30 de Outubro de 1975

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30 de Outubro de 1975

Estou de volta ao meu próprio tempo, Marie. Vou tirar o dia para repousar e cuidar do meu ferimento, e quem sabe dar uma explorada mais a fundo na aldeia, já que passo pouco tempo acordado por aqui. O ferimento não me parece ser sério demais, e o velho fez um bom trabalho com a bandagem. Está limpo e não foi muito profundo.

Ontem eu matei uma pessoa. Sim, foi em autodefesa e eu estava no meu direito de tirar aquela vida para manter a minha. Mas mesmo assim... Era um ser humano, com família e amigos. Com alegrias e tristezas, medos e incertezas. E eu acabei com tudo isso.

Marie, as pessoas que eles dizem que eu matei... Eu não as matei. Não de forma direta, ou de propósito. O que matou aquelas pessoas foi sim algo de minha autoria, mas não por desejo meu. Marie.  Eles estão mentindo! Queriam me tirar da jogada e me silenciar. Eu deveria ter morrido com os outros. Eu era o alvo!

Estava fazendo perguntas demais, e militares não gostam de perguntas. Muito menos de que você saiba certas respostas. É um assunto complicado e complexo demais Marie. E como eu disse não sou  isento de culpa. Vou parar agora. Eu não... Eu não sei...


30 de Outubro de 1975 – Parte II

Tentei aproveitar bem meu tempo sem me cansar demais. Me sinto um pouco fraco ainda. Minha busca pela aldeia não foi completamente inútil, mas se aproximou disso mais do que eu gostaria.

A única coisa diferente que consegui encontrar foi um caderno na mesma habitação que está o clérigo e o esqueleto crucificado. Foi uma descoberta um tanto agridoce, devo admitir. O caderno, que acredito ser um diário também, está escrito em alemão. Eu acho que é alemão pelo menos, mas não tenho 100% de certeza. Não posso ler nada de útil desse diário, a não ser por algumas datas.

A primeira delas acredito ser a data atual do diário por conter um dia, o mês e o que acredito ser um dia da semana. "Freitag, 14. März 1941". Suponho ser 14 de março de 1941, e talvez um dia da semana.

No decorrer do diário existem mais alguns anos dentro das frases, e  em breve pretendo lista-los e compará-los com os meus. O restante do diário me é inútil, pois não falo uma única palavra do idioma.

Deve ter percebido o ano e o idioma Marie. E sim, também pensei a mesma coisa. Espero que não existam malditos nazistas nessa história...

Boa noite Marie.

O Diário de Igor Jankov (Pausado temporariamente)Onde histórias criam vida. Descubra agora