Florbela

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Muitas vezes somos o resultado de nossas escolhas. Seria conveniente que nossas escolhas fossem o resultado do que somos, permitindo-nos evoluir. Mas fazer escolhas com a venda da imprudência nos olhos e diante da imponderabilidade das coisas é, quase sempre, jogar na loteria.

Florbela apostou tudo de si na liberdade incondicional, ilimitada. Saiu aos dezessete anos da casa dos pais e, três anos depois, havia colecionado experiências inimagináveis, guardando no peito certo remorso por muitas decisões tomadas no calor de emoções efêmeras.

Morena dos cabelos encaracolados e longos, olhos castanhos e corpo esbelto: essa é a lembrança que ainda guardo dela em minhas retinas. Vendia sanduiche natural na praia quando a conheci. E não resisti àquele sorriso que antecedeu a pergunta:

- Vai um sanduiche natural aí?

- Só se você me acompanhar! - respondi, sorrindo.

Ela retribuiu o sorriso, sentou-se ao meu lado, escolheu dois sanduiches e nos deliciamos com eles enquanto conversávamos. Revelou-me que seu nome fora dado em homenagem a uma poetisa portuguesa; que se apaixonara por um cara mais velho e que, ao lado dele, resolveu sair de casa para ganhar o mundo; que agora o namorado puxava cadeia por tráfico, que o visitava de vez em quando, que dividia a quitinete com uma amiga...

Não sei se já disse antes, mas tenho certa facilidade em ganhar a confiança das pessoas, que normalmente abrem a vida inteira pra mim assim que me conhecem.

Tornei-me cliente assíduo e nossa intimidade cresceu. A primeira vez que fomos para a cama, após uma balada, Bela ofereceu-me um cigarro de maconha. Fumamos antes e depois do amor. Da maconha evoluímos para a cocaína. Como eu não era acostumado a usar tais substâncias e temia uma overdose controlava a quantidade de pó a ser inalada, contentando-me com uma porção mínima, o suficiente para garantir uma performance incrível na cama. Nunca cheguei a perguntar de onde ela tirava o dinheiro para a droga, já que a venda de sanduiches não rendia grande coisa.

Até que ela resolveu sumir. Não retornava minhas mensagens nem chamadas. Dias depois, por meio das redes sociais, eu ficaria sabendo que ela integrava um grupo de mulheres que distribuía cocaína na movimentada orla da cidade, que a quadrilha fora desbaratada e todas elas agora estavam presas.

Não parece justo alguém assim, tão jovem, perder a liberdade se ansiava tanto por isso. Mas entendo que escolhas erradas trazem consequências desagradáveis. Bela pagava um alto preço pelos erros cometidos, mas estava num lugar estranhamente familiar, pois sempre fora prisioneira de si mesma.

Os Amores que ViviOnde histórias criam vida. Descubra agora