27 de Outubro de 1975

265 91 114
                                    


27 de Outubro de 1975

Pela manhã saí da aldeia para lidar com as necessidades biológicas e encontrei algo estranho outra vez. Nesse ponto já me preocupo que sinta falta da estranheza se tiver um dia tranquilo e sem acontecimentos inexplicáveis... Mas eu divago.

Toda a floresta do lado de fora está molhada, inclusive com algumas poças d'água grandes, como se houvesse chovido a noite toda, mas a aldeia está  seca. Nem uma gota fora do lugar.

Entrei e saí da aldeia diversas vezes para confirmar que não estava imaginando coisas, e fiz uma busca bem detalhada procurando por indícios de chuva, mas não pude encontrar o mínimo vestígio de qualquer anormalidade climática pela noite. Eu sei que choveu, e pelo estado da floresta não foi uma chuva passageira. Foi o suficiente para deixar poças d'água e transformar a terra em barro.

Dentro da aldeia a terra está completamente seca e sem vestígios de umidade. Nenhum pote dos que deixei na aldeia para juntar água tem uma simples gota dentro.

Não quero cair em achismos e conjecturas (foi isso que me colocou em apuros), mas algo está muito fora de lugar aqui. Eu vim para cá para encontrar algo estranho, sim, mas nada relacionado com isso.

Marie, eu quero te contar tudo, mas ainda não encontrei a força necessária para isso. Eu quero que saiba tudo sobre mim e sobre o que aconteceu. Eu não sou culpado do que eles me acusam, mas também não sou inocente. Não quero que pense mal de mim Marie. Eu vou encontrar a força e as palavras corretas. Mas não agora.

Vou voltar ao morro agora e procurar as marcas e a lata de feijão que enterrei.


27 de Outubro de 1975 – Parte II

Nem mesmo a árvore está aqui. Esse lugar é um exercício para sanidade mental.


27 de Outubro de 1975 – Parte III

Para não perder o dia voltei para onde estava o restante do meu equipamento, e agora tenho certeza de que algo está muito errado aqui. Existe um acampamento onde antes existia mata fechada, e tenho certeza de que não foi feito da noite para o dia.

Ali estão acampadas pessoas vestidas como se fossem de centenas de anos atrás. Carregando armas da época e tudo. Eu sei que não estou louco. Não posso estar vendo coisas.

Eu tenho uma ideia do que está acontecendo aqui, mas não quero falar no momento porque pretendo manter a sanidade.

Nenhum deles me viu, mas pude ouvir um trecho da conversa. Falavam em espanhol, e pelo que pude entender estão em busca de alguma cidade ou algo do tipo. Meu espanhol não é tão bom.

Um pouco mais afastados do acampamento estão alguns índios, que acredito serem guias para os espanhóis. O mais velho deles me viu, mas não fez nenhuma questão de alarmar minha presença.


27 de Outubro de 1975 – Parte IV

Estou de volta no acampamento. Vou carregar a metralhadora comigo a partir de agora. Ela está carregada, mas não sei se ainda funciona, e tenho medo de fazer um teste para descobrir. Um tiro aqui seria ouvido a quilômetros de distância e não quero revelar minha presença para ninguém.

Marie, eu acho que estou viajando no tempo de alguma forma. Ou minha mente está viajando em alguma loucura que me atingiu. De qualquer forma, vou descobrir o que está acontecendo e registrar tudo aqui, na esperança que você ou alguém possam tomar conhecimento.

Já comecei a registrar marcas na saída da aldeia a com uma data aproximada. Marquei 1600 aqui, mas não posso ter a menor ideia de quando estou. Não tenho a mínima ideia de como descobrir as datas, mas vou pensar em algo.

Isso pode ser um dos maiores achados da humanidade! Ou apenas uma confirmação que minha mente foi finalmente danificada além do ponto.

Até mais, Marie.

O Diário de Igor Jankov (Pausado temporariamente)Onde histórias criam vida. Descubra agora