Capítulo 3 - Flagra

80 13 2
                                    




Barulho de telefone tocando.

Era Thomas. E agora? Eu não tinha a menor ideia de como explicar que em menos de 24 horas eu viajaria para os Estados Unidos.

- Hey! - atendi o telefone num tom de voz baixo.

- Oi princesa! Tudo bem?

- Tudo...

- Tudo mesmo? Você parece chateada...

- Precisamos conversar...

- Ahn...claro! - ele mudou o jeito de falar num instante - Quer me encontrar em algum lugar? Podemos tomar um café no Chelsea antes de irmos para casa, o que acha?

- Pode ser...eu te encontro às 19 h.

- Confirmado. Até daqui a pouco princesa.

Sai da agência e fui caminhando até o Chelsea. O lugar ainda estava vazio, então pude escolher uma mesa em um canto reservado. Thomas era ciumento e desconfiado, e justamente por ele ser assim, eu sentia minhas mãos frias, transpirando, trêmulas. Eu estava nervosa em pensar qual seria a reação dele ao contar sobre a viagem.

Já se passaram meia hora e Thomas ainda não havia chegado e nem mandado mensagem avisando sobre seu atraso. Comecei a ficar impaciente e mais nervosa. Resolvi mandar mensagem.

19:34 - "Onde você está?"

Nem sinal de que havia visualizado a mensagem. Esperei mais 10 minutos e mandei mensagem novamente.

19:44 - "Thomas, cadê você???"

Continuei sem resposta. Comecei a ficar preocupada, então resolvi ligar.

O telefone chamou até cair na caixa postal.

O café já estava cheio, eu já havia tomado dois cappuccinos e Thomas não havia aparecido, nem dado notícias. Tentei ligar novamente e desta vez, o celular estava desligado. Decidi ir embora.

Decidi ir caminhando para casa, afinal, não morava tão longe dali. No caminho do café até minha casa, eu passava em frente ao edifício onde Thomas trabalhava. Ao me aproximar, vi entre as grades do portão da garagem que seu carro ainda estava estacionado lá dentro. Olhei para o alto e percebi também que a luz do andar da agência estava acesa. Resolvi entrar.

- Boa noite, posso ajudá-la? - perguntou o porteiro do edifício.

- Boa noite, o senhor saberia me informar se a agência de fotografia do 6º andar ainda está aberta?

- Não senhora, a agência fecha às 18:30.

- É que a luz está acesa e meu noivo... - fui interrompida.

- A luz acesa? - ele questionou caminhando até em frente ao edifício olhando para o alto - e não é que está mesmo? Acho que o Sr. Thomas ainda está aqui com a noiva dele.

- Thomas? Você conhece o Thomas Romero? - perguntei num tom de voz indignado.

- Sim, ele é o fotógrafo da agência. Geralmente trabalha até um pouco mais tarde porque fica esperando a noiva dele chegar.

Talvez eu tenha tido uma atitude impensada no momento em que ouvi as últimas palavras saindo da boca daquele homem. Em passos fortes, fui até o elevador e subi para o 6º andar para confirmar o que eu já sabia que estava acontecendo, mas que no fundo precisava ver com meus próprios olhos.

Quando as portas do elevador se abriram, respirei fundo e fui em direção à porta de entrada da agência. Fiquei por 5 segundos parada olhando para os meus pés, até criar coragem de apertar o botão da campainha. Respirei fundo mais uma vez.

Barulho de campainha tocando.

Ninguém veio ver quem era. Apertei mais uma vez pressionando o meu dedo formando um som alto e intenso.

Nada.

Tentei ligar mais uma vez para Thomas e seu celular ainda permanecia desligado. Por um segundo, apenas um segundo, pensei que eu pudesse ser injusta em pensar que Thomas seria capaz de estar me traindo e que tudo não passava de uma insegurança boba da minha cabeça, somente por ter visto aquela mensagem em seu celular que poderia não significar nada.

Ao dar as costas ouvi claramente uma risada alta vinda lá de dentro. Meu coração acelerou e eu senti minhas pernas ficarem bambas. Um barulho girava a chave na porta, fiquei imóvel, meus olhos se encheram de lágrimas porque eu já sabia, não sei explicar como, mas eu já sabia que Thomas abriria aquela porta e eu o encontraria com outra mulher.

- Ju? O que você faz aqui? - Thomas perguntou olhando para mim assustado com seus enormes olhos castanhos arregalados.

Olhei para ele da cabeça aos pés, estava com os botões da camisa abertos, cabelos bagunçados, ao redor de sua boca estava vermelho, seu pescoço todo marcado e um forte sentimento de raiva e ira me dominou.

- Thomas!!! O que está acontecendo aqui? - eu gritei fazendo um eco intenso pelo corredor.

- Calma Ju! Eu posso te explicar! - respondeu tentando me segurar pelos ombros.

- Não encosta em mim Thomas! - empurrei o peito dele e invadi a recepção da agência.

- Julieta, calma. Não é nada do que você está pensando!

- Eu não estou pensando Thomas!!! Eu estou vendo com os meus próprios olhos!!! Que nojo que eu estou de você!!! Eu sabia!!! Eu tinha certeza desde o momento em que eu vi aquela mensagem em seu celular!!! - eu gritava e chorava descontroladamente, como ele foi capaz de fazer isto comigo?

- Você mexeu nas minhas coisas? - ele me questionou tentando desviar o foco daquela situação.

- Sério Thomas...não consigo acreditar!!! Estou me sentindo um lixo. O que eu fiz pra merecer isto?

Thomas me olhava com lágrimas escorrendo sobre o seu rosto. Ele sabia que havia feito a maior burrada de sua vida. Tínhamos tantos planos para o nosso futuro, tantos sonhos que aos poucos estávamos construindo e realizando. Ele jogou tudo fora, sem o mínimo de respeito e consideração.

Não consigo compreender de onde surgiu forças para dar as costas e ir embora. Desci os seis andares pela escada de incêndio, chorando, perdida, com o coração partido. Fui para casa. Eu precisava de alguma forma me recompor, tomar um banho, refletir, focar no meu trabalho, aproveitar a oportunidade que eu estava tendo para viajar e trabalhar em outro país. De alguma forma, ir para Tulsa teria que valer a pena, muito a pena, de forma que talvez algo me prendesse por lá durante um bom tempo, ou quem sabe...para sempre.

Be my JulietOnde histórias criam vida. Descubra agora