Amor Ariano

Não me iludo

Menina, baixou o movimento na loja e fiquei achando que iam me dispensar dali perto da páscoa. Se eu tivesse numa franquia de chocolate, beleza, tava tranquilo, mas roupa... 

Que que eu tô me preocupando? Ninguém anda pelado aqui na região, a não ser quando vamos à praia de nudismo, digo, o Abi vai. Mas voltando ao babado, na primeira segunda depois que passei aquela noite com Celso, ele chama pra conversar separado na loja.

Isso mesmo que vocês leram, passei a noite mais estranha da minha vida, porque comi um pouquinho demais e o chefe ficou me cuidando. Safado, só esperando pra me bolinar. Mas sou fiel àquele dito cujo, mesmo que ele não queira. Ou melhor, eu dei uma escorregadinha. Não, não... na escorregada entrou tudo mesmo. 

Depois de uma baita bronca do autor esquisitão, vou contar meio por cima o que aconteceu.

...

— Sobre sábado...

— Tá, já sei. Foi sem querer, tu tava carente, não quer me magoar e não vai se repetir, é isso?

— Porque fica deduzindo um monte de coisas? 

— Tu é hétero.

— E daí?

— Tem grandes chances de ser só uma curiosidade com um arrependimento bônus.  

— Tu nem sabe.

— Na verdade, não crio expectativa, amore. Então, chefinho. Tô vendo que vai me dar o aviso prévio.

— Sim é o aviso, mas é o de férias. Será que dava pra ti entrar de férias no dia 10/03?

— Quê? Espera, porque não posso tirar em julho? Eu pedi primeiro. Porque nunca me dão no inverno? Vou levar isso pro lado pessoal.

— Deixa de drama, menino. O pessoal que faz faculdade e tem filhos que pegam férias nessa época, a gente dá uma prioridade. Não faz assim, Cley.

Lógico que faço a maior cara feia. Eu não devia deixar quieto não. Sou o funcionário mais antigo do momento. Sim, porque empregado com mais de cinco anos no comércio é uma raridade hoje em dia, e eu já completei mais que isso na empresa. Só não me demito porque tem dias que sinto o sabor e a textura crocante do FGTS que eu tenho depositado e se eu pedir demissão, não me liberam. Aiai... Uma demissão sem justa causa não seria tão ruim... ou seria? 

Seria! Claro! Tá o maior desemprego lá fora! E eu trabalho num lugar babado, ganho comissão e o chefe é um amor de pessoa. O dono nem vem ao caso, me lembra a Vera Loyola, versão (Mummy) Man.

— Tá, assino... 

Gente, tô doente, não me reconheço nesse personagem calmo. Isso significa que depois de amanhã, eu entrarei num período de gozo de trinta dias. Gozo de férias, né... nada assim tãaaao incrível. Vou lá pro interior de Pomerode na casa da minha mãe e quero desligar o celular, colocar o Celso de castigo e o Cidinho é outro que vou bloquear. 

O que esse macho tem que fica só me rodeando? Tá enchendo o saco! Tô lá pendurando uns vestidos nos cabides e ele chega de fininho.

— Cley...

— Que é Celso? Tá desculpado. Não fica me enrolando que não gosto. Já disse que tá tudo certo. Você é um macho tesudo, beija bem e fode gostoso. Da minha parte, pode tentar se entender com a "patroa". 

— Mas... 

—Pode até me chamar a moça que falo pra ela que só rolou uma transadinha rápida.