Pietra

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Momentos felizes são fugazes, transitórios, passam com a mesma rapidez de uma tarde ensolarada que, num átimo, fica encoberta pela penumbra da noite, teimosamente decidida em roubar-lhe a luz, afugentar o calor.

Pietra foi uma dessas tardes luminosas que aquecem o coração e iluminam a alma. E sua partida, em meio a trovões e rajadas de ventos frios e cortantes, foi como noite interminável sobre mim.

Era fim de ano e os dias vestiam-se de ternura e leveza. Cheguei à rua do comércio com o objetivo de comprar o presente de Natal para a minha mãe, tarefa sempre muito difícil e penosa, pois tudo parece tão simples para a mulher mais especial da minha vida.

Entrei numa loja de sapatos, de onde saía um perfume adocicado, e fui atendido por uma moça bonita - branca, olhos redondos e vivos, cabelos castanhos e longos que lhe emprestavam uma aparência séria, apesar do sorriso estampado no rosto. Comprei o primeiro sapato que ela me apresentou e recebi com carinho o cartão que me dera, com seu nome e telefone.

No dia seguinte liguei para Pietra, a vendedora que me atendera, para desejar-lhe Feliz Natal. Ela se mostrou feliz com minha lembrança e disse que passaria aquela data importante longe da família. Sua voz, nesse momento, tornou-se quase inaudível, tremendamente distante e triste.

Depois de muita insistência consegui convencê-la a passar a noite de Natal com a minha família. Já era alta a madrugada quando fui levá-la em casa, na periferia da cidade.

Tornamo-nos amigos. Depois namorados. Uma paixão ardente nasceu entre nós, regada a beijos molhados, abraços cheios de ternura e cumplicidade e momentos de pura felicidade. Eu era o seu "príncipe"; ela, meu "anjo". Nossas vidas eram uma tarde de sol, banhada pela luz amarela da alegria. E Deus, que habitava entre nós, tornou-nos uma só criatura.

Mas Pietra mudaria repentinamente. Ficou fria, distante - o sorriso apagado era apenas uma pálida lembrança do sol que iluminara minha vida. E quando ela revelou um dia, entre lágrimas e soluços, que há quatro meses conhecera outra pessoa e estava apaixonada, o breu da tristeza desceu irremediavelmente sobre mim.

Hoje, olhando a vida pelo retrovisor da memória, ainda consigo enxergar luz no sorriso de Pietra, cada vez mais distante do meu coração e prisioneiro da minha saudade.

Os Amores que ViviOnde histórias criam vida. Descubra agora