Daniela

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A vida é a luz de uma lâmpada, ligada à corrente elétrica. Um dia, quando houver a mínima queda de energia, a lâmpada se apaga instantaneamente. A diferença é que a lâmpada poderá acender-se outra vez, basta que a energia retorne. A vida, contudo, depois que se esvai, deixa apenas penumbra e saudade.

Daniela foi uma luz suave que cintilou em mim por alguns anos, mas um dia apagou-se, deixando-me solitário e triste. A pele branquinha, o riso afável, os cabelos loiros, delicadamente caídos nos ombros, davam-lhe aparência de fada, de anjo.

Mas anjo não pertence a este mundo, nem fada. A menina tímida, irremediavelmente calada, chamou minha atenção no primeiro dia de aula do cursinho pré-vestibular. Sentava-me na outra extremidade da sala e, dia após dia, eu escolhia uma cadeira mais perto dela, que parecia ter um lugar fixo. Até que me tornei seu vizinho, sentando-me ao seu lado.

Começamos, então, a estudar juntos. Daniela tinha 19 anos e era virgem. Eu, aos 20, colecionava algumas aventuras amorosas. Antes de prestarmos vestibular engatamos um namoro sério, com o consentimento dos pais dela e tudo. Até que, vencidos pelo desejo avassalador, fomos para a cama.

Daniela amava pela primeira vez. E eu não sabia o significado desse sentimento, pois nunca me entregara de verdade a ninguém. Ela falava em casamento, filhos e que ficaríamos juntos para sempre. Eu, por outro lado, queria aproveitar a vida. E a vida ganhava intensidade ao lado de outras mulheres, de variados tons e diferentes sabores.

Quando Dani soube que eu a traía, afundou-se numa angústia medonha. Afastou-se de tudo, perdeu a vontade de viver – certo dia, mergulhada numa tristeza sem fim, tomou uma caixa inteira de comprimidos para ansiedade e sofreu uma parada cardíaca.

Virou anjo. Agora vive num lugar calmo e luminoso, longe do homem que pagou com traição o amor que nasce no coração e se desenvolve no fundo da alma.

Os Amores que ViviOnde histórias criam vida. Descubra agora