciência, com uma vida estável, carro e tendo o homem que quisesse podia sonhar em tirar a própria vida? Pois eu só pude chegar a essa conclusão já que ela estava se drogando demais, usando métodos para abortar nas piores das condições e mentindo pra mim. Logo pra mim que dei tudo o que ela precisava, tirei ela do Rio pois ela trabalhava ganhando muito pouco e trouxe pra viver em SP com todo o conforto que ela poderia querer. Mobiliei a casa e disse á ela que seria nosso lar...até dias atrás eu achava que era, agora acho que o lar virou o inferno pra mim.
e
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Avassaladora
RomanceMeu primeiro conto, é uma mescla de sentimentos indomáveis e conta a história de Angelina. Uma mulher que veio do Rio de Janeiro para São Paulo com muitos planos, sendo o principal deles alavancar a sua carreira como auditora de uma das maiores rede...