20
Ao chegar em casa logo me deparo com uma corrente de vento vinda da sacada mas me lembro de não ter aberto. Perguntei para a Jane e ela disse que nem passou ali por perto. Então me aproximei para fechar e abrindo a cortina pude ver que o vidro estava quebrado. Estava estilhaçado e com uma pedra no chão. Em volta dela um bilhete com letras coladas, obviamente para eu não saber de quem era a letra, mas mesmo assim algo naquele recado me intrigou: "estou cada dia mais perto, não estou?".
- Jane, olha. Outra ameaça, deve ser da mesma pessoa que anda me enviando as mensagens.
- Cruzes anjo, isso é de arrepiar. Já fez o B.O.?
- Farei melhor, vou ligar para a Isabella e contar tudo. Vou fazer isso agora antes que eu me distraia.
Peguei um jornal, medi na janela e colei com uma fita para que o vento não entrasse mais por ali. Não dava para escalar por fora, quem quer que esteja me ameaçando tinha que entrar pela porta da frente.
Não quis nem arejar a casa, deixei tudo fechado do jeito que deixei quando fui trabalhar e peguei meu telefone.
Disquei para a delegada, porém por 2 vezes só chamou, então pensei que ela estivesse ocupada. Liguei o notebook da Jane e decidi fazer o boletim, quanto mais cedo melhor.
O B.O. nunca me ajudou em nada, eu sempre tive que ir na cabeça da solução, mas eu não tinha outra escolha no momento. Tirei print das mensagens, coloquei o modelo do meu aparelho e ID, fotografei o bilhete e o estrago no vidro, deixei o número do meu telefone caso resolvessem ligar e também meu endereço.
Feito isso, estava saindo do quarto da minha amiga (que estava no banho) e vejo em cima da cama um pino de cocaína. Não me contive, voei na porta do banheiro e comecei a bater com tanta força para que ela ouvisse que nem me dei conta de que estava aberta.
- Que sangria desatada foi essa Angelina? Esta maluca?
- Maluca eu vou ficar se você não me dizer o que esse pino estava fazendo na sua cama!
Ela nem me deu atenção...
- Responde logo Jane. Eu sei que você está tentando abortar, não se faça de surda.
- Pelo amor de Deus, isso é velho. Eu não estou mais tentando abortar garota, já decidi que vou dar essa criança para um casal de amigas. Fiz um acordo e ... – não deixei ela terminar.
- Como é que é? Você ficou maluca? Esse filho é seu e você vai assumir isso. Eu vou te ajudar a criar essa criança Jane.
- Eu não quero ser mãe, nunca quis e não será você que vai me obrigar a isso.
Fechei a porta com tanta força que até a estrutura do prédio balançou.
Fui para o meu quarto, tirei minha roupa e me joguei na cama. Eu só pensava em quão inconsequente essa garota era, não é possível alguém em sã consciência "doar" uma criança que foi gerada e criada durante 9 meses na barriga, isso é desumano. Eu estava a cada dia mais desacreditada nela.
Ouvi o barulho do chuveiro desligando e demorou uns minutos ela logo saiu e veio até a porta do meu quarto.
- Olha só, eu vou na médica e farei o pré-natal. Isso é por você. Eu não me importo e não vou deixar de me divertir por causa desse negócio na minha barriga. Graças a Deus que sou magra e nem da pra perceber, já pensou eu barriguda indo nos...- a cortei.
- Some da minha frente sua maluca!
Eu disse isso e ela acatou. Apenas virou o corpo e seguiu em direção ao quarto dela.
Nossa, como eu estava brava com aquele comportamento. Era uma vida que crescia dentro daquela garota imatura, uma vida que não tinha culpa por ter sido gerada, uma vida que nem pediu pra vir ao mundo e já estava sofrendo.
Diante daquela situação eu tive que tomar uma atitude.
Peguei o telefone e disquei o número da Alessandra:
- Alô? Oi Ale, pode falar?
- Não posso agora, é urgente?
Nossa ela foi muito seca comigo, mas tudo bem.
- Não, fica tranquila – nisso a segunda chamada começou a apitar – vou atender a Isabella que está aguardando na segunda linha.
- Espera! O que aconteceu? Porque a Isabella esta te ligando?
- É outro assunto Alessandra, pode deixar que eu resolvo.
- Eu pensei que tínhamos alguma coisa... – disse ela com um tom de voz sofrido.
- Você me pediu para esquecer, lembra? Então, agora você tem tempo pra falar comigo?
- Não é isso, só um minuto – disse e ouvi passos – eu estava em consulta Angelina e não podia falar na frente do paciente. Agora me diz o que a Isabella está querendo com você.
- Ela me chamou pra sair. – Disse vomitando as palavras sem pensar.
- Como é que é??? Repete por favor, acho que não entendi direito.
- Preciso desligar Alessandra, ela está ligando novamente, até.
Me despedi e desliguei o telefone. Onde eu estava com a cabeça pra dizer uma mentira daquela? Não sei, foi impulso e eu sou assim.
Já que a Isabella parou de insistir eu resolvi ligar de novo, mas fiquei esperando na segunda chamada.
- Oi, Angelina?
- Ah, oi Isabella, tudo bem? Não quero atrapalhar.
- Imagina, para uma mulher tão bonita como você eu sempre tenho tempo.
Ainda bem que estávamos pelo telefone pois um arco-íris se formou no meu rosto.
- Obrigada pelo elogio. Eu queria conversar com você sobre algo que está me incomodando a uns dias.
- Claro, podemos marcar alguma coisa. Que tal amanhã na minha casa? Não é um encontro ok? Só não quero que vá na delegacia pois os rapazes ficaram encantados com você naquele dia da clínica e não quero gerar um desconforto.
- Imagina, não vou entender como um encontro. Mas ok, me passe seu endereço que vou até a sua casa.
Ela me disse o endereço, anotei num bloco de notas que estava ao lado da minha cama e me despedi.
- Muito obrigada por retornar a minha chamada, eu estou começando a ficar aflita.
- É uma pena pois eu achei que quisesse sair comigo, já que a Alessandra me ligou agora...-cortei.
- Ela já te ligou? - Meu Deus, que mulher possesiva! – O que ela disse?
- Só pediu para que eu não interferisse no relacionamento de vocês. Eu adoro a Alessandra, mas as mulheres são á parte e ela é casada. Mas me diga você, está rolando alguma coisa?
- Não, não, nada. Nós somos apenas amigas.
- Mas não foi isso o que ela deu a entender. Mas enfim, amanhã ás 20:00 na minha casa.
- Combinado, até amanhã.
Desliguei o telefone e fiquei olhando o visor do celular por um tempo. Como a Alessandra é atrevida? Não temos nada, apenas transamos e... que sexo foi aquele? Meu Deus! Eu não consigo tirar aquela noite da cabeça. Preciso de um banho.
Tomei meu banho, coloquei uma roupa de dormir e deitei na cama. Liguei a tv esperando o sono chegar, não estava com fome então apenas fiquei ali esperando. Incrível como aquela mulher não saia da minha cabeça.
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Avassaladora
RomanceMeu primeiro conto, é uma mescla de sentimentos indomáveis e conta a história de Angelina. Uma mulher que veio do Rio de Janeiro para São Paulo com muitos planos, sendo o principal deles alavancar a sua carreira como auditora de uma das maiores rede...