Sônia

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O destino, para muitos, é um velho ranzinza que tem o poder de se intrometer na vida das pessoas, abrindo ou fechando portas, tramando mil coisas para que as circunstâncias ocasionem os resultados que ele julga importantes para essa ou aquela criatura.

Para mim, o destino nada mais é que o resultado das minhas escolhas, a consequência dos meus atos, sejam eles conscientes ou impensados.

Aos 19 anos de idade, quando o mundo se lhe descortinava, Sônia ingressou no convento. Era noviça havia dois anos e planejava fazer os votos perpétuos, para deleite de sua família. Mas, no fundo do coração, pairavam dúvidas: queria realmente tornar-se freira? E a vontade de conhecer alguém? De queimar-se no fogo do desejo? De casar-se e de ter filhos?

Morena dos olhos castanhos, riso velado no canto da boca e corpo escondido num hábito pesado - a primeira vez que a vi foi no salão paroquial da igreja que eu frequentava com minha mãe, no centro da cidade. Ela me olhou de raspão e não me viu.

Foi aí que o destino, não o velho ranzinza, mas o resultado da minha ação, colocou-nos outra vez frente a frente. Procurei a noviça certa vez para lhe pedir conselhos. Inventei que estava apaixonado por uma mulher casada, que estava prestes a me declarar a ela... Sônia procurou demover-me daquela ideia, dizendo que seria um grande erro, que eu nunca seria feliz, que procurasse uma mulher solteira...

Tornamo-nos amigos e confidentes. Um dia, enquanto conversávamos, Sônia desabafou:

- Será que devo fazer os votos perpétuos e me tornar freira?

Repousei o olhar sobre ela, contemplativo, e respondi:

- Ouça o seu coração, ele dará melhor resposta que eu.

Sônia ouviu o coração e abandonou o convento. Passamos a sair nos fins de semana e, quando menos esperávamos, já estávamos namorando.

Um ano depois, profundamente desgastada, a relação terminou. Entrei numa fossa profunda, trancado no fundo de mim. Sônia, por outro lado, logo conheceria outro homem, entregando-se a ele. Engravidou, casou-se e teve um filho lindo, do jeito que ela imaginava na amarga solidão do convento.

Os Amores que ViviOnde histórias criam vida. Descubra agora