29 de Outubro de ????

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29 de Outubro de ????

Marie, hoje acordei e encontrei alguns rastros na minha aldeia. São muito discretos e pouco perceptíveis, mas sei que não estavam aqui ontem. Acredito que pertençam a um humano, provavelmente homem pelo tamanho do pé e com uma profunda mancada na perna direita. Essa arrastada de pé pulou aos meus olhos imediatamente e diferenciou as marcas das minhas próprias. As marcas começam do outro lado da aldeia, não pela saída que uso. Elas mostram que a pessoa caminhou um pouco, parou na oca em que eu dormia e voltou a sair da aldeia pelo mesmo ponto.

Não sei em que quando as marcas foram feitas, porque ocorreram de noite, e também não sei quando estou. Passei maior parte da manhã investigando os rastros e acabei por esquecer de checar que marcas estão na entrada da aldeia, mas vou resolver isso agora.

Pelas marcas estou quase certo de estar junto com o pavilhão novamente. Talvez esse pavilhão esteja habitado? Isso explicaria alguém aqui na minha aldeia. Isso me preocupa muito, mas ainda alimento uma fagulha de esperança de encontrar aliados. A solidão tortura demais.

Vou até o morro ver se recupero a lata. A enterrei em 1975, se a encontrar posso ter uma pequena estimativa de quanto tempo se há passado. Até mais tarde Marie.


29 de Outubro de ???? – Parte II

O pavilhão está de volta. As marcas que fiz na árvore ainda estão ali e aparentam terem sido feitas há muito, muito tempo. Embaixo da minha marca está outra que não pertence a mim, mas creio que direcionada a mim. Apenas diz "STOP IT!", em inglês mesmo. Ainda não sei o que pensar em relação a isso. Creio que vou deixar minhas marcas um pouco mais discretas. Seguro morreu de velho, não é?

Encontrei também a minha lata, e pelo seu estado acredito que não tenham se passado menos de vinte anos, talvez trinta ou quarenta. Não tenho uma forma de dar um palpite mais preciso, então vou ficar num meio termo e nomear esse ano de 2000. Para os meus propósitos será o suficiente por enquanto. Já passam das três da tarde agora. Perdi muito tempo pela manhã dentro da aldeia, mas vou aproveitar esse resto de dia para me aproximar o máximo possível do pavilhão e ver o que consigo descobrir. Te amo filha.


29 de Outubro de 2000 – Parte III

Estou aqui Marie. Há uns cem metros de distância mais ou menos, e não me atrevo a  aproximar mais do que isso. O pavilhão é uma instalação militar, e disso estou certíssimo. Conheço uma dessas de longe, indiferente a quando esteja. Acredito que esteja abandonada, ao menos parcialmente, e eu não creio estar ativa em seu propósito inicial, seja o que fosse. Parcialmente abandonada pelo seu estado de abandono e deterioração, porque uma instalação militar jamais chegaria a esse ponto de falta de cuidados, mas existem claros sinais de atividade recente.

Talvez algum grupo de pessoas tenha adotado a instalação para outros fins. Uma caminhonete está estacionada em frente a instalação, o que é um pouco chocante para mim. Não imagino onde uma estrada tenha sido construída para que veículos possam estar aqui. Mas como essa instalação está aqui, algo deve ter sido feito. Um aeroporto talvez? Uma estrada até esse ponto é inimaginável, indiferente há quanto tempo tenha se passado.

Está começando a escurecer. Vou correr para o acampamento.


29 de Outubro de 2000 – Parte IV

Marie, cruzei com um grupo de homens armados! Eles estão parados conversando e bloqueando meu caminho. Estou deitado no chão, fora do campo de vista deles, ao menos por enquanto, mas não sei quanto tempo consigo me esconder. Acredito que estou no caminho de volta para o pavilhão, e eles estão diretamente no meu caminho. Não tenho como me mover sem que me vejam.

A luz está baixando rápido. Não sei se consigo voltar a minha aldeia antes da noite cair. Vou aproveitar o tempo para descrever os homens, talvez ajude em algo futuramente. Ou passadomente? Haha

Você sempre disse que eu faço piadas nos momentos mais inoportunos Marie. Estava certa.

São quatro homens armados e trajando roupas militares, mas não uniformes de algum exército específico. Acredito que mercenários . Seu armamento é moderno, mas não como a minha metralhadora. São rifles um pouco mais novos, mas percebo serem evoluções normais do que eu já conheço.

Conversam em português normal, originário do Brasil. Em relação aos sotaques percebo uma mistura de paulista, carioca e algum nordestino. Não sei precisar qual. Infelizmente não estão conversando sobre nada útil para mim. Apenas futebol.

Não entendo nada de futebol. Poderia tirar alguma informação útil do que dizem talvez?

Estão se movendo! Vou fugir. Espero não ter que testar minha metralhadora agora.


29 de Outubro de 2000 – Parte V

Marie, eles me viram. Fui perseguido pela floresta abaixo de balas, e descobri que minha metralhadora funciona sim. Muito melhor que a deles inclusive. Consegui derrubar um, mas fui atingido no processo. Acho que eles pararam de me seguir. Eu me perdi por um tempo, e vaguei pela floresta me orientando pelas estrelas. Quando encontrei a minha aldeia e corri para ela, fui impedido e derrubado por um senhor alto e forte.

Ele não me deixou falar e pouco me disse. Apenas me deixou saber que seria uma ideia terrível tentar entrar na aldeia. Não sei o porquê ou o que ele queria dizer. O ferimento da bala me fez desmaiar nesse ponto.

Acordei já dentro da aldeia e da minha oca. Não sei quem era o velho, o porquê me impediu, e se fez algo diferente do que eu planejava fazer. Me sinto fraco e perdi sangue. O velho fez uma pequena bandagem no braço para conter o sangramento. 

Vou dormir agora. Amanhã descubro qual será meu próximo passo.

O Diário de Igor Jankov (Pausado temporariamente)Onde histórias criam vida. Descubra agora