Capítulo 13

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O dia amanheceu, dormi pesando e acordei dolorida. Olhei para o relógio e eram 06:00. Me levantei, fui ao banheiro, tomei meu banho e fiz minha higiene pessoal. Abri a porta e fui acordar a Jane, (normal pois ela nunca acordava com o despertador) bati na porta e logo ela avisa "já acordei". Voltei para o meu quarto e fui me trocar. Deixei a porta aberta só para ter a certeza de que ela realmente tinha acordado, de praxe ela voltar a dormir, então a vi passando no corredor e aquela voz dengosa dizendo "bom dia", eu respondi e continuei me arrumando. Terminei a maquiagem e fui preparar o café.

Era uma manhã com sol, bonita e gostosa. Enquanto eu fazia o café, Jane se aproximou por trás de mim e me deu um abraço na cintura e repousando sua cabeça em meu ombro. Depois deu um beijo no meu rosto e se sentou. Pensei "tudo voltou ao normal" e assim espero, amém.

- Dormiu bem? – Perguntei realmente não sabendo a resposta.

- Eu capotei. Fazia tempo que você não ficava comigo na cama até eu dormir. Foi muito bom, obrigada mesmo. E anjo, - fez uma pausa - obrigada por tudo. Desculpa estragar seu aniversário, seu domingo, sua segunda-feira...te prometo que isso não vai mais acontecer. Eu tenho uma dívida eterna contigo e ... eu sou uma idiota, sempre ferro com tudo, nada que eu faço dá certo e...- fez uma pausa mas eu interrompi não querendo ouvir nada mais que o pedido de desculpas.

- Eu te desculpo sim contanto que você vá comigo hoje ver a doutora Alessandra. Temos consulta após o trabalho.

Ela relutou um pouco mas resolveu aceitar. Disse que estava com muito medo do vírus se tornar AIDS e que não está sabendo lidar com essa situação.

Terminamos nosso café e fomos para o carro á caminho do trabalho.

Dessa vez iriamos com o carro da Jane para que ela tenha a consciência de que estou a pé e forçando ela a ir para a consulta.

Chegamos na empresa e logo a recepcionista se levantou e veio me cumprimentar pelo aniversário. Me entregou um buque muito lindo com as minhas flores favoritas (rosas colombianas) e nele havia um cartão assinado por toda diretoria da empresa. Essa era a maior empresa de auditoria do país e eu tinha muito orgulho em fazer parte desse lugar. Jane era minha assistente – digamos assim – por ser recém-formada, ela apenas analisava os laudos de fraudes e o inquérito eu abria. Trabalhamos em plena sintonia, nada passa aos olhos dela, o que é ótimo, e a minha parte eu faço com maestria.

Mais algumas pessoas vieram me dar um abraço e me desejar felicidades. Cheguei até a minha sala com Jane logo atrás de mim e em cima da minha mesa havia um embrulho com um laço bem bonito. Eu abri e dentro dele tinha um porta retrato lindíssimo com uma foto minha e da Jane em uma de nossas férias no Rio. Estávamos livres, na praia e de biquíni. Lembro desse dia como se fosse ontem, era uma tarde de sábado e precisávamos retocar a marquinha pois á noite teria uma pool party no Leblon.

- Jane, que lindo! – eu realmente tinha amado aquilo. Obrigada minha amiga, isso significa muito pra mim, ter a sua amizade e poder contar com você como se fosse uma irmã.

Ela com lagrimas nos olhos veio até a mim e me deu um abraço forte.

- Anjo eu prometo não te decepcionar nunca mais. Eu te amo muito.

Depois do abraço e de nos recompor, começamos nosso dia. No sábado eu deixei alguns arquivos para organizar sobre o caso encerrado a poucos dias. Coloquei tudo em ordem e assim correu o dia.

Meu celular ficava no silencioso na maior parte do tempo, deixava no vibra apenas na hora do almoço. Era por volta de 17:30 e chegou um sms, eu só vi no mesmo momento pois estava organizando minhas coisas para ir embora. Quando desbloqueei a tela pude pré visualizar o conteúdo da mensagem: "espero que tenha tido um ótimo aniversário vadia pois minha vingança começa agora e a peça chave dela é sua cachorrinha burra de estimação – Jane".

Era a segunda que eu recebia em menos de 3 dias, eu estava começando a me preocupar. Pensei em ligar para a delegada Isabella e contar ou até mesmo fazer um boletim de ocorrência, mas como eu estava mais preocupada em ir á consulta eu deixei pra lá.

Peguei minha bolsa e a Jane já estava me esperando. Fomos em direção ao estacionamento e chegando lá vimos uma faca no pneu do carro da minha amiga. Logo chamamos um dos manobristas que não estava no andar em que estacionamos e pedimos explicações. Ele não soube nos explicar o que tinha acontecido e foi falar com seu chefe, em poucos minutos ele chegou:

- Desculpa doutora Angelina, vamos analisar as imagens do estacionamento e ver que fez isso com o carro da senhorita Jane. Poderia me acompanhar?

- Não Soares, obrigada. Preciso apenas que alguém troque o pneu pra mim e amanhã resolvemos isso.

Um dos manobristas trocou o pneu e claro, Jane estava sem entender o motivo daquilo, mas eu comecei a ligar os pontos. Alguém queria se vingar de mim, mas eu nunca fiz mal pra ninguém. Não me lembrava de quem poderia ter mandado as mensagens e feito isso. Agora eu tinha que me preocupar pelo bem da Jane.

Não quis estender meus pensamentos e logo que o pneu foi trocado nos encaminhamos para o hospital.

Chegando lá fomos nos identificar e procuramos pelo consultório onde a doutora - ou só Alessandra - estava. Aguardamos uns minutos e logo fomos chamadas pela enfermeira.

Entrando na sala, haviam várias informações nas paredes e alguns diplomas. A Alessandra veio nos cumprimentar com um beijo e nos direcionou para as cadeiras. Tudo bem formal até o momento.

- Bom dia meninas, espero que estejam bem e saibam que fiquei muito feliz que vieram.

- Nós que agradecemos doutora – fiz uma pausa por causa da formalidade – Alessandra, sabemos o quão difícil é marcar uma consulta e a senhora se mostrou muito interessada em ajudar minha amiga.

- Tirando a formalidade e o "senhora", não precisa agradecer. Agora quero saber dessa garotinha aí do seu lado que esta quieta feito uma múmia. – disse sorrindo - Vamos lá Jane, como está se sentindo? E esse bebê aí nessa barriga? Você é bem magrinha, ainda nem está parecendo gravida. Vou te encaminhar para o obstetra depois daqui ok?

- Oi doutora desculpa, mas eu te vejo como médica e não como amiga. – Eu dei uma cotovelada na Jane nessa hora, como ela pode dizer isso depois de tudo o que a Alessandra fez por ela – Eu entendo o que fez por mim e agradeço muito, mas gostaria de tratar esse assunto de forma séria e sem alarde. Quero saber sobre o tratamento da doença, mas por enquanto não quero falar sobre a gravidez.

Como ela pode ser tão grossa? Meu Deus!

- Olha Jane, na sua idade eu me preocuparia com tudo. – Ela explicou mais uma vez sobre os cuidados que deveria ter daqui pra frente e sobre o coquetel que deveria tomar diariamente. – E mesmo que você não queira falar sobre a sua gravidez, saiba que ela é de risco, levando em consideração que seu organismo está fraco e seu psicológico também. Quero começar o seu tratamento, te garanto que será com a maior discrição. Quanto ao pré-Natal, vou marcar pra você começar agora.

- Não doutora, eu não quero. Acredito que nem tenha mais filho dentro de mim.

Eu fiquei chocada com aquela confissão e ao olhar para a Alessandra a mesma teve a pior reação possível, ela encarou a Jane como que se pudesse invadir seus pensamentos e achar o motivo daquela afirmação.

- Então dona Jane, a senhora assume que cometeu um aborto?

- Não, não é isso. Mas esses dias eu tive um sangramento, então acredito que tenha abortado espontaneamente.

Alessandra levantou da cadeira e foi até o corredor. Pediu que aguardássemos no consultório pois ela já voltaria.

- Jane o que você fez? – perguntei baixinho.

- Eu não posso falar que abortei ou serei presa.

Ela confessou que havia conseguido exterminar aquela gravidez e meu semblante mudou radicalmente com a notícia.


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