11 de Novembro de 1925

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11 de Novembro de 1925

Olá, Marie. Infelizmente quem lhe escreve ainda é Percy. A noite de Igor foi instável, e nos deixou preocupados. Ele delirou por boa parte da noite, falando muito sobre você, mas também sobre outras coisas que não compreendo. 

Pelo que pude compreender, Igor estava trabalhando em algum projeto de desenvolvimento de armas para algum grupo, e algo deu errado. O arrependimento e culpa que ele parece carregar são imensos. Ao que parece, aceitou uma grande quantia de dinheiro para trabalhar em algo que  sabia ser extremamente destrutivo. Queria garantir o seu futuro, Marie. Como pai, eu posso compreender o sentimento, mas não perdoar a ação.

Não cabe a mim julgar as ações de Igor, mesmo porque não conheço toda a verdade e o contexto da situação. Espero que você encontre o perdão e a paz no seu coração, Deus sabe que o seu pai precisa deles.

Igor também falou algo sobre os motivos de vir até esse lugar, e o que o deixou numa situação ruim em primeiro lugar. Alguém estava movendo parte do material perigoso com que trabalhava para cá. Não compreendi muito bem do que falava. Urn? Urno? Isso faz algum sentido para você? 

Não pude compreender mais do que isso, porque seu pai entrou em estado inquieto. Ele está em busca de algo aqui, e pelo que pude ler no diário, não quer te envolver. Ele está errado. Do que adianta chorar, se arrepender das ações, e não ser direto com você? Se ele retornar a esse diário, que leia isso e lide com o fato de eu ter escrito isso para você.


11 de Novembro de 1925 - Parte II

O jovem Acaua passou o dia todo cantando e contando histórias para o seu pai.  Ele aparenta gostar disso, visto que o seu sofrimento parece se apaziguar nessas horas. O rapaz é incansável nos seus esforços. Já lhe pedi várias vezes para que fosse deitar e descansar, que eu tomaria conta de Igor. Mas ele é irredutível , e segue ali até esse momento que escrevo. Seu pai não poderia estar em melhores cuidados, Marie.

No momento está contando a história de um jovem caçador que se perdeu da sua tribo em uma saída distante da aldeia. O caçador não conhecia o lugar e não sabia voltar, então teve que procurar ajuda. Encontrou  uma onça caçando um coelho e uma serpente observando a briga, e lhes pediu ajuda para voltar para casa. O coelho disse que lhe ajudaria se matasse a onça e a impedisse de comê-lo. A onça disse que o ajudaria se matasse o coelho e ajudasse com a sua refeição. A serpente não pediu nada em troca, apenas que a levasse com ele, pois dessa forma a estaria ajudando mais do que o necessário.

O caçador não conseguiu escolher um lado na disputa do coelho e da onça, e resolveu aceitar a ajuda da serpente. Ela o guiou pela mata, passando por um rio e chegando a uma grande cidade, diferente de tudo que havia encontrado antes. Logo foi recebido por algumas pessoas vestidas de forma estranha que o aprisionaram. Perguntou a serpente porque o havia traído daquela forma, ao que ela respondeu que não, não o havia traído.  Ela lhe trouxera para casa, mas não a sua casa. E ele a ajudara trazendo-a de volta ao lar, entregando um presente novo aos seus mestres.

O jovem guerreiro lutou para se desvencilhar dos seus captores, e conseguiu fugir pela mata.  Depois de meses procurando conseguiu retornar a sua aldeia, e desde aquele dia passou a ensinar a todos ali o valor de se conhecer o lado ruim de cada trato que se faz. Prefira sempre o ruim conhecido, do que o bom parcialmente desconhecido. Creio que seja essa a moral dessa história tão estranha.

Acredito que seu pai compreendeu a moral dela melhor do que eu, pois posso jurar que seus olhos se encheram de lágrimas.

Encerro meu relato de hoje aqui, Marie. Espero ter melhores notícias para você amanhã garota.

O Diário de Igor Jankov (Pausado temporariamente)Onde histórias criam vida. Descubra agora