12 de Novembro de 1925

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12 de Novembro de 1925

Marie, seu pai está piorando. Já sinto saudades da sua febre e seus delírios, porque ao menos ali dava sinais de vida e de luta. Sua noite foi silenciosa, com exceção de alguma eventual tosse ou dificuldade para respirar. Ele está fraco demais, e precisa ser movido com urgência. Não sei se aguentará até a noite.

Estou fazendo o que posso Marie, mas não posso garantir que ele aguente até o fim do dia. O jovem Acaua está ao seu lado agora, tentando fazer com que beba um pouco de água. Arrisco a dizer que o jovem o está mantendo nesse mundo por puro esforço.

Ele tem demonstrado interesse no diário. Na escrita, mas principalmente em você Marie. Ele teve um pouco de dificuldade de compreender o que estávamos fazendo, Igor e eu, ao escrever para você. Sem saber se um dia receberá esse diário ou se qualquer um de nós estará vivo quando receber. Aos poucos acho que está compreendendo. 

Estou tentando lhe ensinar algumas palavras escritas, e ele está adorando. É um jovem muito curioso e dedicado. Me pediu para lhe escrever uma mensagem, vou reproduzi-la agora, acrescentando algumas correções pontuais. O menino ainda tem alguma dificuldade com o idioma:

"Marie, seu pai é um homem muito corajoso. Enfrentou aquele demônio que nos machucava e desgraçava há muito tempo. Se o matou ou não, já não importa tanto assim. Ele quebrou a imagem de invencível que tinha com o meu povo. Se não morreu, logo morrerá."

"Ele me contou histórias de heróis corajosos para me inspirar coragem. Mas ele  me inspirou a buscar o meu caminho enfrentando o maior medo que rondava minha família e amigos. O monstro que cuspia dor e sofrimento."

"Ficarei ao seu lado até que melhore. Meu amigo não vai deixar esse plano ainda. Ele prometeu a você que voltaria, e o ajudarei a cumprir essa promessa."

"E ele também me prometeu ver girafas. E essa promessa ele vai manter também. Animais com a cabeça tão próxima do céu podem voar sem sair do chão."


12 de Novembro - Parte II

Marie, o melhor que posso dizer de seu pai é que ainda está vivo. Passamos o restante da tarde fazendo preparativos para movê-lo para a aldeia. Acaua já foi até ela verificar se alguém a estava guardando, mas como esperávamos, não havia ninguém. Padre Harald está morto ou já não controla o povo da aldeia.

Vamos movê-lo está noite usando uma padiola que fizemos com galhos, cipó e o meu casaco. É uma construção bruta e imperfeita, mas deve ser o suficiente. A passagem para a aldeia é tranquila, e não espero nenhum problema. Mas preciso usar a aldeia para transportar Igor para o futuro, e não para 1975, mas bem além. Esse movimento é perigoso, e para viajantes iniciantes já se provou ser fisicamente extenuante. Para alguém no estado de Igor pode ser fatal.

Marie, se eu tivesse qualquer outra alternativa, a seguiria. Infelizmente o estado de Igor não permite outros caminhos a serem seguidos. Vamos rezar para todos os deuses que conhecemos para que tudo corra bem.

Encerro o relato de hoje aqui. 

O Diário de Igor Jankov (Pausado temporariamente)Onde histórias criam vida. Descubra agora