Capítulo 12

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Olhei para o meu celular para checar as horas e eram 22:15, resolvi sair do quarto e comer alguma coisa pois a horas eu não tinha nada na barriga. Coloquei um chinelo e fui até a cozinha preparar um congelado – vida prática é assim, nada saudável.

O silencio da casa foi quebrado com Jane saindo do banheiro. Quando ela me viu correu para o seu quarto. Eu não dei muita atenção, já estava cansada e ela se quer deu valor a tudo o que eu dei á ela. Cansei mesmo, até me surpreendi com a minha atitude em ser indiferente.

Peguei um lanche, coloquei no micro-ondas e esperei os 3 minutos que diziam na embalagem. Tirei o refrigerante da geladeira e servi um copo. Comi tranquilamente o lanche assistindo televisão na sala. Só se ouvia o barulho da tv, o resto era silencio total. Parecia até que o condomínio estava dormindo.

Terminei o lanche, lavei o prato e o copo e me encaminhei até o banheiro para fazer minha higiene antes de dormir. Passando pelo quarto da Jane ouvi gemidos bem baixinhos como de um bebê com cólicas. Foi aí que toda a minha indiferença passou e logo me preocupei com ela. Bati na porta e chamei por ela – demorou um pouco – e ela pediu que eu entrasse.

Jane estava encolhida na cama com vários cobertores e um curativo no punho. Ela chorava baixinho e com cara de dor.

- O que você está fazendo com a sua vida minha amiga? Eu sempre te dei tudo o que você queria, nunca te pedi nada em troca apenas sua amizade. Porque agora está fazendo isso?

- Anjo....eu só quero morrer...- e desabou de vez a chorar.

- Nunca mais diga isso!!! – Eu disse com raiva daquela atitude, mas a abracei com toda a minha força para que ela se sentisse segura e amada por mim.

Jane sempre foi uma menina maluquinha. Por ter sido criada em um orfanato e só conheceu a mãe depois de adolescente, ela era desprovida de qualquer tipo de carinho principalmente familiar. Eu sou a pessoa mais próxima de uma família que ela já teve. Sua família adotiva era na verdade a família de sangue que a abandonou logo criança. Mas ela não queria viver aquilo, já era do mundo.

Por esse lado eu penso que ela é meu karma, que nos conhecemos por algum motivo. Talvez para eu ensinar algo de bom e para ela me mostrar o que é ter uma irmã.

Mas está sendo um pesadelo ter essa irmã adolescente.

Ela não dizia nada, apenas chorava baixinho encostada no meu peito. Eu comecei a cantar uma música que ouvia quando minha mãe me colocava para dormir, e por incrível que pareça ela adormeceu nos meus braços como se tivesse sido dopada.

Aproveitei aquele momento para olhar seus braços, e haviam cortes lá. Nada profundos, apenas marcados por um estilete ou gilete. Ela é fraca com a dor, por isso não conseguiu finalizar aquilo. Eu apenas continuei o carinho e deixei que o sono a consumisse.

Deitei seu corpo lentamente no colchão, a cobri e me levantei. Ela se mexeu um pouquinho, mas não acordou.

É... acho que nós duas merecemos um bom descanso. Amanhã iriamos juntas ao trabalho – coisa que fazemos todos os dias – e depois desse final de semana prolongado eu só queria apagar também.

Fui ao banheiro, escovei os dentes e voltei para o meu quarto.

Liguei a tv mas não prestei muita atenção, estava olhando pela janela antes de me deitar. A vista era muito metálica, mas mesmo assim bonita, diferente das praias lindas do Rio de janeiro.

Um ar melancólico vinha junto com o som do vento. Está um pouco frio e logo minha pele se arrepiou, fechei a janela e me deitei. Antes de dormir peguei meu celular e desbloqueei a tela. Entrei no meu app de mensagens e decidi perguntar se estava tudo bem com a Ale, nossa como fui relapsa, essa mulher ficou do meu lado quando eu mais precisei e agora que é a vez dela eu estou aqui tranquila e não pensando nela.

- Olá, boa noite. Passando para dizer que a Jane está dormindo, teve alguns arranhões por conta de uma depressão que acho que dá pra controlar, tirando isso tudo bem por aqui. E você? Desculpa a hora, mas só agora pude parar.

Mandei a mensagem sem esperar pela resposta, poderia estar atrapalhando por conta do horário então não fiquei esperançosa aguardando um retorno.

Me cobri e comecei a assistir a tv até o sono chegar.

Acabei cochilando, não sei por quanto tempo, mas acordei com o vibrar do celular na cômoda ao lado da cama. Era continuo e logo deduzi que era uma chamada de voz. O número não estava nos meus contatos, mas resolvi atender:

- Alô? Quem é? – Perguntei ainda sonolenta.

- Oi anjo, é a Ale. Eu vi sua mensagem agora, te respondi, mas você não deve ter lido ainda. Desculpa, acho que te acordei. Eu ligo amanhã.

- O oi Ale, eu estava cochilando só, nada de mais. Está tudo bem? Nossa, desculpa, deixei o celular no vibra e nem vi que tinha mandado mensagem. Desculpa mesmo. Aconteceu alguma coisa?

- Você deve estar perguntando se aconteceu alguma coisa pelo horário que estou te ligando né? Na verdade, está tudo bem sim, é que eu tenho insônia devido aos plantões acabo me perdendo entre o dia e a noite. Mas amanhã conversamos melhor. Que bom que ela está dormindo, vou prescrever alguns remédios para que ela fique calma e um indutor do sono. Consegue vir com ela amanhã no hospital?

- Olha Ale, eu vou tentar. Mas sabe como é a Jane, ela é uma porta, não obedece nem aceita ajuda.

- Bom, se ela não quiser ir venha você, queria te ver. – Disse isso e eu pensei "eu devo isso a ela", mas logo ela continuou – Podemos tomar um café aqui na padaria e conversar um pouco.

Falando nesse tom eu mudei minha reação antes assustada achando que era um convite para sair para uma voz mais amigável.

- Claro que vou, mas juro tentar arrastar ela.

- Então está bem, te espero amanhã. Um beijo e durma bem.

- Você também, até amanhã. – Esqueci do beijo ....

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