Clara

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A adolescência é a fase da febre, da ânsia, do desejo incontrolável, em que a mente fica refém do corpo e as primeiras paixões se tornam inesquecíveis.

Conheci Clara quanto eu tinha 15 anos de idade (ela tinha 17). Menina de família tradicional, era recatada, daquelas que participam de grupo na igreja e costumam fazer pelo menos duas orações por dia: antes de dormir e ao acordar.

Estudávamos na mesma escola. Eu iniciava o primeiro ano do ensino médio, ela concluía o terceiro ano e só pensava em vestibular. Outra coisa que não saía da cabeça da menina: ir para um convento. É isso mesmo, Clara desejava tornar-se freira. 

Certa manhã, durante o intervalo, aproximei-me dela e puxei conversa. Disse que a achava um exemplo de garota: séria, estudiosa, temente a Deus. E Clara, que sofria de uma carência afetiva irreversível, adorou a nossa primeira conversa, que se repetiria praticamente todos os dias. Lanchávamos juntos, conversávamos pelo celular, interagíamos em redes sociais. Até que um dia, encostados no muro do pátio, demos o primeiro beijo.

Clara também amou o beijo, mas não passaria disso!, avisou resoluta. Eu, evidentemente, queria mais. Convidei-a para uma festa de aniversário do Luciano, amigo de classe, e ela topou na hora, alertando-me que tinha hora para voltar para casa. Depois do "parabéns", já chapados de refrigerantes, levei-a para atrás da casa, onde fomos um pouco além de beijos apaixonados.

O namoro ficou sério. Conheci seus pais, seus amigos. Numa tarde chuvosa, certo dia, enquanto estudávamos em seu quarto, resolvemos nos entregar finalmente um ao outro - os dois consumidos pelos prazeres da carne, loucos de desejo.

Nunca mais ficaríamos juntos. Eu não era mais virgem. Nem ela. E o encanto, assim como aquela forte chuva que presenciara nossa primeira vez, sumira repentinamente.

Os Amores que ViviOnde histórias criam vida. Descubra agora